Manifestação solidária aos que lutam por democracia, destacando os esforços pela paz entre israelenses e palestinos, está convocada para o domingo, 27, na praça Shimon Peres em Copacabana
Integrantes da comunidade judaica brasileira decidiram convocar para o dia 27, no Rio de Janeiro, um “Ato em Solidariedade aos que Lutam pela Paz e Democracia em Israel”. O ato está previsto para ter início na praça Shimon Peres, em Copacabana, às 10:00.
A decisão foi tomada em reunião de integrantes da comissão que coordenou o ato no mesmo sentido realizado no dia 6 na Praça do Coco, no bairro de Higienópolis, São Paulo, junto com lideranças da comunidade judaica do Rio de Janeiro.
Os atos têm origem na solidariedade – que vem se manifestando em grupos e organizações através de redes sociais, prédicas em sinagogas e atos em locais fechados – de ativistas da comunidade judaica brasileira, assim como vem ocorrendo em comunidades judaicas por todo o mundo.
Integrantes destes grupos e organizações decidiram lançar um manifesto alertando para a aprovação de leis e normas de cunho racista e supremacista judaicos além de expressarem seu repúdio ao golpe perpetrado pela junta Netanyahu/Smotrich/Gvir ao passarem uma lei que, na prática, suprime o Poder Judiciário em Israel.
O manifesto que convoca as manifestações do Rio e São Paulo e chegou a mais de 1.000 assinaturas, cita o historiador Yuval Harari que, em pronunciamento em uma das manifestações de Tel Aviv, alertou que os integrantes da coalizão extremista que se instalou no poder em Israel “nos prometem que Israel será para sempre um país obscuro e atrasado… Um Estado racista, ocupante e violento”.
Da reunião que decidiu pela convocação do ato no Rio participaram líderes judaicos cariocas como Patricia Tomalsqin (diretora do grupo Avodá – Ameinu Brasil), Ester Kuperman (Amigos Brasileiros do Paz Agora), Mauro Lipman, Marcelo Silber, Bruno Cintra, entre outros e de coordenadores do ato em São Paulo, Nathaniel Braia, Alan Besborodco e Moiche Storch.
Do ato realizado em São Paulo participaram lideranças indicadas por instituições judaicas a exemplo do Meretz Brasil (Maria Fiszon), Instituto Brasil-Israel (Morris Kachani), Amigos Brasileiros do Paz Agora (Maíra Storch), Woman Wage Peace (Lucia Chermont) além de ativistas como Sylvio Band, Nathaniel Braia, Lia Déborah Sztulman, Elisa Mirian Katz, Marcia B S Fischer e Alan Besborodco. Ao todo foram dezenas de lideranças e ativistas presentes ao ato.
“Atos como esse ocorrem hoje em Miami, Estados Unidos, em Sidney, Austrália e na Holanda, assim como já ocorreram em diversas cidades do mundo e ainda vão ocorrer, como o ato programado para Buenos Aires no próximo dia 17. Todos os participantes destes atos integram uma ampla força que se une para barrar esta tentativa de golpe em Israel. Estes atos não cessarão enquanto essa tentativa de golpe não for debelada, em Israel já acontecem manifestações pela democracia a 31 semanas”, declarou Alan Besbrodco, um dos primeiros participantes da iniciativa que levou ao ato de domingo em Higienópolis.
Nathaniel Braia, que integra a direção do Sindicato dos Escritores de São Paulo e um dos lançadores do manifesto em Solidariedades aos que Lutam pela Democracia em Israel, alertou para o perigo de “uma máfia de criminosos, racistas, messiânicos, supremacistas e ladrões de terra palestina que querem manietar o Judiciário e impor uma ditadura teocrática sobre todos os cidadãos israelenses”.
“Defendemos uma Israel progressista baseada em direitos humanos e sociais com base na Solução dos Dois Estados. Essa lei que restringe os poderes da Corte Suprema de Israel é sem precedentes e preocupa não só os integrantes das correntes progressistas, mas de todos que acreditam em uma Israel plural e democrática, defendem uma democracia para todos os que vivem em Israel, judeus e não judeus”, declarou Maria Fiszon, ao ler o manifesto da organização Meretz Brasil.
