Líder do PCdoB na Câmara mostrou que foram “2.185 fiscalizações no Nordeste comparativamente a 571 no Sudeste, no segundo turno das eleições, com 48 ônibus retidos no Nordeste e 9 apenas no Sudeste, mostram objetivamente um foco onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva tinha tido mais votos”
Ao fazer as inquirições ao ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Silvinei Vasques, na primeira oitiva realizada pela CPI do Golpe, nesta terça-feira (20), a líder do PCdoB na Câmara Federal, deputada Jandira Feghali (RJ), confrontou o depoente com dados objetivos relativos às ações da PRF que pretendiam impedir eleitores do então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de votarem.
“Ao ser questionado nas ações do segundo turno, particularmente, em uma operação objetivamente direcionada à abstenção do voto no Nordeste”, disse a deputada.
Fiz questão de desmontar, uma a uma, as contradições de Silvinei Marques na CPMI de 8 de Janeiro.
❌ NÃO É VERDADE que ele se apresentou espontaneamente ao TSE no dia 30 de outubro: SIlvinei foi INTIMADO pelo ministro Alexandre de Moraes!
❌ NÃO É VERDADE que o maior efetivo da… pic.twitter.com/fArPLFH5oj— Jandira Feghali 🇧🇷🚩 (@jandira_feghali) June 20, 2023
“Isso ficou muito claro, porque 2.185 fiscalizações no Nordeste comparativamente a 571 no Sudeste, no segundo turno das eleições, com 48 ônibus retidos no Nordeste e 9 apenas no Sudeste, mostram objetivamente um foco onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva tinha tido mais votos”, ponderou Jandira.
“E, quando o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, decide, provocado pelo então deputado Paulo Teixeira (PT-SP) — e estão aqui as duas representações do deputado Paulo Teixeira —, proibir as operações da Polícia Rodoviária Federal, v. exa. decidiu não cumprir”, confrontou.
“Inclusive, encaminhando um ofício que eu tenho em mãos aqui aos superintendentes [da PRF nos Estados], reinterpretando a decisão do ministro Alexandre de Moraes e mandando manter as ações, ou seja, o senhor oficia superintendências mandando manter as ações”, mostrou.
“O ministro Alexandre o intima no Tribunal Superior Eleitoral. V. exa. não foi lá espontaneamente, como aqui disse respondendo à relatora. E, ao intimá-lo — e v. exa. foi lá armado, com a sua entourage armada —, o ministro Alexandre inclusive disse: “Ou faz ou v. exa. pode ser preso”. E aí, então, v. exa. não consegue a abstenção almejada”.
OBRIGADO A CUMPRIR DECISÃO DO TSE
A deputada Jandira Feghali provou que Silvinei compareceu obrigado à reunião com o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes. E, também, que cumpriu a decisão da Justiça Eleitoral, porque do contrário receberia voz de prisão.
“O senhor pode ou não negar. Eu estou colocando a questão pro senhor confirmar ou negar. Eu estou afirmando, mas pode ir em forma de pergunta também. Então, v. exa. não foi espontaneamente. V. exa. foi intimado ao Tribunal Superior Eleitoral. O senhor pode confirmar ou negar. Essa pode ir em forma de pergunta”, disse a líder do PCdoB na CPI.
“Essa questão é muito grave, ela é muito séria, porque é um comportamento do diretor de uma estrutura de Estado que se comporta diante do Tribunal Superior Eleitoral, onde no Código Eleitoral é impedido que qualquer pessoa deixe de votar”, afirmou sobre a ação ilegal da PRF.
“E a abstenção não se faz apenas porque eu fiscalizei na rua; muita gente não sai nem de casa quando observa que há uma concentração policial na sua região”, ponderou.
“Ela nem vai, porque o carro está irregular ou porque está sem um retrovisor ou sem um para-choque ou sem um documento; então ela nem vai. Então, muitas vezes, a abstenção se dá porque a pessoa sequer sai de casa. Mas a operação não deu certo, porque, de fato, a abstenção não cresceu, porque o número de pessoas querendo votar foi maior do que em outras eleições. Então, a abstenção não cresceu.”
