Foco da análise é o celular que o advogado usava para falar exclusivamente com o clã Bolsonaro, que é o mesmo que concentra as mensagens com Mauro Cid
Depois das quebras de sigilo fiscal, financeiro/bancário, telefônico e, principalmente, telemático eis o que a PF (Polícia Federal) descobriu entre os 4 telefones celulares do advogado Frederick Wassef.
Vários investigados pela corporação estão na lista telefônica do advogado, que ele mantinha conversas frequentes.
A PF descobriu que celulares apreendidos de Wassef mostram que o advogado mantinha interações frequentes com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o filho dele, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ambos eram clientes de Wassef. É o que revela a jornalista Bela Megale, na coluna dela deste sábado (4), em O Globo.
Os telefones também contêm conversas com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, e o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência e hoje integrante da equipe de defensores de Bolsonaro, Fábio Wajngarten.
ANÁLISE E PERÍCIA DOS APARELHOS
Segundo pessoas que tiveram acesso ao conteúdo dos telefones de Wassef, as conversas com Cid eram as menos frequentes e se limitaram a “questões de logística” e orientações sobre como recuperar o Rolex recomprado pelo advogado nos Estados Unidos.
Wassef admitiu que recomprou, por US$ 50 mil, o relógio vendido irregularmente por assessores de Jair Bolsonaro.
Como informou à coluna, a PF entregou no mês passado a ele HD com a cópia dos dados extraídos de seus 4 celulares apreendidos em agosto. A partir de agora, com o recebimento da cópia pelo investigado, a PF está liberada para iniciar a análise e perícia dos aparelhos.
O foco da análise é o telefone que o advogado usava para falar exclusivamente com o clã Bolsonaro, o mesmo que concentra as mensagens com Mauro Cid.
QUEM É FREDERICK WASSEF
O advogado criminalista Frederick Wassef, alvo de operação da PF, faz parte do círculo mais íntimo da família Bolsonaro. Ele defendeu o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e o filho mais velho, Flávio Bolsonaro, e escondeu o ex-assessor Fabrício Queiroz durante as investigações do esquema de “rachadinha” no gabinete do “01”, quando este era deputado estadual, na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
Conhecido como Fred, o advogado é considerado bolsonarista “raiz”. Crítico do que chama de “indústria dos radares”, defensor de “ações mais efetivas da polícia” no combate à violência, católico praticante e adversário da esquerda.
O primeiro contato entre o ex-presidente e Wassef foi em 2014. Wassef ganhou de presente smartphone quando estava internado para tratamento de câncer, clicou no ícone do YouTube e assistiu discurso do então deputado federal Jair Bolsonaro sobre controle de natalidade. No dia seguinte, Fred telefonou para o gabinete de Bolsonaro na Câmara. Depois de mais de 1 hora de conversa, marcaram encontro pessoal.
A atuação de Wassef ao lado do clã Bolsonaro ultrapassa a relação entre advogado e cliente. Em 2019, o senador Flávio Bolsonaro entrou na mira da PF suspeito de ter dentro do gabinete, quando era deputado pelo Rio, esquema de “rachadinha”.
O assessor responsável por movimentações atípicas em contas vinculadas ao parlamentar, Fabrício Queiroz, ficou meses foragido da Justiça escondido no sítio do advogado em Atibaia (SP).
COITEIRO DE CRIMINOSO
Em junho de 2020, Queiroz foi encontrado em uma casa de Wassef, no município de Atibaia (SP), quando foi preso pela PF. No dia seguinte, o advogado deixou o caso.
Além disso, Wassef costumava frequentar o Palácio do Alvorada quando Jair Bolsonaro era presidente. Em novembro de 2022, depois que o ex-presidente foi derrotado nas urnas, o criminalista apoiou os acampamentos feitos por apoiadores do ex-chefe do Executivo perto dos quartéis do Exército em todo o País.
“Gente, isso vai muito além do que simplesmente uma eleição ou um presidente. Isso é uma semente que nasceu, o nosso herói Jair Bolsonaro foi quem começou no Brasil o despertar de uma consciência coletiva política de amor ao Brasil, à pátria, à bandeira”, disse Wassef na ocasião.
Nas últimas eleições, o advogado se candidatou a deputado federal pelo PL em São Paulo. Ele obteve 3.628 votos e ficou como suplente. Ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Wassef declarou patrimônio de R$ 18 milhões, composto de vários imóveis no Brasil e no exterior
M. V.