O jornal francês “Libération” disse que Lula foi uma “decepção” e é um “falso amigo do ocidente”. Para o jornal, ser “amigo” da Europa é apoiar a tresloucada política belicista dos Estados Unidos no continente
A atitude serena e firme do presidente Lula em relação à guerra e as provocações dos EUA e da OTAN no leste da Europa incomodou os capachos da mídia do velho continente. O jornal francês Liberation reclamou da posição do governo brasileiro sobre o conflito, externada por Lula em sua viagem à Itália e à França.
Na edição desta sexta-feira (23), publicada durante a visita do presidente brasileiro a Paris, onde ele participou da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, o jornal francês Libération disse que a posição de Lula sobre a guerra é “uma decepção” e que o presidente brasileiro é um “falso amigo do ocidente”. No caso, para o jornal, ser “amigo” da Europa é apoiar a tresloucada política belicista dos Estados Unidos no continente.
“O presidente brasileiro não é o precioso aliado que imaginávamos. Especialmente quando se trata de condenar ao ostracismo o novo pária do Ocidente: a Rússia, culpada por uma intolerável invasão na Ucrânia”, disse o jornal. “Como o resto da América Latina, que ele pretende representar no cenário internacional, Lula condena, mas não sanciona. Pior: ele assegura que a responsabilidade também está no fato do Ocidente reivindicar apoio incondicional a Kiev”, prossegue a publicação.
O que eles queriam é que Lula desse aval à guerra da OTAN, mas o líder brasileiro defende, assim como deseja a grande maioria da população mundial, a busca da paz e o fim do conflito. Para isso é necessário que os dois lados sejam ouvidos e que se parem de fornecer armas para um dos lados, coisa que os Estados Unidos não quer e não permite que outros façam. Os EUA já enterraram mais de US$ 50 bilhões em armas e munições na Ucrânia. Além disso, a Casa Branca proibiu seu capacho, Zelenski de negociar a paz.
Segundo o jornal, Lula “era esperado como um messias, mas sua imagem ficou um pouco manchada”. Ou seja, o Libération queria que o Brasil imitasse a Europa e se submetesse aos interesses dos Estados Unidos, mesmo que essa submissão só tenha trazido prejuízos para os europeus. Só quem está se beneficiando com essa guerra no leste – insuflada pelos EUA e a OTAN – é o Complexo Militar dos EUA. Os europeus só viram piorar as coisas, como a elevação da inflação, a desaceleração econômica e a compra mais cara de energia, por exemplo.
O jornal também deixa claro que defende os interesses dos grandes monopólios quando critica as posições do Brasil no acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. A publicação diz que “promover exportações da agropecuária vai contra o compromisso do presidente brasileiro com a preservação do meio ambiente”. A posição do jornal francês é uma confissão de que eles estão usando uma suposta defesa do meio ambiente para combater o Brasil e defender a produção agropecuária francesa.
Lula comentou a reação à sua visita. “Eu não fico chateado quando um europeu, no caso da guerra, pensa diferente de mim. Eles estão no centro da guerra, eu estou a 14 mil quilômetros de distância. É muito normal que eles estejam muito nervosos porque estão vivenciando a guerra e sofrendo as consequências mais imediatas e com preocupação do que vai acontecer”, disse Lula, ao fazer um balanço à imprensa sobre a viagem, antes do voo de retorno a Brasília.
“Vai chegar um inverno e a energia vai ficar mais cara. Eles vão comprar de quem? Eles têm que estar mais preocupados, mais nervosos, e ter um pensamento diferente do meu”, prosseguiu. Lula voltou a repetir um raciocínio que incomodou e provocou duras reações dos Estados Unidos e da União Europeia. O presidente disse que “mesmo quem defende a guerra, mesmo quem ajuda a Ucrânia, quer a paz”. Essa declaração ecoa uma anterior de Lula, no retorno de viagem à China, quando afirmou que o Ocidente incentivava a continuidade do confronto ao fornecer armas e dinheiro para a Ucrânia se defender das tropas russas.
Lula disse que, embora o Brasil tenha votado condenando a invasão russa no âmbito das Nações Unidas, isso não implica em fomentar a guerra. Lula se propõe a facilitar negociações de paz entre Kiev e Moscou, mas avalia que os dois governos no momento entendem ser capazes de vencer a guerra no campo de batalha. “Em algum momento eles vão sentar e vão precisar de interlocutores com muita responsabilidade para tentar negociar. O Brasil está participando”, disse Lula.