Enquanto tanques Bradley e Leopard ardem na tentativa frustrada até aqui de contra-ataque por parte do regime de Kiev, CNN, AFP e Wall Street Journal admitem a “dura resistência” dos russos à contraofensiva da Ucrânia, enquanto portal Politico assevera que a Casa Branca “observa ansiosamente, vendo a guerra e a reputação de Biden em jogo”
Os videos de colunas de blindados ardendo – Leopardos e Bradleys, fornecidos respectivamente pela Alemanha e pelos EUA – nos primeiros dias da assim chamada “contraofensiva ucraniana”, sem sequer chegar perto das linhas defensivas russas, sob demolidor fogo de artilharia, aviação, mísseis e drones russos, balança a delirante narrativa das proezas atribuídas ao regime de Kiev, com a CNN admitindo uma “dura resistência” dos russos – “maior do que a esperada”, segundo o Wall Street Journal -, enquanto o portal Politico, punha os pingos nos iis: “A Casa Branca observa ansiosamente a contraofensiva da Ucrânia, vendo a guerra e a reputação de Biden em jogo”.
“Eles estavam apenas esperando por nós … as posições foram preparadas em todos os lugares. Era uma parede de aço. Foi terrível”, disse um soldado ucraniano de 28 anos, relatando ao WSJ como “um dos Leopards foi atingido e posto fora de combate”.
“Assim que o regimento cruzou a estrada além da Malaya Tokmachka, os russos começaram a atirar neles de Grads. ‘Os campos estavam minados. Helicópteros e caças russos sobrevoavam’, disse o combatente”.
Sobre os Leopards, outro soldado, identificado apenas como “Finn”, que está lutando em Velyka Novoselka, disse ao WSJ: “Eles foram feitos para combate urbano e no deserto. Na nossa realidade, eles podem passar, mas é uma luta”.
O plano – que não saiu do papel – “era avançar para o sul em direção à cidade ocupada pelos russos de Tokmok… as outras duas unidades também avançariam em direção a Tokmok de diferentes direções”, relatou outro soldado ucraniano.
“Havia mais deles do que esperávamos”, disse ao WSJ um líder de pelotão de 35 anos da 21ª Brigada Mecanizada da Ucrânia, que participou do ataque perto de Orekhovo, no sul do Oblast (espécie de Estado) Zaporizhia . Os sucessos perto de Orekhov “acabaram sendo menos do que o esperado”. Os primeiros ataques ucranianos falharam quando uma coluna blindada entrou em um campo minado e foi atingida por um tiro de retorno.
6 BRADLEYS PERDIDOS DE 9 LANÇADOS EM ATAQUE , DIZ AFP
Sobre esses ataques, a France Presse registrou que uma unidade mecanizada das Forças Armadas da Ucrânia que participou dos recentes ataques perto de Orekhov, “perdeu seis de seus nove veículos de combate de infantaria americanos do tipo Bradley”. Apenas um foi capaz “de evitar qualquer dano”. Dois foram danificados, mas “poderiam ser reparados” e devolvidos ao serviço.
Respondendo a uma pergunta da AFP sobre os resultados da ofensiva neste setor da frente, um dos militares ucranianos apontou “zero” em vez de responder com os dedos.
Por sua vez, a CNN teve de reconhecer que a Ucrânia se deparou com uma “resistência dura” e sofreu “perdas na tentativa de romper as linhas russas”, avaliação que atribuiu a “oficiais dos EUA”.
“Forças ucranianas sofreram perdas em equipamento pesado e soldados conforme eles se defrontaram com uma resistência maior do que a esperada das forças russas em sua primeira tentativa de romper as linhas russas no leste do país nos dias recentes, dois oficiais seniores dos EUA disseram a CNN”.
Ainda: “Um dos oficiais dos EUA descreveu as perdas- que incluem veículos blindados de transporte de pessoal fornecidos pelos EUA – como ‘significativas’”.
Como registrou o ex-analista da CIA, Larry Johnson: “A ofensiva ucraniana está entrando em seu oitavo dia [12 de junho] e as únicas coisas que Zelensky e seus generais têm para mostrar são pilhas de corpos e tanques e blindados fumegantes”.
