O ataque com gás lacrimogêneo feito pela Polícia à líder oposicionista Luisa González, quando tentava ingressar junto com apoiadores na sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador, em Quito, para formalizar sua candidatura à Presidência, nesta terça-feira (13), foi prontamente rechaçado pelas forças democráticas do país.
“Imediatamente o CNE deu toda a atenção necessária e os primeiros socorros. Esperamos que estes acontecimentos que mancham uma festa democrática não voltem a ocorrer”, declarou a presidente do Conselho Eleitoral, Diana Atamaint, em coletiva à imprensa.
Ao lado de Luisa González e Andrés Arauz, candidatos do movimento Revolução Cidadã (RC) à presidência e à vice, Diana reiterou que lamentava “uma vez mais tais acontecimentos” e que as eleições do próximo 20 de agosto – que incluem as 137 vagas da Assembleia Nacional – serão realizadas com respeito e vigilância.
“Eles jogaram gás em nossos rostos, como podem ver. Meu rosto está vermelho, queimado pelo gás que foi jogado em nossos olhos, em nossos rostos”, afirmou González, ressaltando que a pele não dói “porque a vestimos de convicção e pátria”. “Hoje viemos aqui inscrever a voz dos sem voz, a voz de quem, apesar de falar, nunca foi ouvido”, acrescentou.
A presidente da Confederação de Organizações Sindicais Livres do Equador (Ceosl) e dirigente da Federação Unitária dos Trabalhadores (FUT), Marcela Arellano Villa, considerou “deplorável a postura da Polícia Nacional que, sob as ordens do presidente Guillermo Lasso, agrediu a candidata e seus acompanhantes”. “O ambiente festivo e de efervescência da inscrição”, analisou, “foi comprometido pelo comportamento de policiais altamente corrompidos, que levaram até o CNE o atual clima de perseguição e criminalização dos movimentos populares, das lideranças sociais e políticas”.
Infelizmente, assinalou Marcela Arellano, o que vigora no país é a “prática da repressão neoliberal”, acobertada por amplos setores da mídia, que calaram a respeito do ocorrido. “Isso favorece o recente decreto de Lasso que, sob a alegação de combater o crime, dá carta branca para os policiais matarem e é altamente questionável por expor inocentes e aumentar a criminalização e a violência”, ponderou.
Ex-candidato a presidente em 2021 e ex-ministro de Rafael Correa, Andrés Arauz defendeu que “a festa democrática se faça em paz, com regras do jogo claras, sem que comecemos esta luta com ataques contra nós”. O economista disse esperar que as autoridades se corrijam e que os “responsáveis por este ato irresponsável que manchou a inauguração dessa jornada sejam rapidamente encontrados”.
Expressando sua solidariedade diante do “infeliz ataque sofrido” por Luisa, Arauz frisou que, a partir de agora, a Revolução Cidadã oferecerá ao Equador “mais democracia e mais oportunidades” para o povo.
Para a presidenta da RC e prefeita de Guayas, Marcela Aguiñaga, é inadmissível o covarde ato praticado por integrantes da Polícia Nacional “que jogaram gás lacrimogêneo direto nos olhos”. “Queremos uma democracia com boas condições, com jogadores prontos e cumprindo todas as regras, mas também com um árbitro imparcial”, asseverou Aguiñaga, recordando que os policiais também precisarão agir para garantir a segurança “de todos e cada um dos nossos candidatos”. “Eles não vão nos parar, somos mais fortes do que se pensa. Mas aqui estamos, combativos, fortes, com energia. Com Andrés, com Luisa já se recuperando”, sublinhou.
No final do dia a Polícia reconheceu que “foi utilizado de forma progressiva e indireta um agente químico (spray não letal), de forma a proteger a segurança e a ordem pública”, “para garantir a entrada ordenada e evitar maiores danos”, “devido à comoção e ao comportamento negativo de um conglomerado com uma atitude hostil”.
É a mesma Polícia de um governo que após 18 dias de um levante popular dirigido pela Confederação Nacional das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), em junho do ano passado, cometeu “crimes contra a humanidade”, asseguram observadores internacionais e organizações de direitos humanos. Uma repressão que deixou mortos, feridos, detenções arbitrárias, “tormentos, tratamentos cruéis e degradantes”.
As eleições serão realizadas como um mandato tampão para completar o período 2021-2025, interrompido pela “morte cruzada” decretada em maio pelo presidente. A opção “nada mais é do que um decreto de fuga, uma forma que Lasso encontrou de se evadir do julgamento político, pois seria destituído”, denunciou Arauz, já que ao mesmo tempo lhe garante mais alguns meses no poder, uma vez que o parlamento aprovaria sua destituição.
Caso haja necessidade de um segundo turno presidencial, será realizado em 14 de outubro entre os dois candidatos mais votados.
LEONARDO WEXELL SEVERO