O uso do cachimbo já deixou a boca torta
O presidente não é o presidente, vice não é vice. PCdoB cai na roda
Os candidatos a presidente – e aos demais cargos em disputa – nas próximas eleições, estão lançados. Nesta edição, procuramos fornecer um panorama, ainda que sintético, das decisões mais importantes tomadas pelos partidos.
Debaixo da pior lei eleitoral da história da República, que substitui as propinas com que certos partidos inflavam campanhas, e falsificavam eleições, por recursos públicos desviados da Educação, Saúde, etc., o povo brasileiro irá votar no dia sete de outubro.
Esta lei eleitoral – um remendo na lei de 1997 – é a catadura de uma oligarquia política em avançado estado de putrefação.
Qual a lógica de conceder quase 40% do infame “fundo eleitoral” – R$ 623 milhões, 345 mil e 472 reais – a apenas três partidos, ao PT, PMDB e PSDB, tirando esse dinheiro do atendimento ao povo?
Qual a lógica de dividir o tempo de campanha, nas TVs e rádios, de uma forma que faz dele um monopólio privado desses mesmos partidos?
A lógica é permitir que as organizações criminosas que se locupletaram com o assalto ao dinheiro público e à propriedade pública – sobretudo à Petrobrás e aos fundos de pensão das estatais – continuem se locupletando com os recursos que pertencem ao povo brasileiro.
Esse remendo na lei, instituindo um “fundo eleitoral” para substituir as propinas – isto é, “legalizando” o assalto do PT, PMDB, PSDB, e seus satélites, ao Erário – foi concebido pelo PT, sob a inspiração (?) direta de Lula, que declarou, em julho de 2017: “Se os políticos não tiverem coragem de mudar a legislação eleitoral para criar um fundo de financiamento de campanha, para que não fique mais dependendo de empresário, o Brasil não vai ter jeito”.
Poucas vezes se defendeu tanta indecência com tanto descaramento. Como se o PT tivesse recebido propinas porque faltava um fundo eleitoral – e não porque são ladrões os que receberam essas propinas!
Tão cínica quanto, é a solução: substituir recursos públicos roubados – inviáveis após a deflagração da Operação Lava Jato – por recursos públicos “legalizados” em um fundo (v. a primeira versão do fundo em HP 21/06/2017, Partidos corruptos querem que o Erário financie suas eleições).
O PT é essa farsa itinerante, que chama de coragem a falta de vergonha.
Assim, também, é a chapa que anunciou na segunda-feira: o candidato é Lula, aquele que tinha “prioridade absoluta”, mas o candidato real é Fernando Haddad.
O candidato a vice é Haddad, mas a candidata a vice real é a constrangida (com razão) deputada Manuela d’Ávila, do PCdoB – se o PT não lhe aplicar outra rasteira, o que, aliás, é uma covardia com a Manu (v. PT propõe à Manuela ser vice do vice).
O PT prometeu peitar a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que determinava a apresentação da chapa completa até o dia 6 (24 h após o término do prazo para as decisões partidárias). Saindo da cela de Lula, na PF de Curitiba, a presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann, disse, literalmente, que seu partido ia esperar até o dia 14 para apresentar um candidato a vice-presidente.
Dois dias depois, o PT desistiu da bravata e resolveu apresentar Haddad como candidato a presidente… não, alto lá! O candidato é Lula. Haddad é só o vice…
O negócio é uma farsa tal, que Gleisi Hoffmann comunicou o seguinte:
“Discutimos uma estratégia de participação em que, até a regularização da situação judicial de Lula, a vocalização da campanha do presidente Lula seria feita através de um companheiro do PT”.
Então, agora sabemos que o Haddad foi escolhido por ser o melhor boneco de ventríloquo do Lula.
Portanto, o candidato de verdade é tão falso quanto o candidato de mentira.
Haddad foi escolhido por ser um zero à esquerda, do ponto de vista político – não ocupa lugar algum, muito menos aquele que Lula acha que é seu.
Já Lula, como todo mundo sabe, está condenado, por receber propina, a 12 anos e um mês de cadeia – e está cumprindo sua pena. Como lembramos – e outros também já o fizeram – mesmo que estivesse solto, seria inelegível, pois a Lei da Ficha Limpa proíbe a candidatura de criminosos que tenham sido condenados por “órgãos colegiados” – ou seja, em segunda instância, o que é, precisamente, o caso de Lula, condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), órgão colegiado de segunda instância.
Portanto, Lula não pode ser candidato nas próximas eleições.
O PT sabe disso, Lula sabe disso. Tanto sabem que, na segunda-feira, a defesa de Lula requereu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a desistência de seu pedido de “efeito suspensivo” em um recurso extraordinário, que é como se chamam os recursos ao STF (v. ‘Lula lesou Petrobrás para manter esquema de cartel e corrupção’).
O “efeito suspensivo” (a suspensão da pena de Lula), como apontamos, é ilegal. Mas, desde quando a defesa de Lula desistiu de um recurso porque ele era ilegal ou incabível?
Entretanto, dessa vez, Lula – a decisão, segundo o PT, foi dele – pediu desistência de seu próprio recurso.
Por quê?
Porque o ministro Luiz Edson Fachin perguntou aos advogados de Lula se eles queriam discutir a inelegibilidade de seu cliente no âmbito do STF.
A questão fora levantada pelos próprios advogados: talvez por incompetência, ao argumentar contra a decisão de Fachin, que negou o “recurso extraordinário”, os advogados frisaram que sua concessão era urgente por causa dos “direitos políticos indevidamente cerceados, o que, em vista do processo eleitoral em curso, mostra-se gravíssimo e irreversível”.
Assim, Fachin enviou o recurso de Lula para o plenário do STF, responsável por apreciar questões referentes a direitos políticos – e o recurso seria apreciado nesta semana.
Porém, os advogados recorreram também contra o envio do recurso ao plenário do STF – queriam que o julgamento fosse na segunda turma, onde Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, o trio peto-tucano, têm maioria.
Foi nessa altura dos acontecimentos que o ministro Fachin pediu aos advogados de Lula que esclarecessem o que queriam que o STF discutisse.
A resposta foi a desistência da ação. Nela, dizem os advogados de Lula que nunca pretenderam discutir a elegibilidade de seu cliente…
Naturalmente, a desistência é uma forma de impedir o STF de discutir a questão. Porque Lula sabe perfeitamente qual seria a decisão do Supremo – a Lei da Ficha Limpa, depois de ser aprovada nas duas casas do Congresso por unanimidade, e depois de assinada pelo próprio Lula, foi julgada constitucional, pelo STF, depois de longa discussão, em fevereiro de 2012.
Lula e o PT, portanto, preferem encenar uma pantomina, com um candidato que não é candidato e com outro candidato que não é nada (ou, segundo a presidente do PT, é um “vocalizador” de Lula).
A decisão do STF impediria a continuação dessa presepada.
CARLOS LOPES
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