“Predomínio de quedas e de virtual estagnação no segundo semestre indicam um quadro nada favorável ao necessário ciclo de investimentos”
Ao analisar os números de setembro da produção Industrial, divulgados pelo IBGE na quarta-feira (1º), o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) afirma que a indústria brasileira, “muito exaurida pelas elevadas taxas de juros praticadas no país”, encontra-se num “quadro de estagnação em 2023”.
No mês de setembro, a produção industrial nacional ficou estagnada, ao variar em alta de apenas 0,1% frente a agosto (0,2%), já descontado as variações sazonais. O resultado foi acompanhado por quedas em três dos quatro ramos do setor e por 20 das 25 atividades industriais pesquisadas pelo IBGE. No acumulado deste ano até setembro, a produção industrial está em queda de -0,2% e, no acumulado em 12 meses, não registrou crescimento (0,0%). Frente a setembro de 2022, houve uma alta de 0,6%.
“Com dois terços do ano já cobertos pelas estatísticas do IBGE”, destacou o IEDI, “pode-se dizer que a trajetória da indústria em 2023 está dividida em dois momentos: um de maior oscilação no primeiro semestre, com predomínio das quedas, e outro de virtual estagnação no segundo semestre, pelo menos por ora”.
“O mês de setembro de 2023 foi ainda pior do que sugere a variação de +0,1% no agregado industrial”, considerou o instituto. “Sem forças, em muito exauridas pelas elevadas taxas de juros praticadas no país, e sem bases de comparação favoráveis, já que a morosidade não é de agora, os resultados trimestrais não deixam dúvida sobre o quadro de estagnação em 2023”, avaliou o IEDI.
Produção Industrial variações trimestrais
· Indústria geral: -0,4% no 1º trimestre/23; -0,1% no 2º trimestre/23 e 0% no 3º trimestre/23;
· Bens intermediários: -1,9%; +0,7% e +0,4%, respectivamente;
· Bens de capital: -5,8%; -11,0% e -14,1%;
· Bens de consumo duráveis: +9,0%; +2,6% e -1,1%;
· Bens de consumo semiduráveis e não duráveis: +3,4%; +0,1% e +2,1%, respectivamente.
Por categoria da indústria, o IEDI ressalta que “os destaques negativos cabem justamente àquela parcela da indústria cujos mercados demandam algum tipo de financiamento, seja das famílias seja das empresas, em condições adequadas de prazo e juros para se dinamizarem”.
BENS DE CAPITAL REGISTRA QUEDA DE 14,1%
O instituto chama atenção para a intensidade da queda da produção de bens de capital. “No 3º trimestre de 23, chegou a registrar -14,1%. Para se ter ideia da gravidade, é um patamar que se aproxima de momentos difíceis da pandemia de Covid-19 (-10% no 3º tri/20 e -38% no 2º tri/20)”, observou.
Além disso, “os bens de capital para energia (-29,3%), transporte (-25,4%) e construção (-19,2%), isto é, segmentos associados à infraestrutura, lideraram a queda do 3º trim/23, mas cabe notar a longa sequência de recuos dos bens de capital para a própria indústria (-6,2%), que já completa quase dois anos”, lembrou IEDI.
Por outro lado, a produção de Bens de consumo duráveis se destaca por ter apresentado “a mais grave involução ao longo do ano. A alta de +9,0% no 1º trimestre de 23 se reverteu em queda de -1,1% no 3º trimestre, puxada por eletrodomésticos da linha marrom (-4,4%) e outros eletrodomésticos (-1,5%), assim como por móveis (-7,1%)”, registrou o Instituto.
O IEDI também apontou que o programa de redução de impostos do governo federal como incentivo para melhorar as vendas de veículos (fracas pela baixa demanda de consumo no país) se demonstrou ineficaz para “dinamizar a produção industrial de veículos até o momento”.
“Na série com ajuste sazonal, há declínio não desprezível em julho (-6,8%) e setembro deste ano (-4,1%) no ramo de veículos, reboques e carrocerias, que acumulou retração de -12,1% no 3º tri/23 ante o 3º tri/22. Tomando apenas o segmento de automóveis para passageiros o resultado é de virtual estagnação: +0,4% ante o 3º tri/22”, também observou o Instituto.
No caso de Bens intermediários, o IEDI afirma que esse ramo industrial não escapou de “uma desaceleração: +0,7% no 2º trimestre e +0,4% no 3º trimestre de 2023. Em sua origem estão notadamente os intermediários da indústria automobilística, que saíram de uma retração de -1,4% no 2º trimestre para outra de -16,6% no 3º trimestre deste ano, somando-se ao quadro adverso de defensivos agrícolas (-29,1%)”, constatou.
De acordo com IEDI, “a exceção foram os Bens de consumo semi e não duráveis, que não só ampliaram a produção, como ganharam vigor do 2º tri/23 (+0,1%) para o 3º tri/23 (+2,1%). Contribuíram para isso o reforço do crescimento do setor de carnes (+8,2%) e de combustíveis (+10,1%), bem como a melhora no ramo de bebidas (+0,7% ante -5,1% no 2º tri/23)”.
Na avaliação do Instituto, “as exportações, o progresso no emprego, cada vez mais do ponto de vista qualitativo, como visto na análise da Pnad/IBGE, e o arrefecimento da inflação, ainda mais intensa no consumo de alimentos em domicílio, têm favorecido a produção industrial de Bens de consumo semi e não duráveis”, concluiu.