Milhares marcharam em Jerusalém desde a casa do primeiro-ministro até a sede do parlamento contra lei que extirpa poder da Corte Suprema
Dezenas de milhares de israelenses ocuparam o aeroporto internacional Ben Gurion nesta terça-feira (11) em um dos mais intensos dias de manifestações contra a tentativa do governo Netanyahu/Gvir de extirpar o poder do Judiciário, naquilo que os manifestantes entendem como golpe ditatorial através da maioria conjuntural no parlamento, o Knesset.
Kaplan, uma das principais avenidas de Tel Aviv foi bloqueada. Em Jerusalém, “jovens, militares da Reserva, famílias inteiras não paravam de chegar”, afirma o jornal israelense Haaretz, “surpreendendo os organizadores do protesto”, na marcha da casa oficial de Netanyahu, passando pelas alamedas Hazaz e Ben-Zvi, atravessando o túnel Rabin, até a frente do parlamento. Na marcha um grupo tocava tambores enquanto se ouviam palavra de ordens contra o golpe em curso sob comando da coalizão fascista que une Netanyahu, Gvir e Smotrich, este último um dos comandantes do assalto a terras palestinas.
Com as manifestações de agora, já somam 27 semanas de concentrações por todo o país contra o ataque governamental, que fizeram com que o projeto dos chefes da coalizão de passar a legislação de extinção – na prática – da Corte Suprema demorasse mais a passar, mesmo no parlamento onde agora detêm maioria – do que eles esperavam.
Nesta terça, os atos tomaram essa magnitude devido à passagem, em primeira leitura, do projeto-lei que extingue uma outra lei regida pelo Princípio da Razoabilidade. Trata-se de uma lei da maior importância em um país que – desde seus fundamentos – vive em guerra e regime de exceção e que determina que qualquer cidadão, partido ou entidade pode recorrer à Corte Suprema diante de uma lei ou conjunto de leis que não se configurem “razoáveis”. Em suma, uma lei que integra o conjunto do golpe da atual coalizão de acabar com o Poder Judicial.
O comportamento do governo israelense atual é tão absurdo que o chefe da polícia de Tel Aviv, Ami Eshed anunciou que havia sido deposto (na quarta-feira da semana passada) por se recusar a comandar assalto violento contra os manifestantes de sua cidade como queria o atual ministro da Segurança Nacional, Ben-Gvir.
Aliás, uma das características dos protestos é a sua não violência, nem contra policiais, nem contra prédios, carros ou propriedades, o que esvaziou um dos argumentos de Netanyahu de que os manifestantes seriam “um bando de anarquistas”.
Tanto assim que o atual Comissário de Polícia, Kobi Shabtai, enfureceu os ministros de Netanyahu ao dizer a eles que não houve violência nas manifestações e que ao longo destas semanas “nenhum policial foi levado a hospital para tratamento por ferimentos”.
Um dos porta-vozes de Netanyahu postou nas redes uma foto de um cavalo da polícia sangrando para contestar o comissário, mas logo se soube que a foto era de 10 anos atrás.
GENERAIS DECLARAM APOIAR ATOS CONTRA IMPOSIÇÃO DE DITADURA
Em carta aberta lançada na quarta-feira (5) generais e brigadeiros afirmam apoiar “incondionalmente” os reservistas que se negam a atender a convocações de suas bases enquanto permanecer o ataque ao Judiciário.
“Apoiamos incondicionalmente todas as formas de protesto, inclusive a imediata suspensão de serviço por parte de militares da reserva, reconhecendo plenamente as repercussões do seu cessar de atividade de combate”, diz a carta firmada, entre outros, pelo ex-chefe da Força Aérea, Dan Halutz e os generais da reserva Avihu Ben Nun, Gil Regev, Dan Tolkowsky, Nimrod Sheffer e Amos Yadlin.
“Exigimos do governo que pare esse processo, essa rota que se abre diretamente a uma ditadura”, segue a carta.
Nesta terça-feira 350 reservistas se encontraram para debater os próximos passos para participarem do protesto contra o ataque governamental em curso.