Produtores de leite do Rio Grande do Sul realizaram uma manifestação contra as importações de lácteos do Mercosul. O ato realizado na última quarta-feira (27) em Frederico Westphalen (RS), foi organizado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag).
O vice-presidente da entidade, Eugênio Zanetti, afirmou que, caso o governo federal não tome providências, as manifestações podem se espalhar pelo país.
A organização estima que participam do protesto de hoje 700 produtores, com 50 tratores. Os pecuaristas estavam mobilizados no trevo que dá acesso ao município.
Os manifestantes estão fechando a via e distribuindo panfletos aos motoristas, alertando sobre a crise que o setor enfrenta e as suas consequências para a sociedade. Depois de um tempo, liberam os carros para seguir viagem.
“Lideranças, vereadores e prefeitos da região aderiram ao movimento. É uma manifestação pacífica”, afirma Zanetti.
O setor leiteiro quer que o governo federal tome medidas mais contundentes contra a importação de leite de países do Mercosul. Segundo ele, o volume que está entrando no Brasil equivale a cerca de 12% da produção nacional.
De acordo com a plataforma ComexStat, do governo federal, as importações de leite e produtos lácteos alcançaram 159,4 mil toneladas de janeiro a agosto deste ano, mais que o dobro das 64,4 mil toneladas adquiridas no mesmo período de 2022.
Entre março e setembro, o preço costuma reagir por causa do inverno no Sul e da estiagem no Centro-Oeste e Sudeste, explica Zanetti. No entanto, esse movimento não ocorreu este ano devido à entrada de leite estrangeiro.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) estima que o litro de leite captado em julho, sendo o último dado disponível, foi negociado a R$ 2,1883 no Rio Grande do Sul, uma queda de 20% em relação à média de março. Fazendo a mesma comparação em 2022, o produto havia subido mais de 50%, para R$ 3,40 por litro.
Agora, as pastagens começam a aumentar com o período de chuvas e o verão diminui o consumo do produto, cenário que deve pressionar ainda mais as cotações internas.
“A situação é desesperadora. Recebemos notícias de produtores que estão recebendo R$ 1,04 por litro, longe do custo de produção, que está acima de R$ 2,20”, afirma o vice-presidente da Fetag-RS.
A federação gaúcha está em contato com os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. O setor espera que os representantes do governo levem boas notícias ao estado, quando uma comitiva de ministros deve anunciar medidas de ajuda para as pessoas atingidas pelas cheias do rio Taquari.
“Se não vierem medidas contundentes para socorrer o produtor, seja um subsídio ou barras as importações, vamos intensificar as mobilizações. Estamos em contato com outras federações para começar um movimento a nível nacional”, avisa.
PREÇO DO LEITE
Segundo os dados do Cepea, o preço do leite pago ao produtor teve queda nos últimos tempos, segundo a pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, essa baixa está ligada, de acordo com ela, às importações aquecidas, demanda interna enfraquecida e queda nos custos de produção.
O pagamento realizado neste último mês de agosto, referente à captação do produto em julho, segundo a “Média Brasil” líquida, teve valor médio de R$ 2,42 por litro. Isso significa recuo de 5,69% em relação ao pagamento anterior, e baixa de 35% no comparativo com a mesma época no ano passado.
A especialista lembra que em 2022, houve uma queda na captação de leite no país na ordem de 5%, o que culminou em altas expressivas vistas em meados do ano passado.
Esta situação atípica explicada por Natália, de um início de ano com uma safra de leite com baixa captação e preços ao produtor subindo, e agora, uma entressafra com queda nos valores, reflete este cenário visto em 2022. Isso porque, com a diminuição na captação, o movimento de importação de leite veio em uma crescente, e a demanda interna não se recuperou.
“É uma situação em que fica difícil que o produtor veja uma perspectiva de investimento para melhorar a captação no Brasil, já que o setor está tendo movimentos incertos e imprevisíveis. Há a necessidade de implantação de medidas estruturais, que devem passar desde o setor produtivo até o consumidor para que o mercado de leite brasileiro possa ser mais competitivo”, afirmou.