Ao voltar a funcionar após seis anos, o Conselho de Ética do Senado aceitou representações contra mais quatro senadores
O Conselho de Ética do Senado Federal abriu um processo disciplinar contra Chico Rodrigues (PSB-RR), ex-vice-líder do governo Bolsonaro, para apurar o caso em que ele foi flagrado escondendo dinheiro nas nádegas durante operação da Polícia Federal sobre desvio de recursos públicos.
Os processos abertos nesta quarta-feira (14) são os primeiros após quase seis anos sem atividades do Conselho de Ética.
O processo contra Chico decorre de uma representação feita pelos partidos Rede Sustentabilidade e Cidadania, que apontam crimes cometidos pelo senador Chico Rodrigues.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi sorteado relator do processo. A decisão do Conselho de Ética pode levar à cassação do mandato.
Em outubro de 2020, Rodrigues era vice-líder do governo Bolsonaro e membro de uma comissão que discutia e fiscalizava a destinação de verbas para o combate à Covid-19.
A Polícia Federal encontrou indícios de que ele estava desviando dinheiro público e realizou uma operação de busca e apreensão em seus endereços. Enquanto os agentes estavam na sua casa, Chico Rodrigues tentou esconder R$ 30 mil em suas nádegas, mas a ocultação não deu certo.
De acordo com a PF, o senador cometeu os crimes de peculato, advocacia administrativa, embaraço às investigações e lavagem de dinheiro.
Ele era o braço, no Congresso Nacional, de um grupo que fraudou contratos em Roraima para a entrega de testes rápidos para Covid-19.
Como sublinharam a Rede e o Cidadania, “há fortes indícios (…) de participação do Senador Chico Rodrigues, ao menos, nas supostas fraudes relacionadas à aquisição de kits de teste rápido para detecção de Covid-19”.
“Fica claro que o senador estava no exercício pleno das suas funções perante o Senado Federal quando da alegada prática de delito” e que Chico Rodrigues usou de sua posição para “obter vantagem indevida”.
Depois de ser flagrado com dinheiro nas nádegas, Chico Rodrigues pediu afastamento do cargo por 121 dias.
O senador é próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que já falou que eles viviam em “união estável”.
Chico Rodrigues já empregou em seu gabinete o sobrinho de Jair e amigo inseparável de Carlos Bolsonaro, o Léo Índio. Léo participou dos ataques golpistas do dia 8 de janeiro.
MAIS PROCESSOS
Além de Chico Rodrigues, o Conselho de Ética também abriu processos contra os senadores Styvenson Valentim (Podemos-RN), Jorge Kajuru (PSB-GO), Cid Gomes (PDT-CE) e Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP).
No caso de Randolfe Rodrigues, a denúncia foi feita pelo ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado pelos ataques à democracia.
O golpista Daniel Silveira acusou Randolfe de atentar contra a “instituição Presidência da República e diretamente ao Estado Democrático e de Direito” ao chamar Jair Bolsonaro de “ladrão de vacina” e de “dinheiro do povo”.
A representação contra Jorge Kajuru foi feita por Flávio Bolsonaro, por ter divulgado, em 2021, uma gravação que fez de uma conversa com Jair Bolsonaro. Na época, Jair estava tentando mobilizar parlamentares contra a CPI da Pandemia, que investigou os crimes de seu governo no combate à Covid-19.
O processo administrativo contra Cid Gomes é movido pelo atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que se sentiu ofendido por declarações do senador que o acusou de chantagear o governo e outros parlamentares.