“Se nós fazemos aviões, por que não podemos fazer fármacos de alta complexidade e ter uma indústria de saúde muito mais avançada e inovadora?”, questionou o presidente do BNDES, Aloysio Mercadante
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, defendeu na última terça-feira (12) investimentos no complexo econômico industrial da saúde, responsável por 9,6% do PIB, visando reduzir a atual dependência do país em insumos, medicamentos e equipamentos estrangeiros.
Para Mercadante, é uma questão de soberania o Brasil avançar na capacidade de produção e inovação neste setor.
Destacando a importância do Sistema Único de Saúde e o desempenho que teve à frente no combate à pandemia da Covid-19, Mercadante afirmou que “o SUS tem um poder de compra gigantesco, e esse poder de compra precisa estar associado ao esforço de industrialização, de evolução científica, tecnológica e produtiva do Brasil”.
“Todos os acordos comerciais que nós estamos envolvidos há sempre uma tentativa de contenção do poder de compra do Estado”, denunciou. “No entanto”, prosseguiu Mercadante, “se vocês olharem os Estados Unidos, hoje, nós estamos vendo um Plano Marshall ao revés, que foi usado para reconstruir a Europa”. De acordo com ele, hoje os Estados Unidos estão centralizando na economia americana os setores mais dinâmicos e estratégicos da indústria.
Há três décadas, o Brasil produzia metade de todo insumo farmacêutico ativo (IFA). No entanto, diante do desmonte do complexo industrial nacional de saúde, o país, em 2021, importava 90% das matérias-primas, que dão aos medicamentos as características farmacêuticas que fazem os medicamentos funcionarem.
Mercadante destacou a necessidade de uma mudança na política de preços. “Se a gente continuar comprando pela política de preço que o SUS faz com os produtos importados, não tem como a indústria nacional se instalar e se desenvolver. Tem que ter uma politica que dê segurança jurídica aos servidores, que dê estabilidade, que dê segurança, para que a gente possa ter uma curva de preço para que o setor possa crescer, a indústria nacional possa se desenvolver e depois alinhar com as boas práticas e os preços a nível internacional”.
“Se nós fazemos aviões, por que não podemos fazer fármacos de alta complexidade e ter uma indústria de saúde muito mais avançada e inovadora?”, questionou Mercadante, após citar a Embraer, que contou com apoio financeiro do BNDES e hoje é a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo.
“A Embraer é um bom caminho por onde temos que voar para poder chegar aonde nós queremos”, disse Mercadante, acrescentando que o BNDES já financiou mais de 1,4 mil aeronaves da empresa.
O presidente do BNDES também questionou a política tarifária que durante a pandemia zerou a alíquota para 598 produtos. “Não tem como continuar assim, não tem como competir”, disse. “Você importa de uma empresa que tem escala global, que está presente e é hegemônica no mercado, com tarifa zero, você destrói qualquer chance de se produzir no Brasil”, afirmou.
Mercadante citou as Santas Casas hoje responsáveis por um grande número de internações no país e que estão passando por uma grave crise em função dos juros elevados. “A maior taxa de juro real do mundo. É inacreditável! O país que está batendo recorde de superávit comercial, que tem o quinto melhor resultado fiscal do G20, que tem reservas cambiais que poucos países em desenvolvimento possuem, um país que tem inflação abaixo dos Estados Unidos e da Europa, que melhorou o rating, nós temos esse atraso na redução da taxa de juros que aumenta o custo do capital”, criticou o presidente do BNDES.
Ao encerrar, Mercadante destacou que “não vão faltar recursos”, com taxas de juros especiais, para financiar projetos de inovação e parcerias para financiar a indústria de saúde.
Assista na íntegra o discurso de Aloizio Mercadante no “Seminário Saúde e Soberania: o complexo econômico industrial da saúde como estratégia de desenvolvimento para o Brasil”. O evento foi realizado pelo banco de fomento no teatro da instituição, no Rio de Janeiro.