Juros extorsivo do cartão, com aval do Banco Central, é apontado pelas famílias brasileiras como principal responsável pelo alto nível de inadimplência e endividamento
A taxa de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo alcançou 455,1% ao ano em maio, a maior dos últimos seis anos. Em abril, a taxa média foi de 447,3%, informou o Banco Central (BC) na quarta-feira (28).
O cartão é a modalidade de crédito mais usada pela população e também o principal fator de endividamento das famílias, que atualmente atinge 78% dos consumidores. O rotativo é acionado quando a fatura do cartão não é paga integralmente na data de vencimento. O uso dessa modalidade teve crescimento recorde em 2023.
O lastro para os bancos praticarem juros que beiram a agiotagem e sem equivalência em nenhum sistema bancário do mundo vem da taxa básica de juros (Selic), estipulada pelo Banco Central (BC). Apesar das críticas, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) decidiu na última semana manter os juros da economia a 13,75% ao ano, também o maior patamar em seis anos e meio – além da maior juro real no ranking mundial.
Na esteira da Selic, a taxa média de juros cobrada pelos bancos nas operação de crédito livre, ou seja, aquelas que excluem habitação e os financiamentos do BNDES, com pessoas físicas e empresas subiu de 45,1% para 45,4%, de abril para maio desse ano. Mais uma vez, o maior patamar desde 2017.
Para empresas, a taxa média ficou no mesmo patamar de abril, em 23,8%. Para as famílias, os juros subiram de 59,6% ao ano em abril para 59,9% – os maiores desde agosto de 2017 (62,3% ao ano).
No cheque especial de pessoa física, os bancos estavam cobrando taxas de juros de 130,7% em maio de 2023.
Segundo o Banco Central, o endividamento das famílias está em 48,5% da renda acumulada nos 12 meses até abril desse ano. E a inadimplência cresceu, atingindo a taxa de 4,2%, o maior patamar desde maio de 2016.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou em abril que iria negociar com as instituições financeiras uma redução da taxa de juros cobrada nas operações com o cartão de crédito rotativo – hoje, o principal fator de endividamento e inadimplência das famílias brasileiras.
Ontem, o governo divulgou as regras do Programa Desenrola, promessa de campanha do presidente Lula, que visa beneficiar 70 milhões de brasileiros que estão endividados. Os bancos que participarem do programa terão de limpar imediatamente o nome de 1,5 milhão de consumidores que devem até R$ 100.