“Não pode mexer nisso aí”, disse o ministro da Fazenda. “Não podemos perder de vista o varejo”
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (14) que mudanças no cartão de crédito não podem comprometer as vendas do varejo. ‘Não pode mexer nisso aí’, disse Haddad sobre o parcelado sem juros no cartão. “Não podemos perder de vista o varejo”.
Na última quinta-feira (10), no Senado Federal, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, propôs limitar o parcelamento de longo prazo sem juros do cartão de crédito e acabar com o rotativo, ao invés de explicar para os senadores da sua intenção de continuar mantendo a taxa de juros em níveis elevados após doze meses de Selic em 13,75%, hoje em 13,25% após a recente e pequena redução, mas que continua jogando para lua todas as taxas de juros para empréstimos e crédito para as famílias e empresas.
Na avaliação de Haddad, “tem que proteger quem está caindo no rotativo, mas se você for comprometer o sistema de vendas, que é o padrão de compra hoje. Até alimento está sendo comprado assim”, comentou o ministro, em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo.
Sobre “o rotativo [do cartão de crédito], assim não dá”, disse Haddad defendendo mudanças neste modelo de crédito, com juros que chegam a 437,3% ao ano, e tem sido alvo frequente de críticas do governo.
“É 15% ao mês [a juros] composto. Quando você atrasa o teu cartão, o pagamento da fatura do cartão, aí você cai numa linha de crédito, o chamado rotativo, que te impõe uma carga de juros de 15% ao mês composto, ou seja, que é 15% sobre 15% sobre… E se você colocar 12 meses de juros composto dá 400% e tantos por ano”, explicou o ministro da Fazenda, que sinalizou discordar do parcelamento com juros a 9% ao mês, proposto por Campos Neto, para substituir o rotativo.
Durante a entrevista, Haddad também criticou a demora do Banco Central em reduzir a taxa de juros da economia Selic. “Veio a desaceleração e não veio o corte de juros. Esse período de abril, maio e junho foi o período de maior tensão [contra o] Banco Central. Se não viesse o corte de agosto eu não sei o que nós iríamos fazer”, disse o ministro defendendo uma aceleração no corte da taxa de juros.
“O Banco Central, ele diz que a chamada taxa neutra de juro real gira em torno, uns dizem entre 4,5% e 5%. Vamos dizer 4,5%. Se a inflação é de 4 por cento, 8,5% é neutro. Significa que tudo acima de 8,5% é recessivo, é contracionista. Então, se você cortar meio [ponto percentual da Selic], a pergunta que eu faço é a seguinte, quanto tempo nós vamos levar para chegar no juro neutro cortando meio por reunião, sendo que são oito por ano? perguntou Haddad. “Então, cortando meio [ponto percentual da Selic] nós vamos viver um longo prazo contracionista”, criticou.