“Se realmente queremos a paz, temos que envolver Moscou de alguma forma neste processo”, insistiu Celso Amorim em participação virtual
Foi um fiasco a tentativa dos EUA de na conferência de Jidá, na Arábia Saudita neste fim de semana, enredar os chamados paises do Sul Global e em especial, do BRICS, em sua guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia, a ponto de não ser possível emitir uma declaração conjunta no final.
Graças ao prestígio da Arábia Saudita, que ampliou as relações com a China e mantém laços com a Rússia na Opep+, a reunião foi mais ampla que a anterior, de Copenhague. A que basicamente só haviam ido os cúmplices diretos dos EUA na empreitada na Ucrânia – a expansão da Otan até as fronteiras russas e a sustentação de um regime neonazista e russofóbico imposto por um golpe da CIA –, e um ou outro governo desavisado.
Desta vez, uma série de países, que têm se recusado aderir às sanções contra Moscou, como China, Índia, Brasil e África do Sul, se fizeram presentes em Jidá para apontar a urgência de abrir caminho para negociações de paz de verdade, ao invés de entupir a Ucrânia de armas. A Rússia não foi convidada, o que por si só mostra que o que Washington almejava não era negociações de paz.
O assessor de Lula e ex-chanceler brasileiro, Celso Amorim, que participou virtualmente da reunião, considerou que não houve avanços por não ter contado com a presença de todos os envolvidos no conflito. “Ainda que a Ucrânia seja a maior vítima, se realmente queremos a paz, temos que envolver Moscou de alguma forma neste processo”, insistiu Amorim.
Durante as negociações, a China apresentou seu próprio plano de 12 pontos para negociações de paz, anunciado pela primeira vez em fevereiro. “Temos muitas divergências e ouvimos posições diferentes, mas é importante que nossos princípios sejam compartilhados”, disse o enviado especial chinês Li Hui, segundo a Reuters.
Conforme o Global Times, a reunião de Copenhague “em junho foi liderada pelos EUA, que deram o tom para responsabilizar a Rússia antes da reunião. E isso é certamente algo com o qual a China não concorda”. Desta vez na Arábia Saudita, no entanto, “as negociações progrediram de maneira mais ambiente neutro, onde podíamos ouvir vozes de várias partes e compartilhar nossas opiniões”.
O GT registrou, ainda, que a participação da China na reunião de Jidá “decorreu em parte do relacionamento próximo que mantém com a Arábia Saudita. O fato de sediar o evento tem mais significado, pois é um importante membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e um país não ocidental, além de uma grande potência econômica no Oriente Médio e entre o mundo muçulmano”.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou no domingo que a reunião foi “um reflexo da tentativa do Ocidente de continuar esforços fúteis e fadados ao fracasso” para mobilizar o sul global a favor da posição de Zelensky.
Em resumo, o “plano de paz” de Zelensky de dez pontos, que consiste na rendição incondicional da Rússia aos banderistas de plantão em Kiev e retirada das tropas russas dos territórios habitados há séculos por russos étnicos no Donbass, não foi levado a sério.
Aliás, um plano não propriamente de Zelensky, mas aquele que foi levado pelo então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em nome de Joe Biden, proibindo qualquer acordo com a Rússia, a que se chegou muito perto em março do ano passado na negociação em Istambul. Cujo ponto chave era a manutenção da neutralidade e abandono, por Kiev, do ingresso na Otan, como o presidente Putin demonstrou aos presidentes africanos na semana passada.
Zelensky não escondeu sua irritação com o resultado da reunião de Jidá, ao acusar o presidente brasileiro Lula, que tem insistido em um próximo processo de paz, de “coincidir com as narrativas” de Putin. Incomodado pela defesa firme de Lula de negociações de paz, o conhecido marionete da Otan, Zelensky, disse esperar que o líder brasileiro tenha “opiniões próprias” – isto é, as ditadas pelo bloco pró-norte-americano. Já presidente-comediante ucraniano não apenas se recusa a participar de negociações, como tornou lei a proibição de negociar a paz.
Também no domingo os dois chefes da diplomacia russa e chinesa, respectivamente Sergei Lavrov e Wang Yi, voltaram a conversar sobre o aprofundamento das relações estratégicas entre as duas partes. Em relação à Ucrânia, Wang reafirmou que a China mantém uma postura independente e imparcial, falará uma voz objetiva e racional e promoverá ativamente as negociações de paz. Lavrov disse que a Rússia concorda plenamente com o documento de posição da China sobre a solução política da crise ucraniana e aprecia e saúda o papel construtivo da China a esse respeito.