O ex-governador de São Paulo e candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, depôs na sede do Ministério Público paulista na tarde da quarta-feira (15) sobre a ação em que é investigado por receber dinheiro irregular nas campanhas de 2010 e 2014.
Três executivos da Odebrecht revelaram que a empreiteira pagou R$ 10,3 milhões não declarados às campanhas de Alckmin.
Benedito Júnior, responsável pelo departamento de operações estruturadas da Odebrecht (o departamento de propina da empreiteira), informou em depoimento que foram “R$ 10 milhões em caixa dois pelo sistema de operações estruturado na Odebrecht”.
O depoimento de Carlos Armando Guedes Paschoal (diretor-superintendente da Odebrecht em São Paulo) confirmou o de Benedicto Barbosa Júnior, pois foi Paschoal quem entregou os R$ 2 milhões, em 2010, ao cunhado de Alckmin, Adhemar César Ribeiro. Paschoal relatou que foi, com Aluízio Araújo – membro do conselho da Odebrecht, já falecido -, a uma reunião com Alckmin, em um escritório na Avenida 9 de Julho, São Paulo. Disse Paschoal:
“Na minha presença, foram faladas apenas banalidades, e com isso percebi que o tema já estava acertado entre os dois [Alckmin e Araújo]. Encerrando o encontro, Geraldo Alckmin determinou pessoalmente à sua secretária que me passasse os dados de contato de Adhemar Ribeiro, seu cunhado, o qual seria incumbido dos recebimentos. Os pagamentos foram realizados com recursos de caixa 2 e foram acertados com Adhemar Ribeiro, que definia os locais de entregas dos recebimentos. (…) Meus encontros com Adhemar ocorreram no período entre julho e outubro de 2010”.
Na campanha de 2014, quando Alckmin se reelegeu, a campanha tinha recebido R$ 8,3 milhões, segundo os executivos da empreiteira. O nome de Alckmin ainda aparece no depoimento de Arnaldo Cumplido de Souza, outro executivo da empreiteira.
No depoimento de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o “B.J.”, ele explica porque a empreiteira se interessou por Alckmin e porquê passou indevidamente o dinheiro ao tucano.
Segundo ele, o dinheiro irregular foi pago a Alcmin porque o tucano é um candidato “incentivador das parcerias público-privadas, com objetivo de promover investimentos na área de infraestrutura, o que era de interesse da companhia. Nosso objetivo com doações ao candidato Geraldo Alckmin era manter a companhia bem posicionada em termos de relacionamento, comparativamente com as duas outras estrelas do PSDB – Aécio Neves e José Serra. Também objetivávamos manutenção regular e o andamento normal dos contratos em execução no Estado de São Paulo”.
Mais adiante, ao se referir especificamente à campanha de 2014, o executivo da Odebrecht explicita o mesmo objetivo:
“O propósito da aprovação desta doação era a proeminência de Geraldo Alckmin no cenário nacional, a sua liderança e de seu partido no Estado de São Paulo. Também era garantir interlocução qualificada na discussão dos projetos vislumbrados como participação na nova rodada de concessão rodoviária no Estado, novas participações em projetos com parceria da Sabesp e potenciais novas concessões de trens regionais. Em todos estes segmentos no ano 2015 [ou seja, depois das eleições] tivemos oportunidade de discutir antecipadamente com o governo estes projetos, modelos de contratação, fontes de financiamento etc.”
E acrescenta o motivo inicial da preferência da Odebrecht pelo candidato tucano:
“Na gestão de Mario Covas, o então vice-governador Geraldo Alckmin foi nomeado presidente do Programa Estadual de Desestatização (PED), que previa a privatização de importantes estatais e concessão de trechos de rodovias e ferrovias à iniciativa privada, o que atendia os interesses econômicos da companhia”.
O pedido para investigar o ex-governador tucano foi feito pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), porque Alckmin tinha foro privilegiado. Como Alckmin decidiu deixar o cargo para se candidatar a presidente, ele perdeu o foro privilegiado e seu processo foi remetido para a Justiça Eleitoral de São Paulo por pedido da Procuradoria Geral da República (PGR).