Não importa para onde fujam, “corruptos e corruptores” serão “perseguidos, capturados e levados à justiça”, afirmou Xi Jinping no 19º Congresso do partido chinês.
O presidente chinês Xi Jinping reafirmou no 19º Congresso do Partido Comunista chinês, que se encerrou nesta terça-feira (23), o compromisso da China de “nunca buscar a hegemonia nem se engajar em expansão” seja qual for o nível de desenvolvimento alcançado, defender a paz e contribuir para “um futuro compartilhado para a humanidade”.
No seu informe ao Congresso, Xi convocou os 89 milhões de militantes a, em duas etapas, até o centenário da vitória da revolução chinesa em 2049, tornar a China “um poderoso país socialista modernizado, que seja próspero, democrático, civilizado, harmonioso e belo”. O líder chinês reiterou ainda que a luta contra a corrupção – que chamou de “maior ameaça ao partido” – é “irreversível” e que “corruptos e corruptores”, não importa aonde se escondam, “serão perseguidos, capturados e levados à justiça”.
Após assinalar que a meta de construir um socialismo moderadamente abastado estará concluída até 2020 e que o socialismo com características chinesas está entrando em uma “nova era”, o presidente Xi chamou a atenção para que “a principal contradição enfrentada pela sociedade chinesa evoluiu” e agora “é entre o desenvolvimento desequilibrado e inadequado e as necessidades cada vez maiores do povo para uma vida melhor”.
Como Xi assinalou, conquanto “as necessidades básicas de mais de um bilhão de pessoas se encontram essencialmente atendidas” – o que é uma proeza histórica inédita em tão curto intervalo de tempo -, são cada vez “mais amplas” as necessidades materiais e culturais das pessoas a serem respondidas: “suas demandas de democracia, estado de direito, justiça, segurança e um ambiente melhor estão aumentando”.
Conforme Xi, esse processo “não será um passeio no parque” e demanda pelo menos “15 anos de trabalho duro”. Ele recordou o papel do partido para tirar a velha China da situação de humilhação legada pela Guerra do Ópio e da trágica acumulação de pobreza e debilidade”. Xi conclamou o partido a trabalhar incansavelmente para concretizar o sonho de renascimento nacional e a avançar na reunificação da pátria, com base no “um país, dois sistemas” – o que significa, essencialmente, Taiwan.
2.336 delegados participaram do congresso e elegeram o novo comitê central de 204 membros e 172 suplentes. Os “14 pontos” para desenvolver o sistema socialista chinês destacados por Xi incluem a persistência nas chamadas reformas estruturais [“pelo lado da oferta”] e “os novos conceitos de desenvolvimento”; a percepção do povo como dono do país e da legalidade socialista; a manutenção dos valores-chave do socialismo; e a coexistência harmoniosa entre o ser humano e a natureza.
O balanço desde o congresso anterior é altamente positivo. Mais de 60 milhões de pessoas saíram da pobreza nos últimos cinco anos. A economia manteve uma taxa de crescimento média-alta, tornando a China líder entre as principais economias, e contribuindo com mais de 30% do crescimento econômico global. O PIB passou de 54 trilhões de yuans para 80 trilhões de yuans (US$ 12 trilhões) nos últimos cinco anos. A produção anual de grãos atingiu 600 milhões de toneladas métricas. O nível de urbanização aumentou em uma média anual de 1,2 pontos percentuais, e mais de 80 milhões de pessoas se mudaram de áreas rurais para áreas urbanas permanentemente.
Refletindo as mudanças em curso na China, em 2016 o consumo representou cerca de 54% do PIB. A China também procedeu à reestruturação e fusão de estatais, para modernizar, como nos trens de alta velocidade, indústria nuclear, indústria aeroespacial e de defesa, ou para eliminar capacidade em excesso como no caso da siderurgia. O setor estatal é que “puxa” a economia. Pequim também tomou medidas para controlar a especulação imobiliária e financeira. Tornou-se o maior produtor mundial de automóveis, com 28 milhões de veículos no ano passado. Na robótica, avança a passos largos, com 90 mil novos robôs em 2016, metade do total mundial e 30% a mais que no ano anterior.
A China também está desenvolvendo o projeto do Cinturão e Rota da Seda, compreendendo um intenso desenvolvimento de ferrovias, portos, fibra ótica e gasodutos desde o país asiático até a Europa, passando pela Ásia Central, pela Rússia e por via marítima, e com extensões para a África e América Latina.
CÂMBIO E JUROS
Xi também asseverou que a China vai tornar as empresas chinesas “globalmente competitivas” e que o câmbio e os juros serão “cada vez mais ditados” pelos mercados – seja lá o que isso quer dizer, sob o sistema bancário estatal e o governo chinês. Pequim vem ainda insistindo na “globalização ganha-ganha”, o que já mereceu do Economist a irônica descrição de que parecia estar ecoando o que Washington costumava dizer nos fóruns globais, e que mudou sob Trump e seu rompimento com acordos como o TPP. Em agosto, o FMI advertiu que a dívida da China, de 235% do PIB, estava “numa trajetória perigosa”. A China é o maior exportador do planeta, e o segundo maior importador, e já é a segunda maior fonte de investimento direto no estrangeiro.
Quanto aos desequilíbrios detectados no informe de Xi, é oportuno que a questão esteja sobre a mesa. A restauração do mercado na China teve como consequência, como não podia deixar de ser, a intensificação da desigualdade e, conforme pesquisa da revista chinesa Hurun, equivalente à Forbes, a China agora representa 36% dos bilionários do planeta. Em 2003 não havia nenhum. Segundo estudo realizado pelo economista francês Thomas Piketty, a participação na renda nacional chinesa dos 50% mais pobres da população caiu de 28% para 15% no período de 1978-2015, enquanto a renda dos 10% mais ricos subiu de 26% para 41% no mesmo período. Os 1% agora detêm 13% do PIB. Também há desenvolvimentos auspiciosos: no final de 2016, o seguro médico básico atingiu mais de 1,3 bilhão de cidadãos chineses, representando mais de 95% da população total. O novo sistema integrou o seguro básico para servidores públicos e de estatais urbanos e o novo esquema médico cooperativo rural.
ANTONIO PIMENTA