O ministro falava sobre sonegações e queda de arrecadação. Disse que isso prejudica as metas do governo. Cobrado sobre o nome da empresa sonegadora, ele respondeu que todos sabiam e saiu repentinamente. Lula afirmou na semana passada que não pretende fazer cortes em investimentos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se irritou nesta segunda-feira (30) e evitou falar se está mantida a meta fiscal de déficit zero em 2024. Ele disse, em entrevista a jornalistas depois do presidente Lula sinalizar que o governo não pretende se fixar na meta de déficit zero.
Lula deu a declaração sobre não atingir a meta de déficit zero nesta sexta-feira (27) durante café da manhã, no Palácio do Planalto, com jornalistas que participam da cobertura diária da Presidência da República. Ele reconheceu o esforço, mas afirmou que o mercado “muitas vezes” é “ganancioso” quando o assunto é a política fiscal.
“A gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para esse país. Então eu acho que muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que eles sabem que não vai ser cumprida”, argumentou o presidente.
Na entrevista desta segunda, Fernando Haddad tentou minimizar a fala de Lula e garantiu que não há descompromisso do governo com as contas públicas e que o chefe do Executivo está preocupado com os “ralos” tributários que diminuem a arrecadação federal.
“Não há, da parte do presidente, nenhum descompromisso, muito pelo contrário. Se ele não estivesse preocupado com a situação fiscal, ele não estaria pedindo apoio da área econômica para orientação dos líderes do Congresso”, declarou Haddad.
Por outro lado, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, afirmou que o presidente da República tem, na verdade, como principal meta o crescimento do país e a criação de empregos. Ela disse que “a meta de Lula é crescimento e emprego fortes”. “Não precisamos zerar o déficit”, afirmou a deputada. “Não há necessidade de fazermos isso em um quadro que precisamos estimular o crescimento econômico”, acrescentou.
A declaração da presidente do PT mostrou-se em total sintonia com as preocupações de Lula de que o país tem que voltar a crescer rapidamente. “Eu não quero fazer corte de investimentos de obras. Se o Brasil tiver um déficit de 0,5%, o que que é? De 0,25%. o que é? Nada. Absolutamente nada. Vamos tomar a decisão correta e vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil”, disse Lula na entrevista.
O próprio “mercado” – leia-se, as instituições financeiras – foi mais realista do que o ministro e projetou um déficit de 0,8% do PIB na contas públicas para 2024.
Lula, com sua sensibilidade política, percebeu que o país não poderia permanecer mais tempo em estagnação econômica para cumprir esta meta de zerar o déficit e deixou claro que suas prioridades serão os investimentos públicos e a luta pela redução dos juros.
Na entrevista de hoje, Haddad insistiu em falar da meta zerada para o ano que vem e colocou a culpa pelas dificuldades na redução da arrecadação tributária. “Eu, enquanto ministro da Fazenda, vou buscar o equilíbrio fiscal”, disse ele. Haddad declarou também, que essa é uma “obrigação” e “crença” e que tem compromisso com o que chamou de “minha meta”, que é de “equilibrar as contas públicas”.
Ele reclamou das medidas que estão resultando em queda da arrecadação de impostos. “Uma empresa de cigarro se credenciou a um crédito de PIS/Cofins de R$ 4,8 bilhões. Eu estou falando de uma empresa que vende cigarro. O consumidor pagou o PIS/Cofins que estava no preço do cigarro. A empresa recolheu para a Receita Federal e a Justiça está mandando devolver esse tributo não para o consumidor, mas para a empresa”, disse.
Foi neste momento que ele se irritou com a jornalista que perguntou o nome da empresa. Disse para uma repórter fazer o trabalho dela e deixou a sala de entrevista antes do final. Ele chamou os profissionais de imprensa de “meu querido” e “minha querida“ várias vezes.
“É público o nome da empresa. É só você ir no Judiciário que você vai ver lá. Querida, faz o seu trabalho. É público. Não é dado sigiloso da Receita Federal”, declarou. “Querida, é a 4ª vez que respondo, para o Ministério da Fazenda, nós vamos levar medidas para que os objetivos do governo sejam alcançados independentemente desses contratempos”, disse a outra jornalista antes de sair.