O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu na sexta-feira (2) que o Brasil siga submisso ao dólar nas relações comerciais.
Em um evento promovido pelo Valor Capital Group, em São Paulo, Campos Neto afirmou ser contrário à posição do presidente Lula (PT) de criar uma moeda comum para reduzir a dependência do Brasil a “moedas extrarregionais” em suas relações comerciais.
“Eu sou muito contra, mas sou só um banqueiro central”, afirmou Campos Neto. Na última terça-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs 10 temas para discussão na reunião de cúpula de presidentes da América do Sul, em Brasília. Entre eles está a criação de uma “unidade de referência comum para o comércio”.
Durante o seu discurso, o chefe do executivo defendeu que a “identidade sul-americana” também deve ser aprofundada “na área monetária”.
“Aprofundar nossa identidade sul-americana também na área monetária, mediante mecanismo de compensação mais eficiente e a criação de uma unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais”, disse Lula.
Ele destacou que nos países da América do Sul “possuímos o maior e mais variado potencial energético do mundo, se levarmos em conta as reservas de petróleo e gás, hidroeletricidade, biocombustíveis, energia nuclear, eólica e solar e o hidrogênio verde. Somos grandes e diversificados provedores de alimentos. Contamos com mais de um 1/3 das reservas de água doce do mundo e uma biodiversidade riquíssima, pouco conhecida”.
Brasil, Argentina, Rússia, Índia, China, África do Sul, entre outros, estão alinhando propostas nos fóruns em que participam para a criação de moedas comuns entre países, com o fim de acabar com a dependência do dólar estadunidense e do euro em suas transações comerciais.
“Acho que com o tempo isso [moeda comum] vai acontecer, e é necessário que aconteça”, declarou Lula, após ter se reunido com o presidente argentino, Alberto Fernández, no início do ano. “Se dependesse de mim, a gente teria comércio exterior sempre nas moedas dos outros países, para que a gente não precise ficar dependendo do dólar. Por que não tentar criar uma moeda comum entre os dois países, com países dos Brics?”, questionou.
No entanto, Campos Neto – submisso que é aos EUA e aos bancos – declarou que o uso de moedas comuns seria uma ideia antiga para tratar de uma questão que não existe mais.
Ele defende a implementação do chamado PIX internacional, sistema Nexus, que está sendo desenvolvido pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), comandado por Agustín Carstens – ex-secretário de finanças do governo liberal de Felipe Calderón, no México.
Campos Neto assumiu a presidência do Conselho Consultivo do BIS no início deste ano, no lugar que era ocupado por John Williams, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
Campos Neto foi membro do conselho administrativo do Santander.