O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) respondeu aos dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de que a indústria está voltando a crescer após uma alta de 13,1% em junho, sobre a queda de -11% de maio. “Por mais favorável que tenha sido a reação de junho, não nos iludamos. Os eventos excepcionais dos últimos meses não alteraram em nada o movimento de redução do dinamismo industrial que vem marcando 2018. Seja na comparação interanual, seja na comparação com ajuste sazonal, trimestre após trimestre a recuperação do setor perdeu força após a passagem de ano”.
De acordo com o IEDI, os próprios números do IBGE apontam a desaceleração do setor: frente ao período anterior, com ajuste sazonal, no 4º trimestre/17 a produção industrial cresceu +1,6%; no 1º trimestre/18 o crescimento foi menor, +0,3% e no 2º trimestre/18 recuou -2,5%.
Para o tombo de maio, a justificativa do governo e de certos analistas da mídia foi o “reflexo da greve dos caminhoneiros”, que certamente acentuou o quadro de desaceleração do setor, mas que, para esses, passou a ser a razão de todos os males do país. Agora, sobre a queda brutal de maio, o governo comemora o resultado de junho (13,1%), que passou a ser a luz, um sinal de “retomada” do crescimento, ignorando por completo os resultados do setor nos últimos meses,
“Em maior ou menor medida, este é um comportamento que se repete em todos os macrossetores industriais: nítida desaceleração em relação ao mesmo trimestre de um ano atrás e retorno ao terreno negativo quando considerado o desempenho de mais curto prazo”, ressalta a nota do IEDI.
O instituto destacou ainda em sua análise que o atual nível de produção está quase 14% abaixo de seu pico histórico, registrado em maio de 2011. “A diferença em comparação com o início de 2014, que consiste no primeiro ano de retração do setor, por sua vez, é um pouco menor, mas ainda assim bastante expressiva: -10%”.
É fato inconteste que a indústria é o elemento fundamental para uma política de desenvolvimento. Sem uma indústria nacional forte – puxada pelo investimento público -, a economia continuará no fundo do poço em que se encontra. Por isso, os juros nas estrelas são um entrave para os investimentos e o crescimento e “a indústria continuará encontrando dificuldades para desempenhar integralmente seu papel de alavanca do crescimento da economia como um todo, por meio de suas inúmeras relações intra e intersetoriais e da geração de empregos de melhor qualidade”.
Na semana passada, o IBGE divulgou os dados da Pnad Continua, no qual constata que o emprego industrial tem sido cada vez menor este ano. “Como a indústria é um grande gerador de empregos formais, a moderação da crise do trabalho com carteira assinada, que vinha ocorrendo desde o início de 2017, estancou-se em 2018, mantendo o mesmo ritmo tanto no primeiro como no segundo trimestre do ano”, acrescentou o IEDI.
“Por isso, muito se deixa de ganhar em crescimento e emprego com o atual baixo dinamismo da indústria”, concluiu o instituto.
Em entrevista ao portal G1, a economista Luana Miranda, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, estimou uma queda de 0,3% no PIB da indústria no segundo trimestre, em relação ao primeiro trimestre. Em sua avaliação, haverá um recuo de 0,7% para a indústria de transformação na mesma base de comparação.
O boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (6) pelo Banco Central projetou um crescimento de 1% para o PIB deste ano. O próprio governo Temer reduziu recentemente sua previsão de crescimento do PIB de 2,5% para 1,6%. É o resultado da política neoliberal adotada pelo PT e continuada por Temer de juros estratosféricos, corte de investimentos públicos e desnacionalização/desindustrialização.
VALDO ALBUQUERQUE