A atriz Léa Garcia morreu na madrugada desta terça-feira (15), aos 90 anos, na serra gaúcha, onde seria homenageada durante a 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado, considerado o mais importante festival de cinema do país.
Lá, ela receberia o Troféu Oscarito pelo conjunto de sua obra, mas ao longo de sua carreira, com mais de 100 produções no currículo, entre cinema, teatro e televisão, somente em Gramado já foi agraciada com quatro Kikitos. Além de muitas outras premiações, também foi indicada ao prêmio de melhor intérprete feminina no Festival de Cannes em 1957 por sua atuação no filme Orfeu Negro que, em 1960, ganharia o Oscar de melhor filme estrangeiro, representando a França.
Com célebre trajetória nas artes cênicas, Léa Garcia faz parte de um importantíssimo, mas, infelizmente, ainda seleto time, de artistas negras brasileiras como Ruth de Souza, Zezé Motta e Chica Xavier, que com muito talento, trabalho e altivez, conseguiram furar o bloqueio dos papeis secundários e normalmente de personagens subalternos que ainda hoje, embora com alguns avanços, tradicionalmente são os destinados às atrizes negras.
Com essas características, e muito consciente do papel que desempenhava de superar obstáculos e romper barreiras, desde sua estreia no teatro a convite de Abdias Nascimento – criador do Teatro Experimental do Negro, com quem foi casada e teve dois filhos -, se consolidou como intérprete de personagens fortes e marcantes.
No teatro, foram mais de 20 peças. Além de participar de montagens com Abdias Nascimento, em Rapsódia Negra e O Filho Pródigo, entre outras, fez Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes; Casa Grande e Senzala, e Romanceiro da Inconfidência.
A estreia no cinema se deu com Orfeu Negro, feito a partir da peça de Vinícius, e dirigido pelo francês Marcel Camus. Depois vieram cerca de 40 filmes, entre os quais Ganga Zumba, Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro, As Filhas do Vento, Acalanto, Memórias da Chibata, e O Maior Amor do Mundo, sendo, destes citados, quase todos agraciados com prêmios de melhor atriz para Léa Garcia.
Na TV, onde começou a atuar ainda em 1950 no Grande Teatro da TV Tupi, também teve uma participação de sucesso, atuando em muitas novelas na TV Globo, Manchete e TV Rio, além de séries e minisséries, que a popularizaram entre o grande público.
De Assim na Terra como no Céu, de Dias Gomes, passando por Xica da Silva, Escrava Isaura, Minha Doce Namorada (1971), O Homem que Deve Morrer (1971), de Janete Clair, O Clone, todas na rede Globo, os sucessos foram muitos.
Como diz um trecho de publicação da atriz Tais Araújo, que atuou com ela na segunda versão de Xica da Silva, e outras produções, … “lá se vai uma RAINHA. Perseverante, leve como uma pluma, cheia de bom humor, sábia com palavras doces e certeiras, firme sem nunca perder a ternura. Eu te agradeço Léa. Agradeço por cada passo, por cada abraço, cada gargalhada, cada palavra de apoio, cada olhar acolhedor”…