Uma onda recente de difamação reunindo a mídia imperial e políticos direitistas, agora tem como alvo o fundador e integrante da banda Pink Floyd, Roger Waters, com apresentações previstas para outubro e novembro nas cidades de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.
O músico, que tem tido um destacado e corajoso posicionamento contra o fascismo, o nazismo, a ocupação israelense da Palestina, contra o fomento da guerra pela Otan na Ucrânia, denunciado a extradição de Assange, é acusado exatamente de aderir ao oposto do que tem propagado, uma mensagem antifascista e antiimperialista que vertebra de forma clara e objetiva seus shows o que, presumivelmente, tem incomodado tanto.
Como afirma Jonathan White em artigo intitulado Deep Waters (Águas Profundas, em alusão ao nome do músico), publicado por esses dias no jornal Morning Star – Peoples Daily, “nos anos recentes, Waters reemergiu, na visão do público, por seu compromisso político, seu posicionamento e habilidade de comunicar, de forma poderosa e efetiva, o que levou atingir mais pessoas [aqui em São Paulo, onde se apresentará para um público previsto de 55 mil pessoas, o portal de vendas anuncia que os ingressos estão sendo vendidos rapidamente] e forjou uma onda de reação oposta nestes tempos crescentemente polarizados e desesperadores”.
“A oposição atingiu um frenesi nos dias recentes com recurso a fake news e mentiras deslavadas, ao ponto de um funcionário de governo dos EUA o acusar de banalizar o Holocausto e o que se viu foi elementos do Partido Trabalhista correndo em defesa do atual líder Starmer, chegando a tentar banir o seu show na Inglaterra”, acrescenta White.
Aliás, Starmer, que foi criticado por Waters, viajou em fevereiro para dizer pessoalmente a Zelensky que os trabalhistas estariam apoiando o envio de armas ao regime de Kiev, que Waters denuncia como “nazistas no poder”.
Quanto às acusações de apologia de Waters ao fascismo – por usar uma vestimenta similar a uniformes nazistas – são insustentáveis, fruto de má-fé ou, no mínimo, de uma total ignorância do movimento musical dos anos 1960 e 1970 e da essência antifascista presente tanto na obra, quanto nos shows recentes de Waters. Ignora a origem e fundamento do filme The Wall, ao qual Waters alude com sua vestimenta. O filme mostra uma formação familiar opressiva produtora de traumas e frustrações que acabam contribuindo para que o personagem Pink se torne um fascista. A vestimenta que Roger Waters usa em algumas de suas apresentações remete a este personagem.
Como diz o admirador de Rock Progressivo, Ricardo S. Oliveira, que vê uma abordagem psicanálitica nesta obra de Waters, com base no filme The Wall: “Quanto à crítica ao uniforme, só serve para mostrar que a Opera Rock, tem 45 anos e ninguém mais ouve ou entende Rock Progressivo”.
“As cenas e falas da ópera rock mostram que o fascista que gosta de ordem, uniformes e ser mandado, é um frustrado que não tem ‘poder’ sozinho e se refugia na violência dirigida da massa para se sentir potente e forte, manual que o último governo utilizou nestes 4 anos de mandato”, acrescenta Ricardo.
Vale aqui ressaltar que Waters acabou sendo vítima direta do nazifascismo uma vez que não chegou a conhecer seu pai, que faleceu em combate contra seus regimes na Itália, na batalha de Anzio, em 1944, cinco meses após seu nascimento.
Ao cantar, junto com um coro de jovens, a música do filme, Another Brick in the Wall (Outro tijolo no muro), um dos clássicos da banda, em seu show em São Paulo, em 2018, fez se sucederem no telão chamados à resistência: “Resistam às Oligarquias”, “Resistam aos lucros com a guerra” e, finalmente, “Resistam ao Neofascismo”.
Agora, em Frankfurt, o show de Rogers faz alusão a mais famosa das vítimas do nazismo, Anne Frank, cujo nome surge em um letreiro seguido dos dizeres, “Crime: ser judia”; letreiro que é seguido de outro com o nome da jornalista Shireen Abu Akle, vítima das forças de ocupação israelenses, seguido dos dizeres “Crime: ser palestina”.
O que isso tem a ver com antissemitismo, do qual é acusado? Nada, evidentemente nada.
Trata-se de uma alusão a regimes totalitários que se caracterizam por oprimir outros povos. Relembrar o Holocausto ou denunciar práticas a ele similares, nunca implicou em sua banalização, ao contrário, é alerta para que a Humanidade se livre destes flagelos, tanto os de antes, quanto os de agora. Trata-se de uma forte crítica à ocupação do regime de Israel aos territórios palestinos.
Roger Waters está certo em denunciar esta barbárie. Foi o que deixou claro no Canadá, em Vancouver, em novembro de 2017: “A verdade é que aquilo que está acontecendo nos territórios ocupados se chama limpeza étnica. É isso que está ocorrendo e o regime lá imposto é chamado de apartheid”.
“O fato”, conclui White, que fez questão de assisti-lo, é que o local do show, na Inglaterra, “ficou lotado à máxima capacidade e culminou com uma demorada ovação com o público de pé”.
“Talvez Waters não colocaria as coisas dessa forma, mas seu show tem conteúdo ideológico e pareceu a este expectador encarnar o tipo de política adotada pela Frente Popular com a qual seus pais eram familiares. É antifascista, antiimperialista, antiguerra, enfatizando os interesses dos povos contra a máquina crescentemente autoritária de Estados que trabalham para corporações fomentadas por governos cada vez mais fascistas”, conclui White.