Pedido foi feito por mensagens de áudio no celular
Surgiram novidades sobre a relação espúria entre a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) e o chamado hacker de Araraquara, Walter Delgatti Neto.
A defesa dele, que está preso desde 2 agosto deste ano, revelou, nesta segunda-feira (23), que Zambelli pediu, por meio de mensagens de áudio, para que ele descobrisse o endereço do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, em Brasília, no ano passado.
A informação foi dada pela jornalista Andréia Sadi, da Globonews.
Delgatti afirmou à CPMI do Golpe, no Congresso Nacional, encerrada na semana passada, que foi acionado por Zambelli para tentar invadir o sistema da Justiça e as urnas eletrônicas durante as eleições de 2022.
Os áudios indicariam, segundo o advogado Ariovaldo Moreira, que ela tentaria também descobrir o endereço do ministro Alexandre de Moraes que também é presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
DIÁLOGOS
“Ô Walter, não aparece nenhum endereço de Brasília, né? Precisava do endereço daqui de Brasília”, diz a voz de Zambelli, em áudio publicado pela jornalista Andréia Sadi.
Conversa de Zambelli com hacker:
“Não, não pode ser, porque quadra é prédio, e ele deve morar numa casa no Lago Sul, alguma coisa assim. Deve ser coisa do STF. Isso provavelmente deve estar nos arquivos do STF como casa… casa tipo… funcional, entendeu?”, fala a parlamentar em outro áudio.
A defesa de Delgatti pretende entregar os áudios, encaminhados dia 26 de novembro de 2022, à PF (Polícia Federal), que já investiga a relação entre o hacker e a deputada.
REDES SOCIAIS E SITE
Ela alega que o contratou apenas para cuidar das redes sociais e do site dela, e nega que tenha pedido para ele cometer qualquer irregularidade.
Mais conversa:
Walter Delgatti está preso por ter invadido o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que gerou a expedição de falsa ordem de prisão contra Alexandre de Moraes, assinada pelo próprio ministro, em 4 de janeiro de 2023.
O mandado teria sido escrito por Zambelli, de acordo com o hacker.
DEPUTADA NEGA ACUSAÇÕES
Em nota assinada pelo advogado Daniel Leon Bialski, a defesa da deputada Carla Zambelli nega as acusações feitas por Delgatti.
“Ressalte-se que ela desconhece o contexto dessa conversa divulgada, nem para quem e de quem se referia. Igualmente, nem se sabe como obtidas. Recorde-se ainda que o senhor Walter Delgatti, além de criminoso condenado, é um meliante contumaz, conhecido por invadir a privacidade das pessoas e manipular dados digitais. Dessa forma, além de inválidos, a gravação e demais elementos apresentados são inidôneos e ilícitos, sob qualquer ótica”, está escrito na nota.
MARCOS DO VAL
O ministro Alexandre de Moraes, por suas decisões contra as milícias digitais bolsonaristas e outras ações contra os golpistas, sempre foi alvo de Bolsonaro e seus aliados.
O senador bolsonarista Marcos do Val (Podemos-ES) disse em vídeo, no mês de fevereiro, divulgado em suas redes sociais, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a participar de um golpe de Estado.
O senador do Espírito Santo contou um diálogo que teve a participação do então presidente Jair Bolsonaro (PL), logo após as eleições de outubro, em que o então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) propôs uma ação golpista.
“Eles me disseram: ‘Nós colocaríamos uma escuta em você e teria uma equipe para dar suporte, e você vai ter uma audiência com Alexandre de Moraes, e você conduz a conversa pra dizer que ele está ultrapassando as linhas da Constituição. E a gente impede o Lula de assumir, e Alexandre será preso’”, disse o senador.
Depois Marcos do Val recuou e mudou sua versão, aliás criou várias versões.
Em maio, a Polícia Federal descobriu no celular apreendido de Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, conversas dele com outros auxiliares em que ficam evidentes tramas para dar um golpe de Estado e prender Alexandre de Moraes.
Após quebras de sigilo telemático, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o ex-major do Exército, Ailton Barros, foram flagrados conversando sobre as tentativas de golpe.
De acordo com a Polícia Federal, as conversas “deixam evidente a articulação conduzida por Ailton Barros e outros militares, para materializar o plano de tentativa de golpe de Estado no Brasil, em decorrência da não aceitação do resultado da eleição presidencial ocorrida em 2022, visando manter no Poder o ex-Presidente da República Jair Bolsonaro e restringir o exercício do Poder Judiciário brasileiro, por meio da prisão do Ministro Alexandre de Moraes, do STF”.