“O atual governo de Israel é controlado por uma coalizão de criminosos racistas e fundamentalistas. O que se vê agora são ministros que pregam abertamente a destruição de aldeias árabes palestinas, a discriminação contra os árabes israelenses, propagam discursos de ódio racistas e homofóbicos. Tudo isso nos envergonha. Estão sendo implementadas medidas no Knesset para esvaziar o poder judiciário e impor uma ditadura”, disse Maíra que falou em nome do Paz Agora/BR, ao ler declaração redigida por Moiche Storch, na qual expressou sua solidariedade com as “centenas de milhares que há várias semanas inundam as ruas de Israel”.
Lúcia Chermont, falou pela organização internacional Women Wage Peace, composto por “mulheres judias e palestinas que lutam pela paz”. Temos atualmente um grupo parceiro o Women of the Sun, que são mulheres palestinas que também lutam pela paz.
“Nós que lutamos por Israel como um Estado democrático e somos totalmente contra essa reforma do Judiciários que Netanyahu está promovendo e por isso participamos deste evento”, acrescentou.
“Essa Reforma Judicial, da forma como está sendo proposta, é um golpe. Não somos contra a revisão dos mecanismos, desde que isso seja feito de forma consensual e a sociedade israelense não quer essa reforma, as pesquisas mostram isso, as comunidades judaicas da Diáspora também não. Netanyahu, agora chegou a hora de você ser julgado, não só pela História, mas também pela Justiça, pelos crimes de suborno e corrupção pelos quais é acusado. Basta! Viva a Democracia!”, declarou Morris Kachani, diretor da organização Instituto Brasil-Israel.
“A fala do historiador Yuval Harari condensa o sentimento das mais diversas forças integrantes do espectro político israelense, esquerda, direita, centro, todos estão irmanados nesta luta pela democracia, uma luta que é universal assim como foi aqui no Brasil também. Espero que voltemos a nos encontrar para celebrar a vitória da democracia sobre as forças obscurantistas que agora dominam o parlamento de Israel”, declarou Sylvio Band.
A organização israelense, Paz Agora – Shalom Achshav, enviou uma mensagem agradecendo aos “amigos e amigas do Brasil que realizaram o ato em São Paulo”.
“A onda massiva de protestos que surgiu em resposta ao recente ataque à democracia israelense e à nossa Suprema Corte, após a formação do governo de extrema direita liderado por Binyamin Netanyahu, não tem precedentes. Todos os sábados à noite, em Tel Aviv, Jerusalém, Haifa e outras cidades de nosso país, centenas de milhares de pessoas se reúnem para deter o golpe judicial proposto por nosso governo e lutar contra o risco de perdermos o pouco que resta de nossas instituições democráticas”, ressalta a mensagem assina pelo diretor da entidade, Mauricio Lapchik.
“A Ocupação”, prossegue Lapchik, “está na raiz de muitos dos problemas e desafios contra os quais estamos protestando. Alimenta as forças destrutivas e antidemocráticas que agora ameaçam nossa nação. Chegou a hora de reconheceresta triste realidade, pois somente lutando contra a Ocupação podemos esperar criar um futuro melhor para Israel.
“Não é por acaso que Itamar Ben Gvir, Bezalel Smotrich, Simcha Rothman e seus aliados, que moram nos assentamentos, lideram esse golpe judicial. Eles são os aliados naturais daqueles colonos judeus que atacam aldeias palestinas inocentes e que realizam pogroms como os de Huwara, Turmus Ayya e Burqa nas noites de sexta-feira.
“O que Yeshayahu Leibowitz alertou, há exatos 30 anos [destacado cientista e estudioso da história judaica, de que a ocupação destruiria a sociedade israelense], hoje é uma realidade. Israel caminha para a autodestruição e desmorona sob o peso da Ocupação.
“A principal ameaça a Israel não é externa. A principal ameaça é interna. Este governo de extrema direita, radical, fundamentalista e messiânico quer transformar nosso país em uma teocracia judaica”.