“O principal responsável pela situação que estamos vivendo é quem está à frente do Estado da Nicarágua, o governo que deveria ter tomado todas as medidas para não chegar a estes níveis de sangria que o povo está sofrendo”, afirmou Humberto Ortega, ex-ministro da Defesa e ex-chefe do Exército nicaraguense, na sexta-feira, dia 27.
Ele frisou que seu irmão e presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, “precisa acabar” com as forças paramilitares que promovem a violência no país, reprimindo de forma descontrolada os protestos contra o governo, o que já deixou mais de 450 mortos.
“Se o governo tem um profundo sentido de responsabilidade, em primeiro lugar precisa acabar com a presença destes grupos armados” ilegais que agem “como se fossem uma autoridade militar ou a polícia”, declarou Humberto Ortega em entrevista ao programa “Con Camilo”, da rede de televisão CNN.
Segundo o ex-ministro, essas forças irregulares são responsáveis por muitas mortes e não se pode permitir que “se consolidem”. “O povo não quer ver mais estas forças parapoliciais agindo ao lado da polícia ou sós”, assinalou, denunciando que “estão operando de maneira aberta ao lado da polícia nacional”.
O ex-comandante do Exército responsabilizou o governo pela crise que abala o país devido à “repressão indiscriminada” contra os protestos deflagrados em 18 de abril.
Humberto Ortega apoia a retomada do diálogo entre o governo e a oposição, sob a mediação dos bispos da Igreja Católica, aos quais seu irmão chamou de “golpistas” e “terroristas”.
O ex-comandante também apoia a proposta dos bispos para se antecipar as eleições de 2021 para 2019 como solução para a crise, mas rejeita a ingerência de Estados Unidos e da comunidade internacional no conflito. “O problema dos nicaraguenses deve ser resolvido pelos nicaraguenses e o presidente precisa reativar o diálogo. Esta é a saída”, concluiu Humberto Ortega.
O diálogo nacional está suspenso e os bispos católicos, que se dispõem a atuar como mediadores, se reunirão esta semana para decidir si continuarão em seu papel, depois do presidente Daniel Ortega tê-los acusado de serem “parte de um plano golpista” para desestabilizá-lo. Na realidade, a agressão criminosa é a que forças a mando do governo realizam contra quem se manifesta em oposição a sua política. Um grupo de partidários da família presidencial empurrou, golpeou e arranhou o cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, e a outros líderes católicos quando tentavam entrar na Basílica de San Sebastián. Um bispo auxiliar foi esfaqueado no braço.
SUSANA SANTOS