“O Brasil vai ficar fora das 10 maiores economias do mundo se não passar a investir em semicondutores”, alertou o professor Marcelo Zuffo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) na audiência conjunta das Comissões de Ciência, Tecnologia e Inovação e de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados, ocorrida na quarta-feira (13).
O evento contou com a participação de representantes do governo, da indústria e da academia. Todos os convidados reforçaram a necessidade de o Brasil estabelecer uma política estratégica de desenvolvimento da indústria de semicondutores.
Segundo ele, a indústria de semicondutores tem grande relevância na segurança econômica do país. “O Brasil tem um legado positivo no setor e não estamos sabendo aproveitar”, reforçou.
Professor sênior Marcelo Zuffo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Segundo ele, todo país que não investir pesado nessa indústria, não terá como abastecer depois a demanda por chips de diversos segmentos da economia como, automotivo, agronegócio, o de telecomunicações, energia elétrica, etc. Também não terá chance de continuar a promover sua transformação digital.
Filho do cientista e engenheiro eletricista João Antônio Zuffo, um dos fundadores do Laboratório de Microeletrônica da Poli/USP – Marcelo lamentou que m 1968 o Brasil – cinco anos antes da Coreia do Sul – conseguiu através do seu pai desenvolver um chip dentro de laboratório que abriu as portas do Brasil para o nascimento da indústria de microeletrônica.
Esse setor chegou a florescer na década de 1970, mas depois acabou desmantelada nos anos de 1980 por uma série de erros na política industrial brasileira cometidos por governos. Cujo auge da burrice ocorreu entre os anos de 2019 a 2022 quando o país decidiu extinguir a Ceitec, única fábrica de semicondutores na América Latina que estava pronta para atender ao mercado, inclusive com contratos nos Correios e na Casa da Moeda que acabaram cancelados por pressão do Ministério da Economia.
AÇÕES DO MINISTÉRIO
As principais iniciativas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para impulsionar o crescimento da indústria de semicondutores no Brasil foram apresentadas pelos representantes do MCTI. Duas ações destacadas foram a extensão até 2026 do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis) e a Lei de Tecnologias da Informação e Comunicação (Lei de Informática).
Na exposição, o Secretário de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital do MCTI, Henrique Miguel, compartilhou resultados significativos do Padis, incluindo um faturamento de aproximadamente R$ 4 bilhões para a indústria nacional em 2022, investimentos de R$ 120 milhões em atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) na área de semicondutores, bem como a criação de 2,5 mil postos de trabalho diretos.
Henrique Miguel também ressaltou a importância de modernizar e expandir o Padis como uma forma de fortalecer a cadeia produtiva de semicondutores no Brasil e ampliar a presença do país no mercado global. “Sem o Padis, nossa chance de atrair a indústria e desenvolver o segmento para participar da cadeia global de semicondutores é praticamente zero”, revelou.
Em relação à Lei de TICS, o secretário do MCTI citou que o instrumento incentiva indústrias em mais de 80 municípios brasileiros, beneficia mais de 500 empresas e resulta em R$ 2,4 bilhões de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Henrique Miguel fez um retrospecto sobre a evolução das políticas públicas voltadas ao setor nas últimas décadas e afirmou que a indústria de semicondutores é estratégica para o país e transversal. “A falta de componentes como chips pode ter efeito nos mais variados setores como energia elétrica, transporte, saúde e abastecimento”, apontou.
Para o deputado federal Vitor Lippi (PSDB-SP), autor do requerimento da audiência, não há hoje no mundo nenhum componente tecnológico mais importante do que os semicondutores. “Estamos numa era digital e o Brasil, sendo um dos maiores países do mundo em população e produtor de equipamentos eletroeletrônicos, precisa investir em políticas públicas, pesquisa e inovação para desenvolver a indústria de semicondutores”.