O governo Trump decidiu voltar à carga contra os imigrantes, determinando aos juízes da imigração que acelerem as deportações. A partir de agora, os juízes só poderão adiar a expulsão do país se apresentarem “uma boa causa”, o que só ocorreria quando fosse dito existir possibilidade real de permanência no país solicitando asilo ou recebendo algum tipo de visto ou permissão de trabalho. Em suma, a ordem do secretário de Justiça de Trump, Jeff Sessions, é deportação sumária.
Naturalmente não se trata de xenofobia e racismo, como pensaria qualquer pessoa com mais de dois neurônios, mas, como se depreende das explicações do regime Trump, de um esforço concentrado do governo para “reduzir a acumulação de casos de deportação nos tribunais” que, afirma, dobraram na última década. (Quem sabe vão alegar que é a desburocratização das deportações …)
Lembrando que Obama foi recordista em deportações (2,7 milhões de pessoas), e considerando que o órgão da imigração responsável pela revisão dos casos (EOIR, na sigla em inglês) já aumentou o quadro de juízes em 82, para 351, desde que Trump tomou posse, e ainda pretende contratar mais 75, não resta dúvida de que a disposição é fazer de tudo para estabelecer um novo recorde no bota-fora.
A União Americana das Liberdades Civis (ACLU), a entidade que forçou Trump a parar de manter filhos de imigrante sob sequestro e separados dos pais, classificou a nova ordem de Sessions como “preocupante”. O advogado da entidade, Stephen Kang, denunciou que o sistema de imigração mais uma vez “se moveu na direção de restringir os direitos ao devido processo” das pessoas que estão sob procedimentos de deportação. E note-se que a imensa maioria dos imigrantes ilegais sequer fala inglês, não tem a menor noção de seus direitos e acesso mínimo a advogados. Como reiterou Kang, os imigrantes precisam de tempo para que possam obter advogados capazes de garantir e proteger seus direitos e que permitam que “sejam escutados com justiça”.
Para as autoridades do sistema de deportação em massa do governo Trump, “não tem lógica” que o número de casos em análise que se estendem de um ano a outro haja dobrado entre 2006 e 2015. Porta-voz de Sessions asseverou que “conceder extensão [do processo de deportação] sem tentar determinar se está justificado elide a lógica e a jurisprudência”. Resumindo, “só” deportaram 2,7 milhões nos últimos oito anos porque houve muita condescendência (aliás, com a conivência de W. Bush) e isso precisa ser corrigido: a “jurisprudência” é deportar – e logo.
Ao se completarem 60 dias desde que Trump suspendeu o aspecto mais insustentável de sua política de tolerância zero com os imigrantes, 565 menores – tendo 24 deles menos de cinco anos de idade – permanecem sob sequestro e separados de suas famílias, conforme informação prestada a uma corte federal da Califórnia. Também não se encerrou o limbo jurídico em que foram jogados os filhos de imigrantes que chegaram ainda crianças e acreditaram nas garantias de cidadania feitas por Obama (programa Daca/Dreamers). E não tem data para acabar a caça às bruxas às comunidades de imigrantes, tudo para ganhar votos de racistas nas eleições intermediárias de novembro, e justificar polpuda verba para alguém enricar construindo o muro de Trump.