Ainda houve polêmica. Uma parte do Copom queria seguir com a alta criminosa dos juros reais. Só depois da ameaça do Senado de demitir o presidente é que os serviçais dos banqueiros pensaram duas vezes
A ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), divulgada nesta terça-feira (27), mostra bem que os diretores que ocupam cargos no banco são seres que não vivem neste planeta. O mundo deles é o da especulação e da agiotagem. É para esse mundo que eles trabalham e para quem eles prestam contas de suas ações. Para mais ninguém.
O texto divulgado pelos diretores do BC literalmente não tem absolutamente nada a ver com a realidade brasileira. O país está estagnado, a economia em deflação, as empresas estão estranguladas e ociosas, as famílias endividadas e sem crédito, o povo passando fome e os próceres da banca resistem a mudar sua desastrosa política monetária.
Eles só não repetiram a afronta do comunicado anterior, que nem previu a possibilidade de rever sua posição, porque a chapa esquentou para eles, particularmente para Roberto Campos Neto.
Precisou que a sociedade, o Congresso Nacional e, principalmente o Senado, percebessem a sabotagem em curso e começassem a se mobilizar para pedir o afastamento do presidente do órgão, para que os serviçais de plantão admitissem, e mesmo assim, “com muita parcimônia”, na ata do Copom, a possibilidade de, num futuro próximo, avaliar a interrupção da lunática alta dos juros.
Mesmo com a economia estrangulada e com as empresas sufocadas e quebrando, o documento divulgado nesta terça diz que na reunião do Copom houve polêmica. Para alguns, não está na hora de reduzir os juros. Tem que seguir apertando o torniquete.
Ou seja, tem gente achando que tem que continuar subindo os juros e destruindo a economia do país. Sim, porque manter os 13.75% com a inflação em queda significa elevação dos juros reais. E é isso que uma parte dos tresloucados diretores do BC queria ao resistir a apontar o início da reversão. O texto deixou clara a divisão ao dizer que a visão “predominante” é que o aperto monetário pode começar a ser afrouxado no futuro. É muita teimosia.
Essa teimosia do BC tem como objetivo, dizem eles, garantir a “estabilidade”. O que eles querem é garantir os ganhos estáveis dos rentistas. Se a economia está se afundando e se a sociedade está sendo ameaçada com uma instabilidade econômica e social grave e perigosa, isso não interessa em nada a esses “servidores da banca”.
O Copom diz claramente na ata que “conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”. Esse desastre todo que o país está vivendo, com 33 milhões de pessoas passando fome, “está se mostrando uma política adequada”. Adequada para quem, cara pálida?, perguntaria um leitor.
Como disse o presidente Lula recentemente, em sua viagem à Europa, “o presidente do Banco Central terá que explicar, não é para mim, mas para a sociedade, porque ele está mantendo os juros em 13,75% com a inflação de 5%”.
O país gastou no ano passado cerca de R$ 600 bilhões só para o pagamento de juros da dívida e este ano há previsão de que terão que ser desviados do orçamento da União, ou seja, da Educação, da Saúde, da Segurança, da Ciência e Tecnologia, dos investimentos em infraestrutura, etc, quase R$ 800 bilhões para pagamento dos juros, fruto dessa politica criminosa do BC.
É óbvio que o objetivo de Campos Neto, não é obter a estabilidade econômica, como ele alega. Seu objetivo primordial é reduzir as atividades produtivas do país para garantir que mais recursos possam ser desviados para o pagamento dos juros aos bancos. Afinal são eles que bancam a sua presença no cargo. A cada um ponto percentual da Selic a menos, o governo economizaria R$ 45 bilhões com gastos financeiros. Ao insistir em manter os juros em 13,75% mesmo com a inflação caindo, o que o BC quer é aumentar os juros reais, ou seja os ganhos dos banqueiros.
Segundo o ministro da Fazenda Fernando Haddad, os juros já deveriam ter começado a cair desde março. “Nós estamos contratando um problema com essa taxa de juros. É isso que essa decisão significa. Está contratando inflação futura e aumento da carga tributária futura. É isso que está sendo contratado”, declarou Haddad, em Paris, onde acompanha o presidente Lula.
“Nós estamos com juro real que deve estar batendo 8%. Essa é que é a realidade. E aí você tem o impacto na Bolsa, no varejo, você tem os impactos conhecidos”, ressaltou o chefe da equipe econômica, que avalia que o BC deveria levar menos em consideração o boletim Focus (pesquisa semanal com as “previsões” das instituições financeiras apurada pelo órgão) na hora de tomar suas decisões.