“Quase morremos no confronto”, relatam à Justiça os PMs que enfrentaram golpistas

Policial é atacado, derrubado e agredido no chão por bolsonaristas alucinados. Fotos: Reprodução - Sérgio Lima - AFP

Os depoimentos de policiais militares do Distrito Federal que estiveram na linha de frente para barrar os golpistas do dia 8 de janeiro demonstram que a segurança da Praça dos Três Poderes estava enfraquecida por ordens superiores e que os bolsonaristas atacaram para matar os agentes.

Mostram também que os atacantes estavam preparados e equipados para fazer a baderna que fizeram naquele dia. Desmentindo a versão bolsonarista de que era uma manifestação pacífica.

Estavam com máscaras, joelheiras, capacetes, barras de ferro, relatam os policiais.

O segundo-tenente Marco Aurélio Feitosa prestou depoimento à Justiça do DF e relatou que, no dia 8 de janeiro, somente 20 policiais, além de 16 voluntários, estavam disponíveis para tentar conter a invasão bolsonarista.

O depoimento foi colhido em uma investigação contra Feitosa, por uma suposta lesão corporal contra um dos terroristas, e já está nas mãos da CPMI do Golpe.

Os 20 homens e 16 voluntários “era todo o efetivo escalado pelo BPChoque [Batalhão de Polícia de Choque], por ordens superiores, para o dia” em que milhares de bolsonaristas tentaram dar um golpe de Estado, contou o tenente Marco Aurélio Feitosa.

A ordem, inclusive, era para não estar no Palácio do Planalto, mas em um hotel na Região Central de Brasília. Foi o próprio segundo-tenente Feitosa que orientou a tropa para ir proteger a Praça dos Três Poderes.

“Fui inicialmente repreendido” pela decisão, contou. “Relatei que era iniciativa minha, que se ele determinasse que eu voltasse, eu voltaria. Mas que, no meu entender, a Tropa de Choque tinha que estar próxima ao Congresso [Nacional]”.

No Palácio do Planalto, os poucos policiais tiveram que enfrentar cerca de 200 terroristas.

Além da falta de reforços, testemunhas do caso apontam que havia pouco material para o combate.

Dois policiais, a cabo Marcela Pinno e o subtenente Beroaldo José de Freitas Júnior, foram ferozmente agredidos pelos bolsonaristas e contaram que poderiam ter morrido. Eles foram ouvidos como testemunhas no processo aberto contra seu superior, o tenente Feitosa.

Depois de caírem cerca de três metros de altura, os dois policiais foram atacados com chutes, pauladas e barras de ferro pelos bolsonaristas. Os terroristas também usaram bandeiras do Brasil para atacar os agentes.

O “ânimo” dos bolsonaristas “era totalmente agressivo. Inclusive, eu e a soldado Marcela quase morremos no confronto”, disse Beroaldo Freitas Júnior. Mesmo feridos, os dois continuaram a defender o Palácio do Planalto. “Estava ferido, fui socorrido depois disso todo ensanguentado, porque nem sabia que estava ferido. Mas depois fui identificado como lesionado”, completou.

Marcela foi promovida a cabo e Júnior passou a ser subtenente, ambos por reconhecimento de bravura.

Em depoimento à Justiça do DF, o subtenente Beroaldo Júnior contou que “o clima no interior [do Planalto] era de caos total. Até porque a nossa tropa estava com aproximadamente 20 homens – talvez um pouco mais ou pouco menos. Mas acredito que eram mais de 200 pessoas lá no interior do Palácio. E nós já tínhamos enfrentado eles lá fora”.

Em entrevista à TV Globo, Beroaldo contou que Marcela foi a primeira a ser atacada pelos terroristas. “Eles queriam estraçalhar ela. Pisavam no rosto dela, espancaram com barra de ferro na cabeça”.

Ela só saiu com vida e conseguiu ser colocada de volta na linha com os demais policiais com ajuda dos colegas.

O subtenente Beroaldo falou que o ataque do dia 8 de janeiro é “incomparável” a qualquer outro confronto que ele já presenciou entre manifestantes e policiais em Brasília.

“Mas esse do dia 8 é incomparável. Não dá nem pra ter uma ideia. Foi o pior de todos”, afirmou.

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