Cargos, verbas e até decreto pró-escravidão
Enquanto isso, as provas dos delitos vão se acumulando
Enquanto a PF descobre, nas planilhas da JBS, mais provas das propinas agasalhadas por Temer (dessa vez foi um pagamento de R$ 1 milhão em 2014, que confirma exatamente o depoimento de Ricardo Saud, diretor da JBS), o ladrão do Jaburu distribuía R$ 829 milhões em dinheiro público para subornar deputados, emitia decreto isentando em 60% as multas devidas por crime ambiental, e implantava o trabalho escravo através de portaria. As provas espoucam – mas a maior delas é a conduta pública de Temer, querendo escapar da Lei e da Justiça pela corrupção.
Temer, até agora – e isto é só o que se conhece – gastou R$ 829 milhões, em dinheiro público, liberando emendas para subornar deputados e fazê-los votar contra a autorização para que seja investigado e processado.
A depravação é tanta nos meios políticos, e em certos meios midiáticos, que houve quem comemorasse porque o preço – aliás, o montante – ficou menor, em relação à primeira denúncia contra Temer.
Porém, R$ 829 milhões são quase um bilhão de reais. R$ 829 milhões equivalem a 13,26% de todos os investimentos orçamentários do governo federal, desde o início do ano até agosto (cf. Tesouro Nacional, RREO, agosto/2017, Anexo 1 – Balanço Orçamentário).
E, obviamente, Temer não liberou R$ 829 bilhões para aumentar os investimentos do governo, mas, apenas e tão somente, para subornar deputados a votarem contra a investigação de suas atividades ilícitas.
Como é possível achar que esse montante de dinheiro público, usado como suborno (pois trata-se disso, caso contrário essas emendas jamais seriam liberadas), é pouco?
Como é possível achar que é legítimo um criminoso – já provado e comprovado – usar dinheiro público para impedir que a Justiça aplique a Lei?
Essa distribuição de dinheiro público é, evidentemente, corrupção.
Mas é feita à luz do dia, como se essa fossa de fedor intransponível pudesse ser legítima e “normal”.
E ainda aparecem imbecis, na televisão, para falar da grande experiência e conhecimento de Temer sobre a Câmara de Deputados, como se suborno e compra de votos tivessem algo a ver com conhecimento ou experiência, exceto aquele próprio da gatunagem.
Como isso é possível?
Simplesmente, leitor, há nos meios políticos – PMDB, PT, PSDB e satélites; na Câmara e no Senado – a convicção (?) de que roubar é a essência da vida pública (ou até da privada).
Ou, dito de outra forma, há quem torne sua vida – tanto a pública quanto a privada – uma série interminável e permanente de operações de compra e venda.
Para essa escória, da qual Temer é muito representativo – na mesma medida em que não representa nada no Brasil, exceto a ladroagem e o servilismo – a normalidade é a permanente prostituição ou a permanente caftinagem, o que é a mesma coisa (pois o que é venda para uns, é compra para outros).
No dia 11 de maio de 2017, a Polícia Federal, ao revistar o escritório de Wesley Batista, sócio da JBS, encontrou uma planilha que registrava um pagamento de um milhão de reais para Temer (v. matéria nesta página).
O pagamento a Temer tem data, na planilha, de dois de setembro de 2014. A mesma data em que, segundo depoimento ao Ministério Público, Ricardo Saud, diretor de relações institucionais da JBS, mandou pagar um milhão de reais ao então vice-presidente de Dilma, um certo Michel Temer.
Essa é a última descoberta, de uma longa coleção dos malfeitos de Temer.
Na denúncia que tramita na Câmara, os procuradores provam que a quadrilha de Temer – ele, Cunha, Geddel, Padilha, Moreira, Henrique Alves e Rocha Loures – abocanhou R$ 587.101.098,48 em propinas na Petrobrás, Furnas, Caixa Econômica, Ministério da Integração Nacional, Ministério da Agricultura, Secretaria de Aviação Civil e Câmara dos Deputados; além disso, assaltaram as obras para a Copa do Mundo (cf. PGR, Denúncia Inquéritos nº 4.327/DF e nº 4.483/DF, pp. 6 e 195).
Não é tudo – com certeza – mas isso é o que se conseguiu provar nesses dois inquéritos, e não é pouco. Além disso, foi provada a associação criminosa (isto é, a formação de quadrilha) para assaltar a coletividade (isto é, o dinheiro público e a propriedade pública) e a tentativa de obstruir as investigações.
Porém, a própria ação atual da quadrilha de Temer prova as acusações – e de modo até mais amplo.
Além de quase um bilhão, em dinheiro público, distribuídos até agora – de modo oficial, sem contar o “por fora” – na última terça-feira, Temer assinou decreto com um abatimento de 60% nas multas por transgressões e crimes ambientais, para comprar a bancada dos latifundiários e agronegocistas.
Na segunda-feira da semana passada, dia 16, o governo emitiu portaria pela qual o não pagamento de salários deixou de ser critério para a autuação por trabalho escravo. Afinal, disse um moleque de recados de Temer, as pessoas têm o direito de trabalhar sem receber. Trata-se de uma escolha.
Realmente, se as pessoas querem trabalhar para morrer de fome, por que seria isso escravidão?
Se, depois dessa “mudança de conceito” do que é escravidão, ainda algum patrão for agarrado por trabalho escravo, não há problema: a portaria também proíbe a divulgação do nome dos escravagistas.
Além disso, Temer promete cargos – e, principalmente, tirar os cargos dos deputados que não votarem para que seus crimes fiquem impunes, como se anunciou após reunião, domingo, no Palácio da Alvorada.
Nem vamos falar das expressões, após essa reunião, de um certo gangster – que da tropa de choque de Cunha passou para a tropa de choque de Temer – porque isso aqui é um jornal de respeito. Não publicamos pornografia nem aberrações escatológicas.
Há poucos meses, um bravo e honesto deputado estadual, o delegado da PF Márcio Pacheco (PPL-PR), definiu bem a situação e deu o nome devido às coisas:
“… publicamente o governo Michel Temer fala: ‘quem não votar naquilo que eu estou obrigando que vote, eu vou tirar os cargos e quem votar eu vou dar um cargo, dois três’.
“Será que eu estou enganado ou isso é uma corrupção pública institucionalizada: ‘você me dá um voto que eu te dou um cargo’?
“Se eu oferecer um cargo a uma pessoa pra que ela vote em mim, isso é crime ou não é crime?
“[Isso é] muito parecido com a tipificação estreita do código penal de ‘corrupção ativa’: oferecer algo indevido para obter vantagem.
“Isso é corrupção pública institucionalizada” (v. HP 05/05/2017).
O que mais se pode dizer sobre a cloaca temerista?
CARLOS LOPES