A Petrobrás informou nesta quinta-feira (9) que recebeu uma devolução de R$ 1,034 bilhão por meio de acordos de colaboração e leniência celebrados no âmbito da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. A empresa diz que é a maior restituição recebida em um único período, que somada aos recursos já transferidos para a companhia desde o início da operação, ultrapassa o montante de R$ 2,5 bilhões.
De acordo com o laudo de perícia criminal anexado pela Polícia Federal (PF) em um dos processos da operação, o prejuízo causado pelas irregularidades na Petrobrás descobertas pela Operação Lava Jato pode chegar à casa dos R$ 42,8 bilhões. Há estimativas que projetam perdas que atingem R$ 60 bilhões. As estimativas têm como base tabelas com os pagamentos de propinas envolvendo as 27 empresas apontadas como integrantes do “Cartel do Bilhão”.
Deste valor que foi devolvido nesta quinta-feira, R$ 774,5 milhões já foram depositados na conta da estatal e o restante dos R$ 259,8 milhões serão transferidos pelo Poder Judiciário à empresa nos próximos dias. O montante que já está nos cofres da Petrobrás é proveniente de dois acordos de colaboração: um com o lobista Zwi Skornick, homologado no Supremo Tribunal Federal (STF) em outubro 2016, e outro de leniência com a empresa Keppel Fels, celebrado no final do ano passado. A Keppel Fels, junto com a Jurong, eram as únicas empresas fabricantes de sondas que fizeram contrato com a Sete Brasil, que não eram ligadas ao cartel das empreiteiras. Ambas eram de Singapura, com filiais no Brasil. Havia uma disputa para ver quem pagava mais propina.
A Sete Brasil foi uma empresa criada pelo governo petista para construir sondas. No entanto, o que ela fez foi intermediar sondas das empreiteiras para a exploração do Pré-Sal. Por ordem do governo, ela assinou contratos com as empreiteiras do cartel que superfaturaram os contratos das sondas em troca da propina. Só um diretor da empresa, Pedro Barusco, que fez acordo de colaboração premiada, devolveu 100 milhões de dólares roubados à Petrobrás. A arapuca criada não entregou uma sonda sequer à estatal.
Representante do estaleiro Keppel Fels, Skornicki teve sua colaboração homologada pelo então ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), que em sua decisão transcreveu trecho do requerimento do Ministério Público Federal. Skornicki afirmou que a empresa Keppel pagou parte da propina ajustada com João Vaccari (ex-tesoureiro do PT) em nome do Partido dos Trabalhadores para o deputado Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira. “Este mesmo parlamentar teria intercedido para a não convocação do colaborador à CPI da Petrobrás”, afirma a Procuradoria. Luiz Sérgio sempre foi conhecido nos meios políticos como “homem de confiança” do ex-ministro José Dirceu, já condenado na Lava-Jato. Na sentença de Vaccari ficou provado que ele recebeu propina do Grupo Keppel Fels.
Oficialmente, em abril de 2015, a Petrobrás divulgou um rombo de apenas R$ 6 bilhões. A cifra foi considerada como conservadora pelo então presidente da Petrobras, Aldemir Bendine – que está preso. Ele mesmo, que foi levado para a Petrobrás por Dilma Rousseff, depois de atuar no Banco do Brasil, no governo Lula, sabia que o roubo era maior do que o que foi publicado no balanço.
As integrantes do cartel chefiado pela Odebrecht pagavam propina a diretores e gerentes da Petrobrás, operadores financeiros e aos partidos políticos que organizaram o assalto, o PT, o PMDB e o PP. Além das devoluções de parte do dinheiro roubado, vários diretores da estatal e integrantes dos três partidos citados estão presos em celas, em prisão domiciliar, ou respondendo a processo.
S.C.