Zona do euro beira a estagnação no 2º trimestre e previsão é de retração no 3º

Acúmulo de peças armazenadas mostra queda no ritmo de produção em fábrica francesa de peças para automóveis (Reuters)

Desempenho da economia europeia no segundo trimestre deste ano foi revisado pela Eurostat de 0,3% para 0,1%, enquanto a trajetória negativa da Alemanha puxa a região para baixo

Sob o “peso sombrio da queda das exportações e da estagnação do consumo interno” – uma forma elegante de se referirem ao repuxo das sanções decretadas contra a Rússia -, a zona do euro repetiu no segundo trimestre a quase estagnação registrada no primeiro, 0,1%, segundo a revisão em baixa da Eurostat, a agência europeia de estatística.

Pra frente, as perspectivas não são melhores, especialmente diante da previsão, do FMI, de recessão na Alemanha até o final do ano e profusão de sinais de que a locomotiva alemã está rateando. Na comparação anual, o PIB da zona do euro desacelerou de 1% para 0,5%.

A Alemanha sofreu um recuo na comparação anual de 0,1% e estagnou em relação aos primeiros três meses do ano, depois de seis meses acumulados de contração. O PIB da Itália encolheu em comparação com os primeiros três meses do ano, embora, numa base anual, o resultado seja + 0,4%.

A França, que conseguiu aumentar a sua produção econômica em 1% em comparação com o mesmo trimestre do ano de 2022, vem perdendo fôlego e cresceu 0,5% na comparação com o trimestre anterior.

Os três países representam metade de todo o PIB da UE. A Holanda está em recessão, tendo registrado contração de 0,3% no PIB do 2º trimestre ante o 1º tri, com queda de 0,4% no primeiro trimestre com relação ao último do ano anterior.

As exportações diminuíram 0,7% tanto na zona do euro como no conjunto dos 27 países da União Europeia, em parte devido ao abrandamento do comércio com a China e ao declínio acentuado da indústria automobilística alemã. A produção industrial na Alemanha caiu pelo terceiro mês consecutivo em julho.

O emprego mostrou, segundo o Eurostat, sinais de crescimento moderado, na UE, e lento na zona do euro no segundo trimestre de 2023, aumentando respectivamente 0,1% e 0,2%, na comparação com o trimestre anterior. De forma emblemática, os países que puxaram o crescimento do emprego no período foram Lituânia, Portugal e Malta. Por outro lado, os dados também mostraram que o número de desempregados na zona do euro aumentou 73 mil em julho em relação a junho.

Quanto à inflação, puxada pelas sanções e suas decorrências, foi de 5,3% em agosto, de acordo com o índice de preços ao consumidor (IPC). Já a inflação alimentar aumentou em média 9,8%. No cômputo final da inflação de 5,3% são excluídos, pelas normas europeias, “energia, alimentação, álcool e tabaco”.  De acordo com o Eurostat, os custos de energia subiram 3,2% em agosto em relação ao mês anterior na zona do euro.

Foi a industrializada economia alemã a mais golpeada. Paralisada pela perda de gás natural russo barato, juntamente com a inflação e a recessão, Berlim tem enfrentado a perspectiva de desindustrialização, à medida que fazer negócios na Alemanha se torna não-lucrativo. As vendas no varejo alemão caíram ainda mais do que o esperado em julho, despencando 0,8% em relação ao mês anterior, mostrou o Departamento Federal de Estatística (Destatis).

Não foi por falta de aviso de Moscou de que, ao se autoinfligirem a exclusão do gás barato russo, em prol do caro GNL de procedência norte-americana, os alemães estavam pondo em risco a competitividade de sua indústria.

A economia alemã – a locomotiva econômica da Europa – está em estado de “choque” devido à inflação e rebaixamento da demanda, advertiu o Instituto Econômico Alemão (IW). Segundo o qual as empresas e indústrias alemãs “sentirão ainda mais os problemas globais” este ano devido à escassez e ao aumento dos preços das matérias-primas e da energia.

Ainda de acordo com essa previsão, o comércio global lento e a procura fraca resultarão em um produto interno bruto inferior ao esperado para a maior economia da UE, devendo cair “quase 0,5% em relação ao ano passado”, com desemprego subindo para 5,5%. Os investimentos na construção de moradias deverão cair 3% este ano. “O governo precisa urgentemente de tomar medidas para pôr fim a esta recessão econômica”, disse o chefe da unidade macroeconômica e de investigação do ciclo econômico do IW, professor Michael Gromling.  

Também segundo a CNBC, o economista-chefe do Berenberg Bank, Holger Schmieding, disse que o “espírito” da economia alemã estava “em queda livre” porque as empresas alemãs “estavam prestes a transferir as suas instalações de produção para países com eletricidade e gás natural mais baratos”.

Para completar, há a previsão do FMI de que economia da Alemanha será a única no G7 a não crescer até o final do ano; aliás, deve encolher. O estrago é ainda maior nos ramos de produção com utilização intensiva de energia, como a metalurgia, a fabricação de papel, a cerâmica e o vidro, sob o dilema de fechar as portas ou migrar para os EUA.

O suposto “fim da dependência energética” da Rússia teve também um efeito colateral inesperado. Enquanto a Alemanha importava anteriormente cerca de 5% dos fertilizantes de que necessitava, agora chega a quase 20% porque a produção interna se tornou extraordinariamente cara. As quantidades de fertilizantes importados especificamente da Rússia para a Alemanha aumentaram 334%, um aumento de quatro vezes.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *