Até mesmo a revista inglesa The Economist, considerada uma bíblia do liberalismo econômico, se espantou com a capacidade dos bancos brasileiros de aumentarem seus lucros “não importa o clima” do país.
Em sua edição desta semana, a revista dedicou duas páginas para tentar desvendar esse fenômeno peculiar. O espanto da revista está no fato de os bancos que operam no Brasil aumentarem sistematicamente seus lucros mesmo quando “do fim de 2014 a 2016, o PIB (Produto Interno Bruto) tenha encolhido 7,7%” e no ano passado, tenha crescido apenas 1%.
Nas últimas semanas, os bancos brasileiros abriram a temporada de divulgação dos seus resultados, revelando ganhos astronômicos enquanto todo o resto da economia está arrasada.
O Itaú registrou, no primeiro semestre de 2018, um lucro de R$ 12,8 bilhões – crescimento de 3,7% sobre o mesmo período de 2017. Considerando o lucro do Itaú somado ao do Bradesco (R$ 10,263 bilhões) e ao do espanhol Santander (R$ 5,791 bilhões), os ganhos dos três maiores bancos privados que operam no Brasil chegou a R$ 28,885 bilhões no acumulado de 2018.
“Na recessão, nem o Itaú Unibanco nem o Bradesco, os dois maiores, viram seu retorno sobre o patrimônio líquido cair abaixo de 15,9%”, registra a revista.
O Itaú Unibanco teve o ROE – sigla em inglês para Retorno Sobre Patrimônio Líquido, que mede o quanto foi gerado de lucro a partir de recursos próprios – em 22% no primeiro semestre do ano. O Bradesco e Santander também não ficam para trás, com taxas de retorno acima de 15%. Segundo o The Economist, a maior parte dos bancos europeus “está restrita a um único dígito neste quesito”.
A reportagem afirma que o governo tem sua parcela de culpa na formação desse oligopólio confortável para os bancos. Primeiro, a falta de “regulação” do setor e, segundo, o domínio das operações por poucos bancos.
A The Economist cita também os escandalosos juros que um consumidor comum paga para pegar dinheiro emprestado, o que garante a manutenção desse spread alucinante inclusive em meio à recessão, quando as pessoas procuram crédito não para investimentos e sim para pagamento de dívidas urgentes ou consumo do dia-a-dia. “O consumidor se habituou a comprar produtos a prestação com os custos dos empréstimos embutidos nos preços”.
Segundo a revista, além do desafio contra a corrupção e o desemprego, o vencedor da próxima eleição brasileira vai ter que considerar “como fazer o sistema bancário se tornar um pouco mais normal”.
DISTORÇÃO
Até mesmo as instituições financeiras norte-americanas, que vivem sendo protegidas de quebrar pelo Estado, têm rentabilidade muito inferior à dos bancos brasileiros. Itaú e Bradesco deixam no chinelo JP Morgan, Citibank e Bank of America em matéria de lucro.
Um estudo publicado pela consultoria Economática ranqueou os bancos daqui e de lá de acordo com os maiores ROE – Retorno sobre o Patrimônio Líquido em 2016. Na primeira posição está o Itaú, com rentabilidade de 18,26%; seguido pelo Bradesco, com 15,97%. O JPMorgan aparece com rentabilidade sobre o patrimônio de 9,86%, enquanto o Bank of America, tem retorno de 6,85%.
Para o cálculo, é considerado o lucro da instituição no ano e o patrimônio líquido.
PRISCILA CASALE