Laudo do Instituto Evandro Chagas confirma a origem dos metais tóxicos que foram encontrados em Barcarena. Duto da multinacional transporta minérios por 400 quilômetros
O Instituto Evandro Chagas (IEC) concluiu, em relatório divulgado nesta segunda-feira (30), que a mineradora norueguesa Norsk Hydro é responsável pelos metais tóxicos que contaminaram a região de Barcarena, no Pará. O estudo foi elaborado com análises em toda a cadeia de produção de alumínio da Hydro.
O químico Marcelo Oliveira Lima, da Seção de Meio Ambiente do IEC destacou que o parecer técnico reforça as conclusões dos relatórios anteriores, de que houve vazamento na planta de empresa e consequente contaminação ambiental com rejeitos tóxicos.
No novo relatório, o IEC apontou que a origem do material tóxico que contaminou rios no Pará é a extração de bauxita realizada pela multinacional norueguesa Norsk Hydro em Paragominas, a 244 quilômetros de Barcarena, onde foram encontrados os primeiros vazamentos.
Segundo o IEC, o composto é transportado por um mineroduto que percorre os rios Capim, Acará, Acará Mirim e Moju até chegar à Hydro Alunorte, em Barcarena, onde a bauxita é refinada e transformada em alumina.
Os casos de contaminação Hydro vieram à tona em Barcarena nos dias 16 e 17 de fevereiro deste ano, quando resíduos de bauxita vazaram para o meio ambiente após fortes chuvas. Uma vistoria com a presença da procuradoria do Ministério Público identificou uma tubulação clandestina que saía da refinaria e despejava rejeitos que contaminaram o solo da floresta e rios das localidades próximas. Ainda foram encontradas outras duas tubulações ilegais que tinham a mesma finalidade.
A nova análise do IEC incluiu toda a cadeia de produção da empresa, desde Paragominas (PA), onde ela extrai o minério de bauxita, passando pela sua transformação em polpa e pelo transporte através de 400 quilômetros de minerodutos, até a refinaria de alumina em Barcarena.
Segundo Lima esse novo parecer técnico “traz à tona as origens geológicas desse material encontrado no ambiente, reforçando o nosso entendimento inicial de que são efluentes da empresa que foram parar no ambiente”.
Os efluentes encontrados no meio ambiente em Barcarena incluíam vestígios de arsênio, chumbo e cádmio. Segundo o químico do IEC esses elementos, depois de retirados do solo, podem se espalhar pelo ambiente em diversas fases do processo de produção do alumínio.
“No fim do processo industrial, só sobra alumina e alumínio. O restante fica no meio ambiente. Esse novo parecer mostra essa trajetória e contribui para o relatório final que estamos preparando, que discutirá vários outros resultados, incluindo análises nas cinzas e nas estradas”, afirmou.
De acordo com ele, mesmo em pequenas quantidades de metais tóxicos encontrados podem provocar danos em peixes, animais e pessoas. “Quando esse material é tirado do subsolo e entra em contato com o ambiente, pequenas quantidades vão acabar sendo liberadas todos os dias. Primeiro o material fica no solo, depois é transformado em pequenos grãos. Depois é enviado pelos minerodutos até Barcarena, onde acontece a secagem da polpa. Quando em alguma dessas etapas a chuva entra em contato com esse material, ela deixa de ser água e se torna efluente”, explicou.
Segundo o laudo do IEC ficou claramente evidenciado que o uso do minério bauxita de Paragominas tem como resultado a presença de elementos tóxicos no ambiente e que “o acúmulo e/ou lançamento desses efluentes para o ambiente sem o devido tratamento pode ocasionar impactos ambientais irreversíveis com danos aos ecossistemas aquáticos e terrestres e também para as populações que residem nessas regiões em áreas próximas a essas atividades minerais”.
O laudo científico também destacou que um processo semelhante ocorre em Barcarena e o “risco é até maior devido a provável pré-concentração desses elementos tóxicos na lama vermelha e o despejo de resíduos de cinzas sobre as bacias de deposição de resíduos que além de contribuir para maior concentração desses elementos também contribui para a inserção dos HPAs – Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos contaminantes orgânicos resultantes da combustão da biomassa ou componentes de combustíveis”.
O parecer conclui sugerindo a realização de estudos que mostrem esses riscos e que na sequência fossem implementados programas contínuos de biomonitoramento, estudos ecotoxicológicos, mutagênicos e genotóxicos além de uma avaliação de exposição ambiental humana aos elementos tóxicos e HPAs em toda a região, incluindo tanto Paragominas quanto Barcarena e até territórios de cidades adjacentes devido à integração hídrica regional. “Tais informações são urgentes e essas medidas deveriam ser imediatamente implementadas para proteção do meio ambiente, dos organismos terrestres e aquáticos e a saúde dos seres humanos que residem próximo a essas áreas”, salientou o IEC.
Em nota, a norueguesa continua negando ter havido vazamento e diz que avaliará o parecer técnico do Instituto Evandro Chagas. A Hydro destacou que a Justiça de Paragominas indeferiu pedido de liminar para paralisação das atividades. “Desta forma, a Mineração Paragominas continua operando”, acrescentou.