“Refletindo o peso que os altos níveis de taxas de juros têm exercido na evolução do setor, ramos de bens de capital e também de bens de consumo duráveis estiveram entre as maiores quedas. Ao todo, 64% das atividades industriais ficaram no vermelho”
A indústria brasileira encerrou a primeira metade de 2023 virtualmente estagnada, sintetizou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ao analisar os dados da produção industrial no país, divulgados pelo IBGE na terça-feira (1), que apontaram queda de -0,3% no primeiro semestre deste ano.
“Na ausência de fatores dinamizadores, a regra nestes primeiros seis meses do ano é de variações negativas e próximas de zero quando positivas”, assinalou o Iedi sobre o resultado da produção da indústria que na passagem de maio para junho resultou em “mero +0,1%, graças a um avanço de +2,9% do ramo extrativo. A indústria de transformação, por sua vez, amargou sua terceira queda consecutiva, ao registrar -0,2%”.
O Iedi apontou mais uma vez os efeitos dos juros altos sobre a atividade industrial.
“O desempenho industrial foi restringido pelos macrossetores cujos mercados são mais diretamente afetados pelas condições de financiamento e de juros da economia, bem como pelas expectativas em relação ao futuro, atualmente muito vinculadas às condições de realização das reformas estratégicas para a competitividade, como a reforma tributária”, diz o Iedi.
O instituto destaca que a produção de bens de capital recuou -1,2% e a de bens de consumo duráveis -4,6% na série com ajuste sazonal. Bens intermediários, que formam o núcleo duro do sistema industrial, mal têm saído do lugar e agora em jun/23 declinou -0,3%. O único macrossetor no positivo foi o de bens de consumo semi e não duráveis (+0,9%), mas que não compensou integralmente a perda do mês anterior (-1,1% em mai/23).
“Com a sequência de resultados fracos que temos visto mês após mês, a indústria acumulou declínio de -0,3% em jan-jun/23 devolvendo quase que integralmente a pequena expansão de +0,4% do 2º sem/22”, ressaltou o instituto, apontando que a produção de bens de capital foi quem mais puxou para baixo o setor como um todo.
“Bens de capital piorou muito seu desempenho da segunda metade do ano passado para a primeira metade do presente ano, passando de -2,1% para -9,7% e, ao que indica o resultado do 2º trim/23, de -12,4%, não está contratada uma reversão de tendência. A redução do nível de juros no país e a expansão do financiamento de longo prazo são elementos importante para que isso ocorra”.
“Bens de capital para a própria indústria seguem no vermelho há ainda mais tempo. Já somam sete trimestres seguidos em que sua produção encolhe na comparação interanual, isto é, desde o final de 2021. É uma trajetória que aponta para a ausência de investimentos no setor, provocando o envelhecimento de seu maquinário e comprometendo sua produtividade”, alertou o Iedi.
Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decide sobre a taxa básica de juros da economia (Selic) que está atualmente em 13,75% desde agosto do ano passado, mantendo o Brasil como a maior taxa de juro real do mundo (descontada a inflação).
Assim como os empresários da indústria, os do comércio e dos serviços defendem a imediata redução das escandalosas taxas de juros, que travam os investimentos e o consumo das famílias, causando forte desaceleração na economia.