E-mails mostram Mauro Cid tentando vender um Rolex cravejado de platina e diamantes por R$ 300 mil. A jornalista Eliane Cantanhede lembrou que dos R$ 3,7 milhões movimentados por Cid, havia pagamentos para um ourives
As últimas revelações sobre outras joias milionárias, desta vez descobertas através de e-mails mostrando uma tentativa de venda, por parte do “faz-tudo” de Bolsonaro, Mauro Cid, falando em inglês, de um relógio Rolex cravejado de platina e diamantes, estão levando os investigadores a suspeitarem de que possamos estar diante, não de um simples desvio de joias, mas de um esquema de tráfico internacional de joias.
Na tentativa da venda do Rolex, detectada pelos investigadores, Mauro Cid fala diz, em 6 de junho de 2022, que quer pelo relógio o valor de US$ 60 mil, ou cerca de R$ 300 mil. O relógio que ele oferecia para a venda era o mesmo relógio que Jair Bolsonaro havia recebido como presente oficial do governo da Arábia Saudita, mas que não foi registrado como presente institucional, e sim como presente pessoal. A citação deste só apareceu agora, através da descoberta dos e-mails. O relógio mesmo ninguém sabe onde está.
Além dos e-mails, outros documentos obtidos pela CPI do Golpe, cujo teor foi publicado pela GloboNews, mostram que o relógio de luxo foi recebido em um almoço com a família real da Arábia Saudita, no dia 30 de outubro de 2019. No dia 11 de novembro, o relógio foi inserido no “acervo privado”, ou seja, que não é do Estado brasileiro, gerido pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica.
A tentativa desesperada de Bolsonaro em sacar o colar árabe de diamantes, avaliado em R$ 16 milhões, que havia sido apreendido pela Receita no momento em que um auxiliar do governo tentava entrar no país sem declarar nada e com a joia escondida no fundo de sua mochila, o fato de joias irem parar nas mãos do presidente sem o devido registro oficial e, agora, a tentativa flagrada de venda de uma dessas joias, acendeu a luz dos policiais.
A jornalista Eliane Cantanhede, do Estadão, observou o sumiço das joias e aventou, em sua coluna deste fim de semana, a hipótese de o Rolex seria a ponta do iceberg de um esquema de tráfico internacional de joias. “A resposta [às suspeitas] começou a surgir quando o Coaf identificou movimentações financeiras estranhas de Mauro Cid, de R$ 3,7 milhões em dez meses, com depósitos, vejam bem, para um ourives”, disse a jornalista, lembrando que um ourives “desenha, faz e/ou vende joias”.
Ela citou também os e-mails trocados entre Mauro Cid com Maria Farani Rodrigues, que trabalhou na Presidência com Cid e Reis e depois com a senadora Damares Alves. Eles mostram uma tentativa de venda do Rolex. O “faz-tudo” de Bolsonaro e a assessora já tinham conversado antes sobre a possibilidade da venda do relógio, uma vez que ela diz no e-mail que “o mercado de Rolex usado está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto”.
Em resposta, Mauro Cid argumenta que “não temos o certificado desse relógio, já que foi um presente recebido em viagem oficial”. “O que nós temos é o selo verde de certificado que vai junto com o relógio. E eu também posso garantir que o relógio nunca foi usado. Eu gostaria de receber a quantia de US$ 60 mil”. Não há dúvida que se trata de uma tentativa de venda de uma joia que estava de posse do auxiliar de Bolsonaro.
Não há nada de estranho nesta suspeita da jornalista do Estadão. Afinal, é notório que Bolsonaro deu um salto em suas trambicagens depois que deixou a Câmara dos Deputados e foi para o Planalto. Das rachadinhas no gabinete, onde ele embolsava parte dos salários de funcionários fantasmas, ou mesmo dos golpes com o vale-gasolina, como já detalhou o ex-governador Ciro Gomes – que tinha um gabinete vizinho ao seu na Câmara – passou a poder fazer trambiques envolvendo valores mais robustos. Estão aí os pastores que pediam propina em barras de ouro no MEC e as joias árabes que não nos deixam mentir.