O valor das negociações pode passar dos R$ 100 milhões. No pátio da Polícia Rodoviária Federal no Rio de Janeiro, os procuradores se depararam com nove veículos que nunca foram utilizados. PRF nunca precisou de blindados, pois sua atribuição é outra
O Ministério Público Federal (MPF) está investigando se a compra de “caveirões”, veículos blindados para operações especiais, pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2018 e em 2021, foi parte de um esquema de corrupção do governo Bolsonaro, envolvendo o diretor da PRF, Silvinei Vasques, e o então ministro da Justiça, Anderson Torres.
O valor das negociações pode passar dos R$ 100 milhões.
Pelo que consta nos processos de licitação, foram 69 unidades: 12 caveirões e 51 chamados de “caveirinhas”.
Em uma fiscalização, procuradores do MPF encontraram blindados que chegam a custar R$ 1 milhão. No pátio da Polícia Rodoviária Federal no Rio de Janeiro, os procuradores se depararam com nove veículos que nunca foram utilizados dos 29 que foram enviados.
Cinco deles eram os “caveirões”, que são feitos para operações especiais. A PRF, no entanto, tem como função constitucional fiscalizar as rodovias federais.
O procurador Eduardo Benones, que participou da vistoria, afirmou que “já não pareceria de muito bom senso a PRF municiada com tantos blindados, os chamados caveirões. A gente achou um arsenal condizente com uma unidade militar das Forças Armadas”.
A PRF “não necessita” desses equipamentos, assinalou. Até 2018, a PRF não tinha “caveirões” em sua frota.
De acordo com o MPF, a Polícia Rodoviária Federal disse que os veículos estavam largados no estacionamento por “problemas técnicos e operacionais quanto aos referidos veículos blindados, entre eles suposta inadequação entre o chassi e a carroceria relativa à tara”.
As compras foram feitas com a empresa Combat Armor, que fica nos Estados Unidos. Seu dono, Daniel Beck, é apoiador do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e participou do ataque ao Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2021
Em 2018, quando a primeira compra foi feita, Silvinei Vasques era o superintendente da PRF no Rio de Janeiro e foi o responsável pela aquisição.
Em 2021, Jair Bolsonaro o indicou para ser diretor-geral da PRF. Vasques foi afastado do cargo por ter feito campanha eleitoral para Bolsonaro, em 2022, e ter descumprido ordens para a liberação de estradas, quando bolsonaristas queriam travá-las para promover um golpe de Estado.
O Ministério Público pediu que lhe fosse fornecida “toda a documentação referente à licitação dos blindados ocorrida em 2018 e 2021”.
As compras foram feitas com a empresa Combat Armor, que fica nos Estados Unidos. Seu dono, Daniel Beck, é apoiador do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e participou do ataque golpista ao Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2021.
O MPF pediu à Combat Armor “que informe se o cidadão Silvinei Vasques, policial rodoviário federal, mantém ou manteve qualquer tipo de relação jurídica ou de fato com aquela sociedade empresária”.
Em maio de 2022, a Polícia Rodoviária Federal participou, com agentes e com blindados, da Chacina da Vila Cruzeiro. Ao final da operação, 25 pessoas foram mortas.