CNN EMBUTIDA NA ‘CONTRAOFENSIVA‘
Na quarta-feira (14), depois do susto, a CNN estava de volta à narrativa habitual, com um repórter embutido na contraofensiva, a quem um tenente-coronel ucraniano asseverou que “acreditamos na vitória, estamos caminhando para o nosso objetivo, estamos avançando”.
“Sob céu claro e ensolarado, um soldado ucraniano acelera por uma estrada longa e reta em direção a posições avançadas próximas à linha de frente”, romantiza o escriba da CNN. E continua: “‘Temos que ir rápido’, diz o soldado, a urgência sublinhada pelo baque quase constante dos bombardeios e pela ameaça de drones russos retransmitindo as coordenadas do veículo para as posições de artilharia inimiga”.
“Essa é a vida cotidiana na cidade de Velyka Novosilka, na linha de frente, no sudeste da Ucrânia. A CNN teve acesso sem precedentes à área secreta, onde a Ucrânia vem preparando parte das fases iniciais de sua contraofensiva”.
Acrescenta que ao “sul”, as investidas e sondagens ucranianas produziram “algum sucesso”, com a libertação de três aldeias, segundo uma médica de combate identificada como “Winnie”.
Quando a CNN visitou Velyka Novosilka, a situação permanecia “muito instável”. “Nosso pessoal está tentando tirá-los de lá e eles estão tentando se firmar lá”, explica Winnie. “Houve bombardeios e um cara ficou gravemente ferido, então o tiramos de lá com vida e nosso médico prestou assistência qualificada”.
Já o vice-comandante da 68ª Brigada, tenente-coronel Vasyl Matyie, recitou o enredo certinho: “A situação na frente agora está estável. Continuamos a cada dia melhorando os resultados. Não apenas nossa divisão, mas também outras adjacentes nessa direção.”
Para compensar, um pingo de realidade. “Infelizmente, [os russos] sabem recuar e, infelizmente, também sabem atacar”, diz outro militar à CNN. “A artilharia deles causa mais baixas em nós e nos impede de avançar ainda mais”.
“Outro grande fator foi o poder aéreo superior da Rússia”, admite adiante a CNN. “Essa superioridade ficou em plena exibição durante a visita da equipe da CNN, quando as forças ucranianas sofreram repetidos ataques de caças russos Su-25 de ataque ao solo. Os jatos lançaram bombas de 227 quilos, obrigando-nos a nos abrigar”.
REPUTAÇÃO NA RETA
De volta ao alarme soado por Político: “Altos funcionários dos EUA estão convencidos de que o apoio futuro à guerra na Ucrânia – e a reputação global do presidente Joe Biden – depende do sucesso da contraofensiva da Ucrânia”.
Acrescenta o portal norte-americano: “Tenha sucesso e a ajuda militar e econômica ocidental fluirá. Tropece ou falhe em atender às expectativas, e esse apoio provavelmente secará, provocando apelos intensos por uma resolução diplomática acelerada e dificultando uma das conquistas internacionais da Casa Branca”.
O boletim dos Rothschilds, The Economist, concorda com as preocupações de Politico: “As próximas semanas determinarão o futuro não apenas da Ucrânia, mas de todo o sistema de segurança na Europa. Chegou o momento de tomar uma decisão.”
Por sua vez, o chefe de cerimonial da Otan, o secretário-geral, Jens Stoltenberg, confirmou as perdas de equipamentos ocidentais pelas forças ucranianas e indicou que a aliança está aguardando informações sobre o assunto do ministro da Defesa ucraniano, Alexei Reznikov, neste 15 de junho.
“Receberemos um relatório de Reznikov e dos generais que comparecerão à reunião. […] Espero obter uma imagem mais clara da situação no campo de batalha juntos à mesa.” “Quando uma ofensiva tão grande começar […] haverá obviamente baixas. Isso também se aplica ao equipamento militar da Otan.”
Em paralelo, Reznikov recentemente fez uma declaração repentina e incomum de que a Ucrânia estaria aberta a negociações com a Rússia, se a Rússia apenas mudasse alguns de seus objetivos da SMO.
