Real motivo da medida do TSJ “é tentar silenciar as vozes que se opõem à política neoliberal”
Em ato realizado em Caracas no sábado (12), o Partido Comunista da Venezuela (PCV) repudiou a decisão do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ) que decretou a intervenção no partido, o que classificou de “arbitrária” e atentatória aos “direitos políticos do partido”, que é o mais antigo do país, tendo sido fundado em 1931.
O secretário-geral Oscar Figuera denunciou que o real motivo da medida do TSJ “é tentar silenciar as vozes que se opõem à política neoliberal” do regime Maduro.
Os comunistas apoiaram desde o inicio a revolução bolivariana liderada pelo presidente Hugo Chávez, mas em 2020 se retiraram da coalizão governista Pólo Patriótico, encabeçada pelo PSUV de Maduro, após a guinada neoliberal de Maduro na tentativa de um acordo com o agressivo imperialismo norte-americano e suas sanções, e com o país sob hiperinflação. A direção legítima do PCV foi eleita no seu 16º Congresso, em novembro de 2022.
O TSJ determinou a instalação de uma direção provisória no PCV, atendendo pedido apresentado por um grupo de supostos militantes do PCV, encabeçado por Henry Parra, em nome das “bases do partido”, que seriam contra a saída do partido da base governista.
Para Figuera, o operativo da manobra que destituiu arbitrariamente a legítima direção do PCV é Diosdado Cabello, que “durante anos fez campanha pedindo um assalto ao PCV”. A intenção do regime, acrescentou, é impedir que surja uma nova opção de mudança política “a partir do campo dos trabalhadores”.
Em maio, os dissidentes – que a direção do PCV assevera se tratar de funcionários e militantes do PSUV fantasiados de pecevistas – realizaram no Teatro Bolívar, em Caracas, um assim dito “congresso” das “bases do PCV em desacordo com a direção nacional”.
Parra, o porta-voz do grupo, anunciou em junho uma campanha para “recuperar o Partido Comunista da Venezuela”, alegando que a direção nacional havia sido “sequestrada” por Figuera, e impetrou um recurso à Sala Constitucional do TSJ. Segundo ele, o congresso do PCV de novembro passado foi “excludente” e só teve a presença de uma “minoria de comunistas”.
Por sua vez a direção de Caracas do PCV denunciou a ação de Parra e seu grupo como uma “manobra vil para usurpar a legalidade do PCV, dando um novo golpe nos direitos políticos do povo venezuelano e na possibilidade de se organizar em liberdade e com seus próprios critérios, violando a autonomia das organizações sociais e partidárias”.
“Todos esses golpes têm um único objetivo, o de se apropriar da legenda do “Galo Vermelho” [o tradicional símbolo do PCV], para impedir que o povo venezuelano tenha uma opção com referências morais com as quais possa se identificar nas próximas eleições, muito diferente dos fatores relacionados ao governo/PSUV e à direita pró-imperialista”, acrescentou.
Ainda em maio, um encontro de 50 partidos comunistas do mundo inteiro emitira comunicado chamando o regime Maduro a “tirar as mãos” do PCV. “Enquanto o PCV promove e participa das lutas pela melhoria dos salários, da renda do povo e dos direitos dos trabalhadores em geral, o governo venezuelano opta pelo caminho escorregadio da criminalização das lutas e das perseguições anticomunistas»,assinalou o documento.
O encontro também exortou Maduro a desistir de tornar o PCV um “instrumento a serviço da política antipopular”, denunciando a fabricação de “uma paródia” do Partido Comunista. “ Expressamos nossa solidariedade com o povo venezuelano que é vítima tanto das sanções e ataques imperialistas quanto das políticas antipopulares que estão sendo aplicadas”, conclui o comunicado.
Com eleições gerais previstas para o próximo ano, espera-se a intensificação dessas ações para resolver judicialmente divergências políticas; anteriormente, o TSJ já determinou intervenção em outros partidos até então aliados, como o Pátria Para Todos.
O que também coincide com o fracasso da tentativa de sujeitar a Venezuela aos interesses de Washington, sob a farsa do autonomeado “presidente Guaidó”, ungido então por Trump.
Em outra frente, na semana passada Caracas obteve uma grande vitória com a decisão de um tribunal português mandando entregar ao legítimo dono, a Venezuela, US$ 1,5 bilhão que haviam sido ilegalmente congelados em meio à farsa de Guaidó.