E Campos Neto só pensa em como acabar com o parcelamento sem juros
Com a manutenção da política de juros altos do Banco Central (BC), a taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo do cartão chegou em 445,7% ao ano, o que corresponde a uma alta de 8,7 pontos percentuais na comparação com junho, segundo dados divulgados pelo BC, nesta segunda feira (28). Já a taxa média de juros do parcelado do cartão aumentou 2,3 pontos, para 198,4% ao ano.
A inadimplência para as pessoas físicas ficou em 6,2% no mês passado, sendo 49,5% das dívidas atrasadas ligada ao cartão de crédito rotativo e de 10,3% no parcelado do cartão.
Por sua vez, a taxa do cheque especial recuou 2,1 pontos percentuais, ficando nos absurdos 132,46% ao ano. A do crédito pessoal ficou em 92,7%, avanço de 0,4 p.p na passagem de junho para julho. A inadimplência atrelada às operações destas duas modalidades de crédito correspondem a 13,3% e de 7,4%, respectivamente, do total das dívidas atrasadas.
As taxas de juros seguem extorsivas no Brasil por determinação do Banco Central, que após manter a taxa básica de juros (Selic) por um ano em 13,75%, elevando as demais taxas de juros no país, reduziu a Selic em agosto em apenas 0,5 ponto percentual, garantindo os brasileiros como os maiores pagadores de juros reais do mundo – quando descontada a inflação.
Segundo o BC, o comprometimento da renda – relação entre o valor médio para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período – ficou em 28,3% em junho.
Para 87% dos brasileiros, os juros altos são o grande problema do Brasil hoje, aponta uma pesquisa feita pela Genial/Quaest, divulgada este mês. A citação dos juros altos como o principal problema atual do país ficou atrás somente da violência, com 96% das menções, e a frente do racismo, com 80%, seguido por notícias falsas (79%), e desemprego/falta de oportunidade (79%).
No entanto, o Banco Central que elevou a Selic às pressas e de forma agressiva, de 2% em março de 2021 para 13, 75% em agosto de 2022, afirma ser “pouco provável” a aceleração dos cortes na taxa de juros. E o presidente do BC, Roberto Campos Neto, contrário a impor limites à cobrança extorsiva de juros no Brasil, está jogando a culpa do aumento da inadimplência no país para os consumidores brasileiros, que foram e continuam sendo afetados pela política contracionista monetária do BC, que busca – via juros altos – levar o país para recessão econômica e ao aumento do desemprego.
Para derrubar ainda mais os indicadores econômicos no país, Campos Neto está propondo elevar a restrição de crédito. Ele propõe acabar com o rotativo, jogando as dívidas direto para o parcelamento, cobrando uma taxa ao redor de 9% ao mês – o que daria 181% ao ano -, acabando com o parcelamento sem juros no cartão de crédito – garantindo, assim, por um lado os ganhos dos bancos e, por outro, inibindo o consumo, particularmente, para os trabalhadores de baixa renda.
Na semana passada (14), entidades do comércio, entre outros segmentos, manifestaram posicionamento contrário à proposta de Campos Neto. “O parcelamento sem juros é a oportunidade de adquirir um produto ou serviço em condições que se encaixam melhor em seu orçamento, muitas vezes atendendo a necessidades urgentes”, destacam os empresários do comércio, do setor de serviços e de entidades de defesa do consumidor em seu manifesto. O cartão de crédito responde por 40% do consumo no Brasil, segundo dados do próprio BC.
O comércio, assim como a indústria e o setor de serviços, está sendo fortemente prejudicado pelo enfraquecimento da demanda de bens e serviços no Brasil, causada pelos juros altos. Na passagem de maio para junho, as vendas do comércio varejista registraram 0,0% de crescimento, a produção industrial variou +0,1% e o setor de serviços avançou apenas +0,2%, segundo dados do IBGE.
De acordo com os dados divulgados pelo BC, ainda, em um ano, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 8,2%. Na mesma base de comparação, o ritmo de expansão do crédito às empresas desacelerou para 2,7%, ante 3,5% em junho, assim como o volume de crédito às famílias passou de um crescimento de 13,2% em junho para 12,1% no mês passado.