O novo presidente da Colômbia, Ivan Duque, assumiu nesta terça, para um período de 2018 a 2022, com um discurso em que procura ser envolvente na retórica, elogiou o exemplo da resiliência do povo colombiano que construiu um país em meio “a cordilheiras e a tantas dificuldades” mas, pouco explícito acerca das medidas que pretende tomar para enfrentar os desafios deste povo.
Duque declarou, durante a campanha, que iria rever o acordo construído a duras penas entre o governo do presidente anterior, Juan Manoel Santos (que se distanciou da linha do seu antecessor e apoiador de Duque, que era de exterminar os opositores armados) e os líderes da guerrilha principal, as Forças Armadas Colombianas, FARC e, agora, no discurso de posse, fala generalidades tais como : “Durante os primeiros 30 dias de nosso governo vamos realizar uma avaliação responsável, prudente e completa do processo de conversas que durante 17 meses aconteceram com o ELN”, referindo-se aos guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional com o qual o governo anterior não chegou a fechar um acordo de paz, com a deposição de armas, como aconteceu com as FARC, no pacto firmado ao final de 2016.
Em 2017, o governo colombiano e o ELN começaram diálogos de paz em Quito, Equador. As conversações foram transferidas para Havana no passado mês de maio, depois que o presidente equatoriano, Lenín Moreno, afastasse seu país como garante e sede do processo de paz.
Vale lembrar que, nestas eleições – como parte do acordo celebrado em Havana – as FARC indicaram uma bancada de 10 deputados, como compensação pelo abandono da luta armada, mas seu candidato a presidente, o comandante Timochenko, decidiu abrir mão de uma candidatura que foi perseguida por reiteradas ameaças de morte, em um país no qual a morte por assassinato é um destino muitas vezes encontrado pelos líderes sindicais, camponeses e de organizações comunitárias.
“Há que lembrar que o ex-presidente Uribe foi o mandatário que impôs a chamada Política de Segurança Democrática, que em 2006 se tornou conhecida pela prática dos ‘falsos positivos’, o maior escândalo em matéria de atentados aos direitos humanos no país, consistente na execução extrajudicial de jovens recrutados para supostamente trabalhar e cujos cadáveres foram disfarçados de guerrilheiros para ‘aumentar a moral da tropa e mostrar resultados na guerra’”, como denuncia Pietro Alarcón, professor da PUC-SP, representante do Brasil no Comitê Permanente da Colômbia pela Defesa dos Direitos Humanos, em artigo publicado no site Carta Capital*.
Com afirmações perigosamente dúbias, Duque prosseguiu dizendo que quer deixar “absolutamente claro, que um processo com credibilidade deve cimentar-se no fim total de ações criminosas, com estrita supervisão internacional, e tempos definidos”, acrescentou o novo presidente, sem explicitar a que crimes se refere – em especial quando se sabe do sinistro percurso de assassinatos dos paramilitares colombianos.
Reagindo às ameaças, veladas ou explícitas, ao acordo com a guerrilha e em defesa de sua manutenção, milhares de pessoas marcharam com flores, vestidas de branco e bandeiras de Colômbia em mais de 70 cidades, convocadas pelos partidos de oposição. Os manifestantes exigiram a proteção dos líderes sociais, mais de 330 dos quais foram assassinados desde 2016, e que se respeitem os compromissos de paz assumidos com a ex- guerrilha. “Estamos expressando ao novo governo, todas as forças de oposição (…), que aqui há um povo que não suporta mais a violação ao direito à vida, que necessitamos que se implemente corretamente o acordo de paz”, declarou o ex- guerrilheiro e atual legislador, Marco Calarcá.
Apesar de que contará com maioria no Congresso, o herdeiro político de Uribe enfrenta uma forte oposição de esquerda e de centro, que obteve uma grande representação nas eleições legislativas de março. O mentor de Duque teve que renunciar ao seu mandato no senado após ser acusado pela justiça de suborno e fraude processual; a oposição nas ruas cresce dia após dia e aparecem muitos flancos abertos no inicio do mandato. Duque anunciou, também, um pacote de leis anticorrupção e uma reforma para evitar que o narcotráfico e o sequestro sejam considerados delitos políticos.