Indústria aponta piora expressiva na condição de crédito bancário e o crescimento da inadimplência das famílias em função dos níveis elevados de juros que têm sido praticados no país
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial aponta que no acumulado do primeiro trimestre de 2023 enquanto os juros dispararam as condições de crédito às empresas e às famílias pioraram. De acordo com a Carta da entidade, divulgada nesta sexta-feira (9/6), no acumulado do primeiro trimestre deste ano, as novas concessões de crédito bancário somaram R$ 1,4 trilhão, “apresentando, em termos reais, expressivo declínio em relação ao último quarto de 2022 e desaceleração na comparação com o mesmo período do ano passado, em função dos níveis elevados de juros que têm sido praticados no país e pela perda de dinamismo do PIB”.
O Iedi ressalta que o “esmorecimento do crédito se concentrou na concessão às empresas”, mas também atingiu as famílias. “Na comparação com o final do ano passado o recuo atingiu -12,6% e em relação ao mesmo período do ano anterior a variação foi de -2,2%. O crédito às famílias também perdeu força frente ao 4º trim/22, mas de modo menos pronunciado (-7,6%), e conseguiu avançar +15,4% frente ao 1º trim/22”.
CÍRCULO VICIOSO: JUROS ALTOS E INADIMPLÊNCIA EM CRESCIMENTO
“A piora das condições de crédito também refletiu o crescimento da inadimplência, que passou de 2,5% no 1º trim/22 para 3,3% no 1º trim/23. No crédito corporativo, subiu de 1,4% para 2,0% no período, puxada pelo segmento livre: 2,4% ante 1,4% no segmento direcionado. Tal movimento esteve concentrado nas operações junto a micro, pequenas e médias empresas, cuja inadimplência chegou a 3,5% no 1º trim/23”, destaca o instituto.
“Para as famílias, a inadimplência não só é maior como continua em elevação. Passou de 3,3% para 4,1% da carteira entre o 1º trim/22 e o 1º trim/23. Juros altos, chegando a 29,6% a.a. na média de jan-mar/23, e inadimplência em crescimento formam um círculo vicioso, já que a renda das famílias fica cada vez mais comprometida com os serviços de suas dívidas”.
Para o Iedi, a situação é “ainda mais grave em um quadro de elevada informalidade no mercado de trabalho (quase 40% da população ocupada), em que os fluxos de rendimento são mais irregulares. Qualquer imprevisto na obtenção de renda leva a atrasos que os juros elevados transformam rapidamente em inadimplência e superendividamento”.
No início deste ano, amortizações e pagamento de juros comprometeram 27,4% da renda das famílias, segundo o Banco Central, “um ponto percentual a mais do que em igual período do ano passado. Desde jul/22 que esta relação se encontra nos patamares mais elevados da série iniciada em mar/05”.
JURO REAL
“A média no 1º trim/23 da taxa real de juros das novas contratações de crédito alcançou 24,7% a.a. ante 13,9% a.a., em igual período de 2022, um aumento amplamente explicado pela forte desaceleração da inflação, de 11,3%, de acordo com o IPCA, no acumulado em doze meses até mar/22 para 4,65% em mar/23”, destaca o Iedi.
“No segmento às empresas, o aumento foi de 7,3% a.a. para 15,5% a.a. nesta mesma comparação, chegando a 18,2% a.a. para as concessões de crédito livre. O crédito corporativo direcionado também seguiu mesma trajetória, com aumento dos juros nominais sobretudo a partir da segunda metade do ano passado. Descontada a inflação (ex post), suas taxas médias chegaram a 7,8% a.a. no 1º trim/23”.