DIFICULTAR VOTAÇÃO NO NORDESTE
“O que nos parece — é isto que nós estamos investigando aqui — é que houve uma ação deliberada a partir da sua gestão, seja na reunião do dia 19, onde a orientação foi explícita — e há testemunhas dizendo isso —, sob sua orientação de que devia atuar para dificultar a votação no Nordeste para eleger o então candidato Jair Bolsonaro.”
“Isso foi dito na reunião, a partir de testemunhas, sob sua orientação”, disse a deputada.
Operações da PRF, em 30 de outubro de 2022, dia do segundo turno das eleições presidenciais, foram acertadas durante reunião entre a cúpula da corporação, convocada às pressas entre a primeira e a segunda rodada de votação, pelo então diretor-geral, o bolsonarista Silvinei Vasques.
A realização da reunião foi confirmada pela coluna da jornalista Malu Gaspar, de O Globo, após pedido via LAI (Lei de Acesso à Informação). Segundo documento obtido pelo jornal, 44 dos 49 integrantes do Conselho Superior da PRF, composto por diretores e superintendentes, participaram do encontro, realizado em Brasília, dia 19 de outubro.
Na reunião, ficou definido que agentes dificultariam o tráfego em regiões com altos índices de votação do candidato que viria a ser eleito, Lula, o que foi percebido e denunciado por líderes políticos e outros cidadãos desde as primeiras horas daquele dia do segundo turno eleitoral.
DADO NÃO CORRESPONDE
“O senhor diz assim: o maior efetivo da Polícia Rodoviária Federal está no Nordeste. Eu pedi esses dados à Polícia Rodoviária Federal. Não é verdade, Dr. Silvinei. O seu maior efetivo está no Sudeste”, confrontou.
“Eu peguei o quadro aqui, eu mesma somei aqui. Seu efetivo está maior no Sudeste, não está no Nordeste. Isso não é verdade. O quadro está aqui, eu posso lhe repassar. O seu efetivo, somando os 4 Estados do Sudeste, é maior do que o dos 9 Estados no Nordeste. Portanto, os seus dados não são verdadeiros, colocados aqui nesta CPMI. Mais uma vez, o senhor dá um dado errado à CPMI. Eu mesma somei aqui — peguei aqui a máquina de calcular — dado, Estado por Estado, e o seu efetivo no Sudeste é maior do que o seu efetivo no Nordeste”, mostrou Jandira.
“E nós ficamos aqui com estradas bloqueadas não foi um dia, não foram dois dias, não foram três dias. Nós ficamos com estradas bloqueadas quase 20 dias depois da eleição. Por que é mesmo que, com todos os blindados, com todo o efetivo, com todas as ações, a gente não conseguiu desbloquear as estradas após eleição? Por que essa ação não foi tão efetiva? — como o senhor aqui disse. Era só porque não podia um policial ou dois enfrentarem as dificuldades?”, novamente Jandira mostrou as contradições da fala de Silvinei.
GAVIÕES DA FIEL
“Uma torcida de futebol conseguiu retirar os bloqueios de uma estrada – isso foi mostrado amplamente pela mídia. A Polícia Rodoviária Federal, armada com blindados, com armamento, não consegue retirar um bloqueio de uma estrada? Então, realmente, é algo que chama a nossa atenção”, questionou Jandira.
“Então, houve uma deliberada ação na eleição de não permitir que o eleitor chegasse às urnas no Nordeste. Houve depois uma deliberada ação de não desbloqueio das estradas, para provocar uma ação, um caos no país, para uma possível chamada à GLO ou chamado ao ‘poder moderador’ das Forças Armadas”.
MENTIRAS E ENROLAÇÃO
O depoimento do bolsonarista Silvinei Vasques nesta terça-feira na CPMI foi marcado por mentiras e muita enrolação, como disse a relatora da comissão Eliziane Gama (PSD-MA).
Ele começou sua fala de apresentação alardeando falsamente que não tinha nenhuma condenação ou processo na PRF contra ele. Depois, confrontado e sem saída, ele confessou que havia mentido e foi condenado, sim, por ter agredido um frentista em Santa Catarina.
Ficou desmoralizado e só não foi preso porque o presidente da CPMI, Arthur Maia, foi espantosamente condescendente. Na condição de testemunha, ele é obrigado pela lei a falar a verdade, sob pena de sofrer as devidas sanções.
M. V.