Bolsonaro fez elogios a milicianos. Seu filho Flávio fez homenagens a milicianos na Alerj. Ronie Lessa, assassino de Marielle Franco, morava no mesmo condomínio de Bolsonaro.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que nunca homenageou miliciano e que não é “vizinho de miliciano” durante a audiência realizada nesta quarta-feira (25) na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.
A fala se deu em resposta a um deputado bolsonarista que insinuou em sua pergunta haver ligações do ministro com o crime organizado.
“Eu nunca homenageei miliciano. Não sou amigo de miliciano. Não sou vizinho de miliciano. Não empreguei no meu gabinete filho ou esposa de miliciano. Portanto, não tenho nenhuma relação com o crime organizado no Rio”, disse Flávio Dino.
Flávio Dino começou sua resposta dizendo que o crime organizado no Rio vem de décadas e que “um dos maiores erros políticos que houve no Rio de Janeiro foi o incentivo às milícias”. “As milícias foram incentivadas por políticos e protegidos por políticos”, ressaltou.
O estímulo às milícias e esquadrões da morte por Bolsonaro, seus filhos e entorno é notório.
Segundo reportagem do Intercept, em 2003 Jair Bolsonaro defendeu grupos de extermínio. “Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas”, afirmou na época.
Seu promogênito, Flávio Bolsonaro, atualmente senador, em discurso feito na tribuna da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em 2007, defendeu as milícias.
Ele se referiu-se às milícias como um “novo tipo de policiamento”. “(…) A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”, afirmou quando era deputado estadual.
Além de defender os grupos de extorsão, Flávio ainda disse não achar justa a suposta “perseguição” por parte de políticos e entidades “ligadas aos direitos humanos” aos milicianos.
Em reportagem de janeiro de 2019, o jornal O Globo já revelava as ligações estreitas entre o gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Alerj e um dos envolvidos na milícia de Rio das Pedras que naquela ocasião estava foragido da polícia, Adriano Magalhães da Nóbrega, alvo da Operação “Os Intocáveis”, desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil.
As ligações de Flávio Bolsonaro com os milicianos eram muito estreitas, tanto que ele homenageou Adriano em 2003 na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Segundo a Alerj, a homenagem de Flávio a Adriano da Nóbrega foi por este desenvolver sua função com “dedicação, brilhantismo e galhardia”.
A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães Nóbrega, e a ex-mulher dele, Danielle da Nóbrega, eram funcionárias, pelo menos formalmente, do gabinete de Flávio.
No ano seguinte, Ronald Paulo Alves Pereira, apontado como chefe da milícia Muzema, recebeu a mesma comenda das mãos de Flávio Bolsonaro.
Destaque-se que o assessor de Flávio, que operava o esquema de rachadinha de seu gabinete, Fabrício Queiroz, mantinha relações próximas com milicianos.
A propósito, Bolsonaro tem residência no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde morava o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, autor dos disparos que tiraram a vida da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes.
NIKOLAS
O ministro também não deixou sem resposta as provocações do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) que afirmou que Dino “não faz nada contra o crime organizado”.
“Bem… Depois de uma viagem à realidade paralela, eu faço um convite à realidade. O senhor me chamou de leviano, mentiroso, de outros termos, que sou aliado de facção…”, começou Dino sua resposta.
“Em relação à perquirição do deputado, ele diz que não combate ao crime organizado e usa números que não sei de onde ele tirou, deve ser de uma realidade inexistente”, disse o ministro que mostrou com números oficiais a falácia de Nikolas, mostrando queda no número de crimes no país.
“É mentira que eu entrei no complexo da Maré (RJ) sem segurança. É inverídico, é falso”, rebateu o ministro. “Havia dezenas de policiais presentes, da Polícia Federal, da PM do Rio de Janeiro, todas as forças que foram avisadas”, prosseguiu desmentindo Nikolas.
Em certo momento, a insuspeita presidente da comissão, a bolsonarista Bia Kicis (PL-DF), exaltou-se com os deputados da oposição que insistiam em agredir verbalmente o ministro e promover baderna na comissão: “está muito claro aqui, que estão provocando a saída do ministro”. “Eu peço aos deputados da oposição que não batam-boca, que não respondam, que fiquem em silêncio. Eu estou pedindo silêncio”, afirmou.