“Quem faz policiamento ostensivo é a Polícia Militar, não é o GSI, não é o Plano Escudo, não é a Polícia Federal e nem é a PRF”, disse a deputada na CPI do Golpe
A líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (RJ), ao se pronunciar na CPI do Golpe, nesta terça-feira (1º), “colocou o dedo na ferida” da oposição, que defende a tese exótica de que o governo se omitiu e foi permissivo com os ataques perpetrados pelos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) às sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.
“Imaginar que o presidente da República viajou para que o próprio Palácio do Planalto dele fosse agredido, para autorizar uma invasão, um golpe no seu governo… Imaginar que não houve uma ação do ministro Flávio Dino” são “teses que chegam ao limiar da infantilidade”, criticou a deputada em sua intervenção.
“Teses [oposicionistas] que chegam ao limiar da infantilidade. Imaginar que o presidente da República viajou para que o próprio Palácio do Planalto dele fosse agredido, para autorizar uma invasão, um golpe no seu governo… Imaginar que não houve uma ação do ministro Flávio Dino”, questiona a parlamentar
O depoente que compareceu à CPI, o ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Saulo Moura da Cunha, foi convocado por requerimento da oposição bolsonarista para tentar reforçar essa tese. E até o presente momento o depoente negou-a de forma clara e objetiva.
TENTATIVA DE INCRIMINAR MINISTRO DA JUSTIÇA
“Em primeiro lugar, presidente, me parece que aqui há um desejo imenso de achar algum crime no ministro da Justiça Flávio Dino”, questionou a deputada.
“O ministro Flávio Dino, primeiro, não é um ditador, ele foi o ministro que mais compareceu à Câmara dos Deputados. E ele tomou a atitude que tinha que tomar. Quem faz policiamento ostensivo é a Polícia Militar, não é o GSI, não é o Plano Escudo, não é a Polícia Federal e nem é a PRF”, disse Jandira.
“Quem faz o policiamento ostensivo é a Polícia Militar, e ele fez várias, várias demandas ao governador do Distrito Federal”.
Continuou: “tem provas e documentos e ofícios aqui do ministro Flávio Dino demandando o governador, a Polícia Militar do DF e a Secretaria de Segurança Pública para agirem, para que não houvesse exatamente o que aconteceu, porque, até chegar ao Palácio do Planalto, quem segura é a Polícia Militar. Depois que estão ali 4 mil pessoas contra a Guarda Presidencial, não tem como segurar, tem que segurar antes”, argumentou.
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal era dirigida na época pelo ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres. Torres viajou na véspera do ataque dos bolsonaristas e foi para os EUA onde Bolsonaro já se encontrava. Ele se deu férias num momento crítico e viajou antes da hora, pois só sairia de folga no dia 9.
Além do mais, antes de viajar, Anderson Torres deixou a Secretaria completamente acéfala, sem alguém claramente designado para chefiar o policiamento no Distrito Federal e combater os golpistas.
PERDA DE FOCO DO INQUÉRITO
“E eu acho que nós estamos perdendo aqui o foco do que eu acho mais importante dos relatórios da Abin que é exatamente a detecção dos financiadores”, criticou a parlamentar.
“O relatório da Abin é preciso nisso e cita aqui, inclusive, nomes de empresários que aqui estão — todo mundo teve acesso aos documentos que chegaram à CPMI —, de pessoas que são dirigentes das principais associações garimpeiras no País: Roberto Katsuda e Enric Laureano, além de outros tantos.”
“E mostra também que a participação de grupos econômicos no Rio de Janeiro, que são os mesmos que vieram e financiaram as manifestações de apoio a Bolsonaro em novembro e dezembro de 2022. Isso está no relatório”, asseverou a parlamentar.
“Dizer que o golpe foi feito por nós que somos do governo Lula? Estão aí os mesmos grupos econômicos financiando as manifestações contra as eleições, contra as urnas eletrônicas e a favor de Bolsonaro.”
PEDRAS PRECIOSAS
No pronunciamento, a deputada fez denúncia grave que precisa ser devidamente apurada. “Eu quero compartilhar com a CPMI algo muito grave”.
“Nós achamos em meio a mil e-mails que chegaram à esta CPMI: no dia 27 de outubro — entre os ajudantes de ordem, e-mails, comunicados seguindo ordem do Sr. Mauro Cid —, foi guardado no cofre grande envelope contendo pedras preciosas para o presidente e uma caixa de pedras preciosas para a primeira-dama, recebidos em Teófilo Otoni, ou seja, na campanha, em 26 de outubro 2022, lá em Minas Gerais”, denunciou a deputada.
“Essas pedras [preciosas] nunca foram registradas nem como presente ao presidente da República e à primeira-dama, nem em lugar nenhum. Nós fomos olhar as 46 páginas dos 1.055 presentes recebidos pelo presidente e pela primeira-dama e não constam essas pedras preciosas.”
“Mauro Cid mandou dizer: as pedras não devem ser cadastradas [está no e-mail] e devem ser entregues em mãos para o Mauro Cid”.
“Isso aqui faz parte da nossa investigação sobre o financiamento da [tentativa de] golpe, porque isso aqui vem de onde? De onde vêm essas pedras preciosas, se não do garimpo ilegal? De onde vêm as pedras preciosas que não são cadastradas pelo presidente da República? Isso faz parte da investigação”, questionou.
“Por isso, eu requeri aqui a quebra de sigilo da [primeira-dama] Michelle [Bolsonaro]; para a do Bolsonaro já tem requerimento.”
M. V.