DURVAL DE NORONHA GOYOS JÚNIOR
Reproduzimos o artigo de Durval de Noronha originalmente publicada com o título “O fim do dólar e a moeda dos Brics”, no Diário da Região (de São José do Ribeirão Preto) na qual o autor relata as manobras de Washington para exercer o domínio internacional com base em sua moeda, fartamente emitida independente da ausência de lastro, e o correto processo de perda dessa hegemonia diante da perda de competitividade econômica, ao tempo em que saúda o projeto de criação de uma moeda comum para as transações entre os países que integram o grupo dos BRICS. Segue o artigo:
O colapso do dólar dos EUA já vinha pré-anunciado há tempos, devido à queda da competitividade da sua economia, ao seu irresponsável desequilíbrio fiscal e pela ascensão de outros países, como os integrantes do organismo denominado BRICS, formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O dólar americano, com o final da II Guerra Mundial, em 1945, havia se constituído na hegemônica moeda de reserva mundial, situação que foi sacramentada com os chamados Acordos de Bretton Woods.
Assim, os demais países alinhavam suas moedas ao dólar e nele praticavam o seu comércio exterior, o que limitava o potencial de suas compras externas ao volume a eles disponível daquela divisa. Este fator limitava o crescimento das suas economias, ao mesmo tempo em que promovia uma prosperidade econômica artificial aos EUA. Originariamente, no sistema de Bretton Woods, o dólar vinha lastreado em ouro, o que limitava o abuso fiscal da moeda, potencialmente causado por emissões inconsequentes.
Foi o presidente Richard M. Nixon, de triste memória por suas muitas melífluas ações, quem fez com que os EUA abandonassem o padrão ouro, em 1971. A partir daquele momento, deteriorou-se a política fiscal daquele país, inspirada pela missão de causar a prosperidade seletiva de seus agentes econômicos em detrimento do resto do mundo, em maior ou em menor escala, e onerada pelos custos das guerras de conquista. Se em 2005, a dívida pública dos EUA era de US$ 3.3 trilhões, ou 28% do PIB, hoje ela atinge US$ 33 trilhões e é superior ao PIB do país. Apenas em juros anuais, os EUA pagam cerca de US$ 700 bilhões, ou quase metade do PIB do Brasil, o oitavo maior do mundo. Como a arrecadação fiscal é insuficiente, os EUA cobrem o déficit com emissões de moeda, a opção preferida pelos políticos demagogos e irresponsáveis.
Como era previsível, o dólar americano vem perdendo rapidamente o seu valor fiduciário, ou seja, a sua credibilidade como moeda reserva. Nas últimas 2 décadas, o perfil das reservas soberanas vem se distanciando gradativamente do dólar. Também assim com as poupanças privadas. Isso ocorre na China, na Rússia, na Índia, no Brasil, na Argentina, e noutros países, por questões comerciais ou mesmo políticas, como consequência de reação às sanções ilegais costumeiramente impostas pelos EUA, em violação ao Direito Internacional.
Do ponto de vista comercial, qual é o propósito do comércio bilateral sino-brasileiro ser denominado em dólares se os brasileiros recebem em Real e os chineses em Remimbi? Isso é aplicável para quase todo o mundo, com por exemplo a Argentina e para os países produtores de petróleo do Oriente Médio, da África ou mesmo da América do Sul. Desta maneira, a moeda dos BRICS faz todo o sentido comercial, principalmente se lastreada no ouro, o que a ela dará um valor fiduciário como moeda reserva, que foi perdido pelo desmoralizado, decadente e alquebrado dólar dos EUA.