“Com inflação declinante, de 3,1%, com uma taxa Selic de 13,75%, o juro real é de 10%. A cada ponto percentual da Selic, R$ 28 bilhões de serviço da dívida. Não é crível. Não é razoável”, criticou o vice-presidente Geraldo Alckmin
Em junho de 2023, a transferência de recursos públicos para pagamento de juros a bancos atingiu a quantia de R$ 40,7 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC), divulgados na sexta-feira (28). Em doze meses, o pagamento de juros somou R$ 638,1 bilhões (6,18% do PIB). No mesmo período do ano passado foram pagos R$ 588,6 bilhões.
O avanço da transferência de renda de toda sociedade para o setor financeiro se dá pelo alto custo do serviço da dívida pública que está sendo implementado pelo Banco Central (BC) ao manter a taxa nominal de juros básicos da economia (Selic) há um ano em 13,75% ao ano. Como a inflação de 12 meses está em 3,16%, o juro real no Brasil está em torno de 10%, disparado, o maior do mundo. Com esses juros, as previsões apontam para gastos com juros no ano de 2023 em torno de R$ 800 bilhões.
Segundo a nota “Estatísticas fiscais” do BC, o setor público fechou o mês de junho com um déficit primário (sem levar em conta o gasto com juros) de R$ 48,9 bilhões, puxado, principalmente, pelo resultado negativo nas contas do Governo Central (déficit de R$ 46,5 bilhões).
“O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e o pagamento dos juros nominais, foi deficitário em R$ 89,6 bilhões em junho. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$ 662,4 bilhões (6,42% do PIB), elevando-se 0,03 p.p. do PIB em relação ao déficit acumulado até maio”, diz trecho da nota.
Como destacou o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, após a decisão do Banco Central em manter a taxa Selic em 13,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), “a manutenção da taxa Selic não prejudica apenas a atividade econômica, na medida em que inibe investimento, dificulta o comércio, prejudica a indústria e o setor do agro. Mas ela também tem outro impacto que é do ponto de vista fiscal, porque quase metade da dívida pública brasileira é ‘selicada’”.
Em encontro com empresários e políticos em Goiás, na sexta-feira (28), Alckmin voltou a criticar a alta taxa de juros, afirmando que não “tem o menor sentido” manter os juros nesses níveis, com a inflação em clara desaceleração.
“Com inflação declinante, de 3,1%, com uma taxa Selic de 13,75%, o juro real é de 10%. Não há nada pior para o [equilíbrio] fiscal do que isso”, declarou. “Mais da metade da dívida pública é de Selic. Você fica economizando R$ 200 milhões, R$ 400 milhões, R$ 500 milhões, mas paga, a cada ponto percentual da Selic, R$ 28 bilhões de serviço da dívida. Não é crível. Não é razoável”, criticou o vice-presidente.