A economia boliviana cresceu 4,44% no primeiro trimestre, índice alimentado por sólidos investimentos públicos que projetam que em 2018 o país alcance o quinto ano consecutivo na liderança do desenvolvimento sustentado do Produto Interno Bruto (PIB) na América do Sul.
Entre outros números positivos, registra o Instituto Nacional de Estatística (INE), o setor agropecuário cresceu 6,6%, estabelecimentos financeiros 6,4%, petróleo e exportação de gás 6% e construção 5,7%.
Os seguidos resultados positivos do PIB têm se traduzido na redução contínua do desemprego – atualmente de 4,48% a menor taxa da América Latina – numa elevação da massa salarial do conjunto da classe trabalhadora, seja no setor público como privado, em saúde, educação, ciência e tecnologia – inclusive na área nuclear.
O Modelo Econômico Social Comunitário e Produtivo vigente desde janeiro de 2006, quando assumiu o presidente Evo Morales, confronta a dependente lógica primário-exportadora aplicada por anos de neoliberalismo que mergulharam o país andino na miséria.
Conforme o governo, é um modelo inclusivo, baseado em seis alicerces: retenção dos excedentes econômicos que gera o país para o reinvestimento em projetos de desenvolvimento; redistribuição da
renda e reativação do mercado interno; crescente investimento público; elevada poupança interna; articulação do capital financeiro com o capital produtivo e a diversificação econômica, com o investimento em obras de infraestrutura e novas empresas estatais.
Segundo Evo, a economia boliviana cresceu de forma sustentada graças à nacionalização dos hidrocarbonetos, em 2006, e a retomada das empresas estratégicas para o estado, que permitiram a elaboração de um plano, centralizado e coerente com as necessidades da nação. “Acredito que o fundamental para o nosso desenvolvimento é a retenção do excedente para que a riqueza não se vá, seja investida no país”, acrescentou o vice-presidente Álvaro García Linera.
Para o economista e ex-ministro Luis Alberto Arce Catacora, um dos responsáveis pelo novo modelo, “é essencial que o Estado se aproprie do excedente econômico para que ele próprio faça a redistribuição até a conformação da base econômica, a industrialização e a resolução dos problemas sociais”. Diferente disso, sublinhou Arce, “na época do neoliberalismo se exploravam os recursos naturais e a força de trabalho, fundamentalmente por empresas transnacionais, e era o setor privado quem se apropriava do excedente econômico em benefício próprio”.
Entre outras importantes instituições nacionalizadas estão a Entel (Empresa Nacional de Telecomunicações, a ENDE (Empresa Nacional de Eletricidade e a YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos). No caso da YPFB, a principal riqueza do país, elencou Evo, a nação “recuperou a propriedade, a posse e o controle total e absoluto”, invertendo a lógica neoliberal e privatista que remunerava as transnacionais com 82% dos recursos e deixava apenas 18% com o Estado. Agora, o país fica com 82% para investir no seu desenvolvimento e o capital estrangeiro é remunerado com 18%.
PETRÓLEO BRANCO
A exploração industrial do lítio – o chamado petróleo branco – principal insumo para o desenvolvimento de baterias elétricas e recarregáveis – tem sido uma das prioridades do governo. “Se temos indústrias de lítio, dentro de pouco tempo a Bolívia vai colocar um preço no mineral em todo o mundo”, destacou Evo Morales, destacando que atualmente o valor da tonelada do mineral no mercado internacional já supera os 7 mil dólares. “Mercados não faltam”, declarou, frisando que “a estimativa é de que reservas das quais detemos cerca de 70% do total mundial” sejam suficientes para garantir 50 anos de produção.
Com o compromisso de progredir de forma independente, desde 2008 se investiu em um projeto de industrialização soberana 100% estatal, sob a supervisão da Corporação Mineira da Bolívia (Comibol). Para fortalecer o processo, em 2010, foi criada a Empresa Boliviana de Recursos Evaporísticos (EBRE), encarregada da exploração, comercialização e industrialização do lítio. Com o objetivo de agregar valor com o riquíssimo mineral, a Bolívia fechou recentemente um acordo com a empresa alemã ACI System. Com investimento inicial de US$ 1,328 bilhão serão construídas no salar de Uyuni – onde está a maior reserva mundial de lítio – quatro plantas que permitirão a elaboração de diferentes subprodutos, bem como a fabricação de baterias. A associação com o consórcio alemão possibilitará ao estado boliviano obter, como mínimo, um lucro anual bruto de US$ 1,1 bilhão, informou o vice-ministro de Altas Tecnologias da Bolívia.
Como forma de incentivar a produção e de compartilhar os frutos do trabalho, desde 2013 o governo de Evo Morales institucionalizou o pagamento de um 13º salário (por lá chamado de Aguinaldo) a mais, o 14º salário (doble Aguinaldo). Para o pagamento do benefício vale a evolução de junho a junho. Como no terceiro trimestre de 2017 o crescimento foi de 4,3%, no quarto trimestre de 5,2% e no primeiro trimestre deste ano foi de 4,4%, avalia o ministro da Economia Mario Guillen, “mesmo o crescimento sendo um pouco menor será possível pagar o segundo Aguinaldo”. O ministro disse que as perspectivas são “interessantes” porque problemas climáticos atrasaram o plantio no primeiro trimestre, que impactarão positivamente só agora.
LEONARDO SEVERO