Para o ex-comandante das forças da Otan na Europa, Ben Hodges, a tarefa de Kiev é “confundir os russos sobre onde ocorrerá o ataque principal”. Em sua opinião, tal golpe ainda não foi desferido. “Quando chegar o impulso principal da ofensiva ucraniana, provavelmente envolverá formações com várias centenas de tanques e veículos de combate de infantaria”, ele acredita.
FALA O CORRESPONDENTE KOTS
Esses primeiros dias da “contraofensiva” ucraniana também foram comentados pelo respeitado correspondente de guerra russo Aleksander Kots, aliás, de uma forma serena. “A ‘blitzkrieg’ obviamente não deu certo. Como Budanov [chefe da inteligência militar ucraniana] disse lá, tudo será rápido e inevitável. Mas algo deu errado. Não funcionou rapidamente”.
“O inimigo esperava, com ataques de precisão, destruir nossa logística e quartel-general, e que então, ao avistar os primeiros Leopards, correríamos de cabeça baixa”.
“Mas não perdemos o controle das tropas – tudo está em seu lugar. Também não há desorganização dentro das unidades – estamos dando um rechaço poderoso. Apesar do fato de Kiev lançar suas reservas treinadas para a batalha, incluindo uma das melhores brigadas – a 47ª, o mesmo punho de choque que foi treinado especificamente para esta missão”.
“Mas os nossos responderam adequadamente à primeira onda da ofensiva. Infligiram uma derrota de fogo em larga escala em formações inimigas selecionadas. Tanto a minagem dos campos quanto a defesa em profundidade funcionaram. Sim, é difícil, mas hoje em dia nosso exército mostra como lutar pela nossa terra, por cada pedaço dela. Como há 80 anos. Bonito!”
Por sua vez, o canal ucraniano do Telegram, “Rezident”, admitiu que, de acordo com suas fontes, nos três dias prévios as forças ucranianas perderam mais de 150 unidades de equipamento pesado, incluindo 12 tanques alemães Leopard e 15 blindados norte-americanos Bradley.
“TANQUES BRADLEY E LEOPARD ARDEM LINDAMENTE”
Quanto à avaliação da liderança russa sobre a situação na frente, além dos informes diários do porta-voz da Defesa, general Igor Konashenkov, e do próprio ministro Sergei Shoigu, na terça-feira o presidente Vladimir Putin se reuniu com correspondentes de guerra e blogueiros russos, com quem discutiu a questão. Antes, ele já assinalara que “com certeza que a contraofensiva já começou, e isso é evidenciado pelo uso de reservas estratégicas”, mas as tropas ucranianas “não tinham cumprido” as tarefas que lhes foram atribuídas “em nenhuma das áreas de operações de combate”. Isso é algo absolutamente óbvio, acrescentou.
“Ao longo destes dias, assistimos a perdas significativas de tropas do regime ucraniano. Sabe-se que durante as operações ofensivas as perdas são de cerca de três para um, isso é um clássico, mas neste caso supera significativamente esse indicador clássico. São números impressionantes”.
Quanto a se a contra-ofensiva foi afogada ou não, “pode-se afirmar que todas as tentativas de contra-ofensiva feitas até agora falharam”. “Mas o potencial ofensivo das tropas do regime de Kiev ainda está preservado. Parto do fato de que a liderança militar russa realmente avalia a situação atual e partirá dessas realidades, construindo nossas ações para o futuro próximo”.
Putin explicou a desmilitarização do regime de Kiev está progredindo com sucesso e continuamente e que a Rússia destruiu até 30% de todas as entregas de armas ocidentais apenas nos últimos dias, desde o início da ofensiva de Kiev.
“Os tanques Bradley e Leopard queimam lindamente, como suspeitávamos”, disse Putin. A campanha de Kiev agora vive quase exclusivamente de suprimentos de armas do Ocidente, enquanto seu próprio complexo militar-industrial logo não existirá mais como resultado dos sistemáticos ataques russos. Em algum momento, isso também será entendido no Ocidente, que não pode arcar com o fluxo constante de armas para Kiev para sempre.