A Polícia Federal deflagrou na manhã desta segunda-feira (10) a Operação Frutos de Ouro, que tem o objetivo de investigar uma rede dedicada à exploração de ouro extraído da Terra Indígena Yanomami e à lavagem de dinheiro.
Os investigados têm relação com a apreensão de mais de 5 Kg de ouro no Aeroporto de Boa Vista, em 2019. A PF identificou que o grupo movimentou aproximadamente R$ 80 milhões com o esquema.
Mais de 30 policiais cumprem cinco mandados de busca e apreensão em Boa Vista e em São Paulo. As ordens foram expedidas pela 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal em Roraima. As investigações tiveram início quando a PF identificou um suspeito que tentava embarcar com mais de 5 kg de ouro no Aeroporto de Boa Vista com destino à Campinas, em São Paulo. A ação foi em 2019. Uma joalheria de São Paulo com mais de R$ 50 milhões de reais movimentados é suspeita de ter enviado valores ao suspeito de ser o responsável pelo ouro apreendido em 2019.
Já um outro investigado, segundo a PF, é suspeito de receber salários que somam aproximadamente R$ 5 mil e teria mais de R$ 15 milhões em movimentações financeiras. O grupo ainda utilizava uma empresa de comércio de frutos do mar, localizada em Boa Vista, para movimentar parte do dinheiro que seria utilizado na aquisição do ouro extraído ilegalmente da Terra Yanomami.
O nome da operação faz alusão à atividade de comércio utilizada por uma das empresas investigadas, que seriam Frutos do Mar, mas, na realidade, comercializaria também o ouro ilegal.
A Operação desta segunda-feira é a oitava de 2023 com objetivo de identificar origem e destino de recursos destinados ao garimpos ilegal na Terra Indígena Yanomami. Exploração ilegal do minério é crise sanitária sem precedentes no território.
Garimpeiros que ainda estão na TI Yanomami estão ligados ao narcotráfico, diz Guajajara
Em entrevista ao portal ‘Repórter Brasil’, a ministra dos Povos Indígenas , Sonia Guajajara, afirmou que as operações para expulsar invasores da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, já retiraram 82% dos garimpeiros. Entretanto, os que permanecem no local são os mais perigosos, pois estão ligados ao narcotráfico e ao crime organizado.
“Dados do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) e da Polícia Federal comprovam que já conseguimos retirar 82% dos garimpeiros. Junho foi um mês que não teve nenhum alerta de novo garimpo. Agora nessa fase final tem uma situação bem mais violenta e perigosa. Tem aquelas pessoas que resistem em sair do território, se escondem, e estão provocando conflitos. No início, quando anunciou que iria começar a retirada, muita gente saiu livremente. Outros saíram com as operações”, disse a ministra dos Povos Indígenas.
Ela ressalta a necessidade de uma força de segurança maior. “Segundo informações das próprias lideranças, são pessoas ligadas ao narcotráfico e ao crime organizado, que querem ficar ali e realmente estão provocando conflitos de indígenas com indígenas, para fazer de conta que são problemas internos.
Logo nos primeiros dias à frente da pasta, ela encarou o desafio de reverter a tragédia humanitária dos Yanomami. Sem assistência básica, ao menos 570 crianças e adultos morreram de causas evitáveis, como desnutrição, pneumonia e malária”, destacou.
Primeira ministra indígena do Brasil, Sonia Guajajara tem longa trajetória de militância em organizações de defesa dos povos originários. Ao longo dos seis meses de governo, Guajajara tem lidado com disputas corriqueiras com a bancada ruralista. Os parlamentares ligados ao agronegócio já impuseram derrotas ao seu ministério, como a aprovação do Projeto de Lei (PL) 490, na Câmara dos Deputados.
“Além de estabelecer o 5 de outubro de 1988 como a data base para reconhecimento de territórios indígenas, que é o ‘marco temporal’, esse projeto de lei também prevê a transferência da demarcação de terras indígenas do Executivo para o Legislativo”, explica Sonia. “É um retrocesso absurdo”.
Apesar dos obstáculos, a ministra se diz feliz no cargo, por considerar a criação do ministério o início de uma “reparação histórica”.