Governistas consideram inaceitável que a PF já tenha acesso ao sigilo de Bolsonaro; oposição se recusa a pedir os documentos por conta do caso das joias
Com o cerco se fechando, as reuniões da CPI Mista do Golpe, no Congresso Nacional, têm sido mais tensas.
Foi o caso desta terça-feira (22), em que houve quebra de acordo que tinha sido selado entre o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), e a relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), para permitir acesso aos dados bancários da deputada Carla Zambelli (PL-SP), do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e, ainda, da ex-primeira-dama Michelle.
Segundo fontes próximas às negociações, Maia havia concordado com o pedido de Eliziane de colocar em votação a quebra do sigilo fiscal e bancário de Zambelli, e os relatórios de movimentação financeira de Bolsonaro e Michelle.
Eliziane já havia recuado na apresentação do requerimento da quebra do sigilo do presidente nacional do PL (Partido Liberal), Valdemar Costa Neto, pela grande resistência de o Congresso abrir precedente contra dirigente de partido.
Fontes que participaram da reunião relataram, pela manhã, que Eliziane Gama, deputados e senadores da base governista estavam reunidos. E Arthur Maia entrou por meio de viva-voz. Ele se recusou a colocar os assuntos para votar e o clima foi bastante tenso.
ACESSO AO SIGILO DE BOLSONARO
Os governistas consideram inaceitável que a PF (Polícia Federal) já tenha acesso ao sigilo de Bolsonaro, enquanto a CPMI não consegue acessar sequer o relatório de movimentação financeira do ex-chefe do Executivo.
Enquanto isso, a oposição se recusa a pedir os documentos por conta do caso das joias, que não teria relação com a tentativa de golpe de Estado, dia 8 de janeiro, por parte de apoiadores do ex-presidente.
O governo tem maioria para aprovar requerimentos, mas Maia tem o poder de pautar. Agora à tarde, estava marcada reunião fechada às 12h e a reunião aberta da CPMI às 14h. Procurados, Maia e Eliziane não se manifestaram.
Diante do impasse entre governo e oposição, foi cancelada a reunião que estava marcada, adiando, então, a votação de requerimentos de quebras de sigilo referentes às investigações sobre o ex-presidente e Zambelli. A pauta de votações da reunião sequer chegou a ser definida.
NOVO DEPOIMENTO NESTA QUINTA
O Colegiado se reúne novamente, nesta quinta-feira (24), para ouvir o depoimento de Luis Marcos dos Reis, sargento do Exército que integrava a equipe da ajudância de ordens do ex-presidente.
Reis é apontado como responsável por movimentação atípica de recursos financeiros que tiveram como destinatário o coronel Mauro Cid — chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro — o “ex-faz-tudo”.
As informações estão em RIF (relatório de inteligência financeira) produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e forma enviadas à CPMI no último dia 11. O documento é sigiloso, mas partes do conteúdo foram divulgadas pela imprensa.
No requerimento em que se pede a convocação de Reis, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) identifica o sargento como “servidor responsável por atender demandas de Mauro Cid”, e afirma que o depoimento dele é “fundamental”. Outros seis parlamentares também pediram a convocação dele.
ORGANIZAÇÃO DOS ATOS GOLPISTAS
Os requerimentos se debruçam, principalmente, sobre as ligações de Reis com a organização dos atos golpistas. O senador Fabiano Contarato (PT-ES), por exemplo, explica que as investigações policiais que envolvem a equipe de auxiliares do ex-presidente apontam premeditação e envolvimento dos servidores nos atos atentatórios à democracia e ao Estado de Direito.
“Tais documentos que comprovariam a tentativa de golpe de Estado foram encontrados em mensagens trocadas entre o coronel Mauro Cid e o sargento Luis Marcos dos Reis”, diz o senador.
Luis Marcos dos Reis vai ser ouvido na condição de testemunha. Em maio, ele foi preso durante as investigações de esquema de falsificação do cartão de vacinação de Bolsonaro e da filha Laura.
M. V.