
As duas partes em que a Coreia ainda está dividida anunciaram na segunda-feira (13) que os líderes do norte, Kim Jong Un, e do sul, Moon Jae-in, irão se reunir novamente em setembro, desta vez em Pyongyang, para avançar rumo à reconciliação, paz definitiva, desnuclearização e reunificação. Será o terceiro encontro deles em um ano, e os dois anteriores impulsionaram a reconciliação e abriram caminho para a cúpula Kim-Trump. A data exata ainda não foi revelada.
Nas últimas semanas vieram a público manobras nos EUA para sabotar as deliberações da cúpula Kim-Trump, por meio da intensificação das sanções e de ultimatos sobre desnuclearização em “6-8 meses”. A última viagem do secretário de Estado Mike Pompeo não eliminou o impasse, e inclusive Pyongyang denunciou seu “comportamento mafioso” e contrário ao desenvolvimento da confiança mútua. Ao se manifestar sobre essas questões, o norte tem buscado preservar Trump.
O anúncio da nova cúpula intercoreana foi feito em reunião de alto nível em Panmunjon, com delegações encabeçadas respectivamente pelo presidente do comitê do norte pela reunificação, Ri Son Gwon, e pelo seu homólogo do sul, o ministro Cho Myoung-gyon. “Se as questões que foram levantadas nas negociações não forem resolvidas, problemas inesperados podem surgir e os problemas que já estão no cronograma podem enfrentar dificuldades”, alertou Ri. Outras reuniões intercoreanas têm pautado discussões sobre os rumos da reconciliação, inclusive em nível de altos mandos militares.
ASSINATURA DA PAZ
A Coreia Popular tem salientado que o próximo passo imprescindível a uma solução duradoura na península coreana é a assinatura da paz, enfim e oficialmente, para pôr fim à guerra cujo armistício dura até hoje. Na semana passada, o embaixador dos EUA no sul (e ex-almirante-chefe do Pacífico) Harry Harris, disse que é “demasiado prematuro” abordar essa questão “apesar da melhora das relações entre as duas Coreias, assim como entre a Coreia do Norte e os EUA”. Isso, para um armistício – e portanto, estado de guerra – existente há 65 anos.
Na semana passada, o site norte-americano VOX afirmou que Pompeo foi a Pyongyang com a exigência de que o norte entregasse aos EUA ou a um terceiro país 70% do seu arsenal nuclear em 6-8 meses, em paralelo com a intensificação de sanções, o que teria desencadeado as reações de repúdio manifestadas por Pyongyang.
No dia 6, durante o fórum regional da ASEAN (bloco de países do sudeste asiático) em Cingapura, o chanceler da Coreia Popular, Ri Yong Ho, se referiu ao impasse, declarando que “acreditamos que o método que envolve a implementação equilibrada, simultânea e passo a passo de todos os termos da Declaração conjunta [Kim-Trump], precedida pelo estabelecimento da confiança, é o único meio realista de alcançar o sucesso”.
Ri reafirmou a “resolução e compromisso inabalável da República Popular Democrática da Coreia com a implementação responsável e de boa fé da Declaração Conjunta” de Cingapura e também a “inaceitabilidade de uma situação na qual nós sozinhos sejamos os primeiros a agir unilateralmente”. Em síntese, nada de desarmamento unilateral, mas compromissos passo a passo, até uma solução definitiva.
O chanceler norte-coreano acrescentou que, longe de responder em espécie “às medidas de boa-fé que tomamos a iniciativa de adotar, incluindo interrupção dos testes nucleares e do lançamento de foguetes e o desmantelamento de nosso local de testes nucleares”, os EUA só aumentaram sua insistência em manter sanções e tem retrocedido “mesmo na questão de uma declaração encerrando a guerra, que é a mais rudimentar de medidas rudimentares para garantir a paz na península coreana”.
Para Ri, o mais preocupante “é expressão continuada de tentativas nos EUA de retornar aos velhos costumes, apesar das intenções da liderança” [isto é, Trump]. Ele conclamou a que a Declaração conjunta Kim-Trump não seja transformada “em peão da política interna dos EUA”. Trump recentemente agradeceu a Kim à entrega das caixas com os restos mortais de 55 soldados norte-americanos caídos na guerra.