Com todos os indicadores indicando inflação em declínio, presidente do BC insiste em descontrole
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender a manutenção dos juros altos no Brasil. Ao falar na Conferência Anual do Santander (banco espanhol no qual trabalhou), na terça-feira (22), Campos Neto disse que, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a mensagem do BC foi de que os juros ainda “precisam ser restritivos”.
Apesar da clara desaceleração da inflação, apontada pelos indicadores IPCA e IGPM, Campos Neto declarou que a inflação não está sob controle no Brasil e que o arrocho ao crédito, aos investimentos e ao consumo, por meio dos juros altos, precisa ser mantida.
“A batalha contra a inflação não está ganha. Em nossa comunicação, adotamos que os juros ainda precisam ser restritivos”, disse o presidente do BC.
Campos Neto também voltou a criticar o crédito direcionado e citou a “desancoragem” das expectativas do “mercado” para opinar na questão fiscal do governo – metendo novamente o bedelho onde não é chamado, já que não cabe ao BC tratar de um tema que não lhe compete, mas ao Ministério da Fazenda.
Aliás, ao manter a política monetária “restritiva”, o BC “independente” de Campos Neto está impondo o aumento dos gastos do setor público com o serviço da dívida. Ou seja, aumentando o endividamento público. Mas isso não preocupa Campos Neto, já que quem sai ganhando são os banqueiros, magnatas que vivem do rentismo e outros especuladores da dívida, a quem este está prestando um bom serviço.
No acumulado de 12 meses até junho, a transferência de recursos públicos para o pagamento de juros da dívida pública atingiu a soma de R$ 638,1 bilhões (6,18% do PIB). No mesmo período do ano passado foram pagos R$ 588,6 bilhões.
Por outro lado, a política monetária do BC também impõe a fórceps uma restrição aos gastos públicos, ao ceifar – via juros da dívida – recursos da saúde, educação, segurança pública e demais investimentos sociais, como por exemplo, obras de infraestrutura, fomento a pesquisas e desenvolvimento de tecnologia, etc.
Com o BC mantendo os juros reais em níveis de agiotagem, a atividade econômica do país desacelerou no segundo trimestre em comparação com o primeiro, de acordo com os indicadores que monitoram a evolução do PIB brasileiro. O IBC-Br do BC aponta que a economia do Brasil cresceu 0,43% no período. Já o Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV) registrou um crescimento de apenas 0,2%.
Na passagem de maio para junho, a produção industrial do país variou +0,1%, as vendas do comércio varejista ficaram estagnadas (0,0%), segundo dados do IBGE. Já o setor de serviços, obteve um crescimento apenas +0,2% no período.
ANTONIO ROSA