O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a mentir sobre as vacinas contra Covid-19 e disse, durante evento do PL, que os imunizantes têm dióxido de grafeno em sua composição, que se acumularia no testículo ou no ovário das pessoas.
A fala se deu durante um evento de filiação do PL na cidade de Jundiaí (SP) e a cinco dias de ser julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ter espalhado fake news sobre as urnas eletrônicas a representantes de embaixadas.
Flagrado na mentira e acossado pela repercussão negativa, Bolsonaro disse neste domingo (18), em uma rede social, que “houve um equívoco” da parte dele e que “mais uma vez” lamenta “o falado e peço desculpas”. E ainda alegou que é “entusiasta do potencial de emprego do óxido de grafeno”.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já informou que isso é mentira e que nenhuma vacina utiliza grafeno.
“Agora vocês vão cair para trás. A vacina de RNA tem dióxido de grafeno, tá. Onde ele se acumula, segundo a Pfizer, que eu fui lá ver aquele trem? No testículo e no ovário. Eu li a bula”, falou o ex-presidente, sem provas nenhuma do que disse.
Jair Bolsonaro está apenas requentando uma fake news que circula nos grupos negacionistas e bolsonaristas desde 2021. A mentira se espalhou a partir de vídeos e manchetes falsas que foram espalhadas nos grupos de Whatsapp e Telegram.
Diversos médicos e cientistas que mantêm canais de YouTube gravaram vídeos, entre 2021 e 2022, respondendo negativamente sobre a presença de grafeno nas vacinas, uma vez que os usuários impactados pela fake news estavam assustados.
Ou seja, Bolsonaro já sabia disso e insistiu na farsa.
Meiruze Freitas, diretora da Anvisa, afirmou ao Estadão que “nenhuma vacina aprovada no Brasil possui grafeno”.
“Não podemos esquecer que o vírus da covid-19 ainda circula e afeta brasileiros. É muito importante que todos combatam os boatos e desinformações sobre as vacinas que têm se espalhado pelas redes sociais. Todas as vacinas salvam vidas”.
Os vídeos que circulam nos canais negacionistas dizem que as pessoas vacinadas se tornavam “magnéticas” por conta da presença do grafeno ou outras partículas nos imunizantes.
O virologista Flávio da Fonseca, do Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que as vacinas, para serem aprovadas no Brasil, passam por testes que identificariam a presença de grafeno em sua composição, caso isso fosse verdade.
“Certamente o grafeno não é aturado em nenhuma quantidade e nesse tipo de documentação que o fabricante envia para mostrar quais os contaminantes da vacina, ele tem de mostrar todos os elementos que estão presentes numa formulação e não deveriam estar ali e são considerados contaminantes”, disse.
“Esses exames são feitos de forma independente, não só pelo fabricante. E certamente se houvesse uma contaminação por um elemento tão importante quanto o grafeno, que é um elemento estranho a uma formulação vacinal, ela estaria sendo detectada”, acrescentou.
Segundo ele, a fake news espalhada por Bolsonaro é “uma falácia, uma divulgação falsa, baseada em princípios que não são científicos”.
O ex-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, disse em 2021 que a fala de Jair Bolsonaro “é totalmente falsa”.
As vacinas “não contêm grafeno. Não existe em nenhuma das vacinas que temos liberadas no Brasil o grafeno e isso é uma informação falsa”.
Jair não explicou como foi que esse “equívoco” aconteceu. Afinal, ele não tinha lido a bula das vacinas?
Enquanto ocupava a Presidência, Jair Bolsonaro divulgou dezenas de fake news sobre as vacinas, mas nunca pediu desculpas por isso.
Até hoje ele não se vacinou, apesar de ter fraudado seu cartão de vacinação para poder entrar e sair de outros países.
Bolsonaro chegou a dizer que as pessoas que se vacinassem poderiam “virar jacaré”. Ao invés de proteger a população, ele estava em uma cruzada a favor do vírus.
Durante transmissão ao vivo feita em 2021, Bolsonaro falou que as vacinas estavam associadas a casos de Aids, o que também é mentira.
A Polícia Federal afirmou que Jair Bolsonaro cometeu o crime de “incitação ao crime” e contravenção penal por “provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente”.
As mentiras de Bolsonaro podem lhe render uma condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julgará o caso em que ele usou fake news para atacar as urnas eletrônicas em uma reunião com embaixadores estrangeiros, em 2022.
A Corte marcou para o dia 22 de junho o julgamento sobre o caso, que pode torná-lo inelegível. O Ministério Público Eleitoral (MPE) já se manifestou a favor da condenação do ex-presidente.